A pouco mais de seis meses do primeiro turno da disputa para a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), pré-candidatos e seus interlocutores começam a intensificar as articulações para formalizar alianças com outros partidos e montar palanques com fortes cabos eleitorais. O entorno do prefeito Fuad Noman (PSD), que oficializou o desejo de tentar a reeleição, por exemplo, aposta na boa relação com o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para atrair legendas. Estão na mira, por exemplo, Republicanos e União Brasil. O deputado estadual Bruno Engler (PL), por sua vez, obteve o apoio do PP e deposita fichas no capital político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
No PT, o deputado federal Rogério Correia tem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como aliado. Ele diz, inclusive, ter recebido de Lula a orientação de conversar com cidadãos de BH e colher demandas populares.
Há, ainda, pré-candidatos como a secretária de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais, Luísa Barreto. O Novo, que a abriga desde o ano passado, acredita ser possível utilizar o governador Romeu Zema como chamariz da campanha de Luísa. O senador Carlos Viana (Podemos), a deputada federal Duda Salabert (PDT) e o ex-vice-governador mineiro Paulo Brant (PSB) são outros dos pré-candidatos postos.
Desde que Fuad Noman anunciou a intenção de tentar renovar o mandato, em fevereiro, aliados do prefeito intensificaram as buscas por ampliar os apoios. No PSD, o movimento ganhou ainda mais tração na semana passada, quando indicados pelo secretário de Estado da Casa Civil de Minas Gerais, Marcelo Aro (PP),
Segundo apurou a Itatiaia, Pacheco é uma das apostas para convencer o Republicanos a se juntar à chapa de Fuad. A avaliação é que o bom relacionamento dele com lideranças da legenda ligada à Igreja Universal pode pesar a favor do prefeito. Já o acordo com o União Brasil
“Enquanto o prefeito Fuad continua trabalhando nas soluções para os problemas que Belo Horizonte enfrenta, nós, partidariamente, estamos trabalhando as articulações prévias para as eleições deste ano. Estamos fortalecendo essas articulações e conversando muito, especialmente com o União Brasil, que é um dos principais partidos do país hoje. Temos aberto diálogo, também, com o Republicanos, conversando com a federação PSDB-Cidadania e com o PSB, ainda que, respeitando, é óbvio, a pretensão do pré-candidato Paulo Brant”, diz, à reportagem, o deputado estadual Cássio Soares, presidente do PSD mineiro.
Posteriormente à declaração de Cássio, as relações entre o PSD e a federação liderada pelos tucanos estremeceram. O presidente da coalizão, o deputado federal Paulo Abi-Ackel, reclamou de um
Já União e Republicanos, embora sejam benquistos pelo grupo de Fuad, também são citados por aliados de outros pré-candidatos, como o presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo (MDB). Parte do grupo de vereadores que orbita em torno de Azevedo no Legislativo, aliás, se filiou recentemente ao Republicanos. Enquanto isso, o União Brasil abriga Anselmo José Domingos, novo secretário de Governo de Fuad e aliado de Pacheco.
Dez pré-candidatos já falaram publicamente sobre a intenção de disputar a prefeitura
União ao PT é assunto para depois
Embora o PT tenha candidato próprio à prefeitura, o PSD não descarta tentar o apoio, a Fuad, da federação liderada pelos petistas e composta também por PCdoB e PV. Neste momento, o entendimento de interlocutores do prefeito é que essa conversa tem de acontecer em um segundo momento, após a montagem de um arco de alianças ao centro do espectro político. Para depois deve ficar, também, as análises que vão culminar na definição do concorrente a vice.
“A escolha do vice-prefeito é muito séria, pela importância do cargo. Isso vai se dar em momento adequado, com a participação de todos os aliados, sentados à mesa”, projeta Cássio Soares.
