Ciro Dias Reis | Latinos são mais desconfiados do que europeus, americanos e japoneses

Pessoas com maior escolaridade tendem mais frequentemente a considerar insuspeitos os outros indivíduos, especialmente em países de alta renda

Latinos são mais desconfiados do que europeus, americanos e japoneses

A maioria das pessoas é confiável ou não? Essa pergunta foi feita a milhares de cidadãos de 25 países pelo Pew Research Center, respeitada instituição americana independente. O resultado da pesquisa acaba de ser divulgado.

Jordan Lippert e Jonathan Schulman, os dois responsáveis pelo trabalho, chegaram a conclusões interessantes em várias dimensões.

A primeira delas é que a confiança social – a noção de que a maioria das pessoas é confiável – está especialmente presente em nações mais ricas e é menos visível em nações de renda média, como o Brasil.

Outro ponto fundamental: a confiança social não diz respeito somente aos relacionamentos entre as pessoas, mas alcança também a percepção relativa as interações entre países. Desse modo, aquelas que acreditam ser confiável a maioria dos cidadãos são também as mais propensas a apoiar diversas políticas externas de cooperação e determinadas organizações internacionais (tais como a ONU, a União Europeia e a OTAN).

Indivíduos que acreditam não ser confiável a maioria dos habitantes apresentam menor apreço a políticas internacionais de cooperação.

Foram dezesseis os países de alta renda pesquisados pelo Pew Research: dez da Europa, além de Canadá, Japão, Coréia do Sul, Austrália, Israel e Estados Unidos. Neles, uma média de 59% dos adultos afirma que a maioria das pessoas é digna de crédito (os Estados Unidos ficam pouco abaixo da média, com 55%).

Em comparação, dizem a mesma coisa apenas 27% dos cidadãos que vivem em nove outras geografias de renda média (Indonésia, Índia, Nigéria, Argentina, África do Sul, Brasil, Quênia, México e Turquia). No Brasil, especificamente, o índice ficou abaixo da média do grupo: 22% na pesquisa deste ano, depois de 17% registrados em enquete de 2024.

Os números de outros latino-americanos pesquisados são os seguintes: na Argentina, 28% dos entrevistados dizem que é possível confiar na maioria das pessoas (eram 23% em 2024), enquanto no México apenas 18% têm a mesma visão (eram 17% no ano passado).

A Suécia é onde o índice se mostra mais alto entre todos os 25 países focalizados: 83% dos adultos disseram que a maior parte dos cidadãos é insuspeita, enquanto a Turquia se situa no extremo oposto: apenas 14% expressaram essa opinião. Logo atrás dos suecos aparecem a Holanda (79%), Canadá (73%), Alemanha (72%), Austrália (69%) e Japão (65%).

Segundo o Pew Research, não é apenas a localização e a cultura de uma nação que influenciam posicionamentos sobre o tema. Diferentes variáveis tais como idade, nível educacional, gênero, nível de renda e posição política dos entrevistados são também relevantes.

Pessoas com maior escolaridade tendem mais frequentemente a considerar insuspeitos os outros indivíduos, especialmente em países de alta renda. Na França, por exemplo, 61% dos adultos com níveis elevados de escolaridade afirmam que os perfis confiáveis predominam, enquanto apenas 35% dos indivíduos sem a mesma condição expressam opinião idêntica. No Brasil o quadro expressa alguma similaridade, mas em proporções bem menores: 25% e 18%, respectivamente.

Idade também é um fator importante. Em onze dos 25 países pesquisados, grande parte de alta renda, os mais velhos são mais confiantes do que os jovens. 80% dos australianos com 50 anos ou mais, por exemplo, dizem que a maioria das pessoas é digna de crédito – em comparação com o entendimento de 66% dos pesquisados entre 35 e 49 anos e 55% daqueles com 34 anos ou menos.

Os europeus estão divididos e os que menos demonstram confiar nos outros são os franceses (44%) e os italianos (43%).

Na região da Ásia-Pacífico, pelo menos metade dos entrevistados na Austrália, Japão, Coreia do Sul e Indonésia diz que a maioria das pessoas tem comportamento correto. A maioria dos entrevistados na Índia (60%) diz o contrário.

Em três países da África Subsaariana – Quênia, Nigéria e África do Sul – a grande maioria também afirma que não se pode confiar na maioria das pessoas.

Em apenas sete países pesquisados os homens são mais propensos do que as mulheres a dizer que a maioria das pessoas é insuspeita.

Europeus com posições à esquerda do espectro político demonstram maior grau de confiança em relação aos outros indivíduos do que o encontrado entre apoiadores de partidos populistas de direita.

Metade dos italianos de esquerda, por exemplo, diz que a maioria das pessoas é digna de crédito, enquanto essa visão é endossada por apenas um terço dos italianos de direita.

Na Alemanha os adultos com uma opinião desfavorável do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), considerado de linha neonazista, têm 33 pontos percentuais a mais de probabilidade de considerar confiável a maioria dos cidadãos, em comparação com simpatizantes daquela agremiação (76% e 43%).

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Ciro é atualmente board member da International Communications Consultancy Organization (ICCO) sediada em Londres; membro do Copenhaguen Institute for Futures Studies, na Dinamarca; membro do Crisis Communications Think Tank da Universidade da Georgia (EUA). Atua ainda como coordenador do PROI Latam Squad, grupo de agências de comunicação presente em sete países da América Latina.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.

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