Relator das ações contra os suspeitos de participação nos atos antidemocráticos do 8 de Janeiro, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), era um dos principais alvos dos golpistas, que planejavam prendê-lo e matá-lo, segundo detalhou em entrevista a O Globo publicada nesta quinta-feira (4). A Polícia Federal (PF) investigou três planos contra ele: o primeiro previa que as Forças Especiais prenderiam o ministro e o levariam para Goiânia; o segundo, que ele seria morto e corpo abandonado no caminho para Goiânia; no terceiro, o ministro seria enforcado na praça dos Três Poderes.
“Houve uma tentativa de planejamento. Inclusive, e há outro inquérito que investiga isso, com participação da Abin, que monitorava os meus passos para quando houvesse necessidade de realizar essa prisão. Tirando um exagero ou outro era algo que eu já esperava. Não poderia esperar de golpistas criminosos que não tivessem pretendendo algo nesse sentido”, afirmou na entrevista.
Em análise sobre o episódio do 8 de Janeiro, Moraes radiografou o que, para ele, levou à depredação dos prédios públicos e também à tentativa de golpe. No período que antecedeu o 8 de Janeiro, o ministro citou a influência das redes sociais para proliferação de informações para as pessoas se organizarem e planejarem os ataques. Moraes criticou ainda a permanência dos acampamentos em frente aos quartéis do Exército mesmo após os atentados em Brasília, em dezembro de 2022. Sobre as invasões no 8 de Janeiro, o ministro do STF criticou a ‘inação da Polícia Militar’. “Fui secretário de Segurança Pública em São Paulo e ministro da Justiça. Afirmo sem medo de errar: não precisaria de cem homens do Batalhão de Choque para dispersar aquilo”, pontuou.
Ele também não se esquivou de responder sobre as críticas direcionadas ao Supremo Tribunal Federal em relação às penas distribuídas aos condenados do 8 de Janeiro, que receberam sentenças de até 17 anos de prisão. “Quem faz a pena não é o Supremo Tribunal Federal, é o legislador. O Congresso aprovou uma legislação substituindo a Lei de Segurança Nacional exatamente para impedir qualquer tentativa de golpe. Se as penas máximas fossem aplicadas em todos os cinco crimes, pegariam mais de 50 anos, mas pegaram 17 (no máximo). Se não quisessem ser condenados, não praticassem nenhum crime”, rebateu.