A ideia de ter o PT na chapa de Fuad vai de encontro ao que aconteceu em 2022, quando o partido de Lula apoiou o pessedista Alexandre Kalil na disputa pelo governo. Filiado ao PSD e um dos porta-vozes do presidente da República, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira defende a formação de uma “frente progressista” do centro à esquerda em torno da reeleição do prefeito belo-horizontino, nos moldes da que elegeu Lula em 2022. Avante e Agir, duas legendas da ampla coalizão do petista no ano retrasado, aliás, podem seguir com o prefeito de BH.
Nas fileiras do PT, em que pese o fato de Lula ter defendido a formação de uma coalizão para impedir a vitória de um postulante bolsonarista, Rogério Correia diz que sua candidatura está forte.
A candidatura de Rogério está calcada, ainda, no fato de o PT indicar apoios a aliados de outros partidos no Rio de Janeiro (RJ) e em São Paulo (SP). Em terras cariocas, o partido deve caminhar ao lado do prefeito Eduardo Paes (PSD), pré-candidato à reeleição, enquanto em solo paulistano o partido indicou Marta Suplicy para ser vice na chapa do deputado federal Guilherme Boulos (Psol).
“Belo Horizonte é o epicentro dos estados em que vamos disputar. Então, ficou como prioridade. O PT nacional tem nos ajudado”, assinala Rogério.
Engler ainda mira o Novo, que cacifa aliada de Zema
No PL, Bruno Engler
O mais provável, neste momento, é que o posto de candidato a vice-prefeito não fique com o PL. Assim, entregar a tarefa de indicar o parceiro de chapa de Engler ao PP é opção aventada.
“Hoje, com PL e PP vamos ter um tempo significativo na televisão. Mas a gente continua dialogando com outros partidos da direita e da centro-direita, que a gente acredita que podem vir se somar ao nosso projeto”, explica Bruno Engler.
Em 2020, Engler concorreu pelo PRTB e não teve direito a tempo de propaganda na TV. Ele enfrentou, ainda, imbróglio na legenda a respeito do candidato a vice. Apesar disso, terminou na segunda colocação.
A dobradinha PL-Novo, que neste momento parece distante em BH, vai ocorrer em outras cidades de Minas, como Contagem, em que o deputado federal liberal Junio Amaral terá como vice o empresário Marcio Bernardino.
No ano retrasado, quando conseguiu mais quatro anos de mandato, Zema foi apoiado por uma coalizão formada por outros nove partidos. Frederico Papatella, presidente do Novo em BH, diz que a intenção da legenda é ter uma candidatura que unifique forças ao centro e à direita aos que defendem a economia liberal.
“Os partidos que têm apoiado o governador Zema podem, sim, caminhar conosco - ou nós caminharmos com eles”, projeta.
O dirigente avalia que este momento é propício ao surgimento de diversas pré-candidaturas.
“O momento para definirmos quem vai ser o melhor candidato ou o melhor vice da direita vai chegar. Agora, o grande papel de cada grupo - da direita, do centro e dos liberais - é dar visibilidade aos candidatos”, considera.
Gabriel no MDB e Brant no PSB
O MDB, que em 2020 apoiou o PSD de Kalil e, em 2022, seguiu com Zema e o Novo, agora deve apostar em Gabriel Azevedo. O presidente da Câmara Municipal se filiou ao partido no mês passado e, assim como aconteceu no Republicanos, as fileiras emedebistas
Na reta final da janela partidária, aliados do presidente da Câmara travaram, contra o grupo de Marcelo Aro, uma briga pelo comando do PRTB. No início da semana passada, a legenda passou ao comando de Guilherme Barcelos, o Papagaio, assessor do presidente de Gabriel. Depois, a direção nacional entregou a presidência a Wellington Aguilar, ligado a Aro. Em nova reviravolta, a Justiça Eleitoral deferiu liminar de Barcelos solicitando seu retorno à presidência do PRTB.
Depois de escapar de dois processos de cassação, Gabriel afirma que seus planos de concorrer à prefeitura estão sólidos. “Tenho dialogado frequentemente com o presidente (do MDB) Baleia Rossi. Ele tem me reportado sobre o quanto minha filiação serviu de onda para outras filiações em Minas e no Brasil”, aponta. “A eleição de BH é prioritária para o MDB de Minas. Não só a candidatura a prefeito, mas a chapa de vereadores”, completa.
