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MPF investiga governador de Roraima, que disse que Yanomami é ‘bicho’

Governador bolsonarista Antonio Denarium disse que indígenas ‘têm que se aculturar e não podem mais ficar no meio da mata’

Antonio Denarium será investigado por crime de racismo contra indígenas Yanomami

O Ministério Público Federal em Roraima (MPF-RR) vai investigar o governador reeleito do estado, o bolsonarista Antonio Denarium (PP), por uma declaração em que disse que os indígenas Yanomami indígenas “têm que se aculturar e não podem mais ficar no meio da mata, parecendo bicho”. A fala foi veiculada em uma entrevista concedida à Folha de S. Paulo.

De acordo com o Procurador da República, Alisson Marugal, que assina a representação contra Denarium, as falas “além de ofender a imagem coletiva dos Yanomami, rotulando-os como ‘bichos’, expressa opinião depreciativa que implica, ao que parece, a conclusão de que os povos indígenas não podem viver seu modo de vida tradicional”.

Indígenas Yanomami, que vivem em uma terra demarcada na porção Norte do estado, vêm sofrendo uma situação de crise humanitária, provocada pelo avanço do garimpo ilegal sobre a região. O governo federal declarou situação de emergência sanitária após a divulgação de imagens que mostrar indígenas crianças, adultos e idosos em situação de desnutrição. Eles também convivem com doenças evitáveis, como diarreia e a malária.

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Segundo informações do Ministério dos Povos Indígenas, nos últimos quatro anos, 570 indígenas Yanomami morreram de causas evitáveis na região. Somente no ano passado, 99 crianças morreram também em consequência da fome, da desnutrição e da malária.

Para o MPF, a declaração pode ser enquadrada como crime de racismo, que prevê pena de reclusão de três a cinco anos.

“Portanto, a princípio estão ultrapassadas as três etapas indispensáveis para caracterização de racismo: a de caráter cognitivo, em que atestada a desigualdade entre os Yanomami e a sociedade envolvente; outra de viés valorativo, em que se assenta suposta superioridade do modo de vida ocidental; e, por fim, uma terceira, em que o Governador supõe legítima a supressão ou redução de direitos fundamentais do Povo Yanomami, consistente na supressão do direito de viver seu modo de vida tradicional”, diz trecho da representação assinada por Marugal.

Após a repercussão da declaração, a Secretaria de Comunicação do Governo de Roraima disse que as falas do governador Antonio Denarium foram “tiradas de contexto” na matéria divulgada pela Folha de S. Paulo. Ainda de acordo com a nota, ele não fez qualquer citação discriminatória e que deseja a melhoria de vida das pessoas, indígenas ou não.

Editor de política. Foi repórter no jornal O Tempo e no Portal R7 e atuou no Governo de Minas. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem MBA em Jornalismo de Dados pelo IDP.