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Inflação veio abaixo do esperado em setembro, e especialistas observam melhora

Mercado esperava uma aceleração maior no índice de preços, enquanto analistas observam que o núcleo do IPCA apresentou melhora

Inflação subiu em 0,48% em setembro, enquanto mercado esperava uma alta de 0,52%

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acelerou em 0,48% em setembro, mas veio abaixo do esperado. Analistas do mercado financeiro esperavam uma alta de 0,52%, uma vez que o preço da tarifa de energia teve um salto com a bandeira vermelha de número 2.

A energia elétrica tem um peso forte no índice de preços do grupo habitação, que acelerou em 2,97% no mês passado. Outros fatores que impactaram a inflação nesse setor foi o fim do bônus de Itaipu, que causava um alívio na conta de luz em agosto, e o reajuste tarifário em diversas capitais.

O economista sênior do banco Inter, André Valério, observa que apesar do resultado pressionar o índice cheio, acumulado em 5,17% nos últimos 12 meses, o resultado qualitativo do IPCA foi “amplamente positivo”. “A média dos núcleos desacelerou para 0,19%, menor valor desde março de 2024, levando o acumulado em 12 meses a recuar para 5,09%”, disse.

Os núcleos de inflação mencionados pelo especialista são uma forma de cálculo do IPCA que exclui itens mais voláteis, como alimentos e combustíveis, que sofrem influência de fatores externos que não são controláveis. A ideia é distinguir o que é uma alta transitória de um processo inflacionário persistente.

“Mesmo com energia elétrica pressionando o resultado do mês, a inflação de serviços recuou de 0,39% para 0,13%, menor valor desde junho de 2024. A inflação de serviços subjacentes e serviços intensivos em trabalho, ambas sensíveis à taxa de juros, também desaceleraram notadamente no mês, com a primeira variando 0,03%, menor valor desde setembro de 2024, e a última 0,35%”, explicou.

Impacto na taxa de juros

A inflação é o principal indicador da política monetária do Banco Central, que possui uma meta de 3% para o índice de preços. Com o IPCA longe do centro da meta, os diretores adotaram uma taxa básica de juros de 15% ao ano, um patamar considerado elevado para desacelerar a economia e o consumo.

Para Valério, a dinâmica inflacionária caminha para um final de ano mais “benigno”, com a expectativa de maiores efeitos da política monetária restritiva nos próximos meses. O mercado espera um corte de juros somente na primeira reunião de janeiro de 2026. “De todo modo, o resultado, apesar do qualitativo positivo, não deve alterar a condução da política monetária no curto prazo. O Copom ainda se mostra cauteloso com os ganhos na inflação e deverá optar por uma abordagem restritiva por mais tempo”, completou.

O economista Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos adotou a mesma leitura, e disse que a leitura considerada benigna ajuda a reduzir parte das preocupações com a inflação e dá espaço para a curva de juros recuar.

“Esse resultado mais leve acabou dando um respiro para a curva de juros futuros, que cedeu um pouco, e trouxe também um ânimo para a Bolsa, que reagiu positivamente logo após a divulgação. O ponto que mais chamou atenção foi o grupo de habitação, que segue pressionado, muito por conta da bandeira tarifária vermelha nas contas de energia. Isso ainda deve continuar pesando um pouco nos próximos meses”, explicou.

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Jornalista formado pela UFMG, Bruno Nogueira é repórter de Política, Economia e Negócios na Itatiaia. Antes, teve passagem pelas editorias de Política e Cidades do Estado de Minas, com contribuições para o caderno de literatura.