O chefe do Legislativo belo-horizontino já nutria laços com lideranças do MDB antes mesmo de se filiar. Ele tem boa relação com a ministra do Planejamento, Simone Tebet.
O PSB, por sua vez, oficializou na semana passada a pré-candidatura de Paulo Brant,
O deputado estadual Noraldino Júnior, presidente do PSB mineiro, defendeu publicamente a presença do correligionário no pleito. “Nenhum incêndio começa grande. Começa com uma faísca. É o que estamos fazendo hoje: dando voz a um homem que todos conhecemos sua capacidade, integridade e experiência. A gente acredita que Brant pode ser a diferença que BH precisa”.
Para a disputa à Câmara Municipal, o PSB filiou Gilson Guimarães, que estava na Rede e é outro dos parlamentares próximos a Azevedo. Em que pese a pré-candidatura de Brant e as conversas de outros entornos de pré-candidatos para atrair os socialistas, o PSB também está na mira de outros partidos - é o caso, por exemplo, do MDB de Gabriel.
Congressistas podem entrar no páreo
Na bancada mineira no Congresso Nacional, há dois pré-candidatos à Prefeitura de BH: a deputada federal Duda Salabert, do PDT, e o senador Carlos Viana (Podemos).
Recentemente, Duda se encontrou com Alexandre Kalil para um almoço. Pessoas próximas à parlamentar acreditam que ela pode conseguir apoios de outros partidos.
“No cenário político, estamos conversando com diversos partidos do campo democrático tanto com articulações locais como nacionais, sobretudo em busca de ideias e colaboração para pensar uma BH melhor do que a que temos hoje”, projeta a pedetista.
Já Viana, que bateu o martelo sobre a permanência no podemos, foi outro a registrar, nas redes sociais, um encontro com Kalil, ainda que no ano passado. Aliados do senador dizem que, neste momento, a ideia é fortalecer as articulações internas para, posteriormente, dar foco às conversas com outros partidos.
Embate na Rede e deputada escolhida no Psol
Posicionada à esquerda está, ainda, a federação Psol e Rede. Nesse modelo, os partidos precisam andar lado a lado, como se fossem uma única sigla. Os pessolistas apresentaram a deputada estadual Bella Gonçalves como pré-candidata, enquanto a também parlamentar Ana Paula Siqueira, da Rede, teve aval da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, para começar a articular sua participação no pleito.
No meio do percurso, o ex-vice-prefeito Paulo Lamac (Rede) foi outro a apresentar uma candidatura. Agora, porém, ele atua como secretário de Assuntos Institucionais e Comunicação da gestão Fuad.
Em meio à profusão de nomes, a Rede enfrenta problemas internos. Isso porque a direção municipal do partido aprovou resolução que abre mão da possibilidade de ter candidatura própria ao prédio da Avenida Afonso Pena 1.212, entregando a tarefa ao Psol. Ana Paula, por seu turno,
“Foi tirada uma resolução interna de que a pessoa candidata da federação é a deputada Bella Gonçalves”, afirmou, a porta-voz da Rede em BH, Jeanine Vasconcelos, na semana passada.
“A pré-candidatura está posta e não será retirada. BH é uma cidade muito importante no Brasil. As decisões sobre nossa prefeitura não se dão só aqui na cidade. São debatidas em âmbito nacional, em uma série de análises”, contrapôs Ana Paula.
Na capital mineira, a federação Psol-Rede é presidida exatamente por Bella Gonçalves, uma vez que os pessolistas têm a maioria dos assentos diretivos. Segundo ela, dentro da coalizão, a relação é tranquila.
“Minha pré-candidatura segue firme, forte e crescendo. Temos realizado conversas e escutas em caravanas das periferias e feito debates programáticos, além de conversas com outros partidos sobre possibilidades de alianças, uma vez que uma unidade poderá alavancar as candidaturas progressistas para o segundo turno das eleições municipais - e para a vitória, inclusive”, assegura.