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Banco Central dos Estados Unidos deve fazer novo corte de juros nesta quarta (29)

Mercado espera que o Federal Reserve continue com o ciclo de corte de juros, mesmo em meio ao apagão de dados

Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, deve cortar os juros em 0,25 ponto percentual

O Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, deve promover um novo corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros, nesta quarta-feira (29). Caso seja confirmado, esse será o segundo corte desde que o presidente Donald Trump retornou para a Casa Branca.

A reunião dos diretores da autoridade monetária ocorre em meio a maior paralisação do governo desde a virada de 2018 para 2019, que durou 35 dias. O governo republicano está em ‘shutdown’ desde o primeiro dia de outubro, com o orçamento congelado para uma série de serviços, incluindo as pesquisas econômicas.

Sem dados concretos da macroeconomia, os diretores devem seguir a rota adotada na reunião de setembro, quando um corte de 0,25% levou o intervalo da taxa de juros para entre 4% e 4,25%. Ao mesmo tempo, os diretores do Fed estão pressionados por uma inflação acumulada de 2,7%, patamar considerado elevado para os padrões americanos - para se ter uma ideia, pouco antes da pandemia o índice de preços chegou em 0,5%.

Na teoria, a inflação alta deveria ser motivo para que os juros fossem mantidos em patamares maiores, restringindo o acesso ao crédito e limitando o consumo. Porém, o Fed continua ponderando a desaceleração do mercado de trabalho, precisando balancear o risco inflacionário com a necessidade de evitar uma alta no desemprego.

Segundo relatório do economista sênior do banco Inter, André Valério, as últimas declarações dos diretores do Fed mostram que a flexibilização da política monetária para apoiar o mercado de trabalho é uma decisão razoável.

“Portanto, o Fed continua antecipando que os impactos das tarifas sobre o mercado de trabalho serão intensos o suficiente para compensar o risco inflacionário. E a incerteza pela paralisação do governo contribui para essa visão”, disse.

O especialista ressalta que o mercado de trabalho já indicava alguma desaceleração antes da paralisação. Porém, o cenário não parece ser consistente com uma economia necessitada de apoio da política monetária. “O Fed planeja cortar mais uma vez em 2026, mas, a não ser que o mercado de trabalho continue enfraquecendo, talvez não haja espaço para esse corte”, disse.

Com a taxa básica de juros no Brasil, a Selic, em 15% ao ano, a decisão do Fed vai aumentar o intervalo entre a política monetária dos dois países. Essa diferença é um dos principais determinantes da taxa de câmbio, e quanto maior, menor é a pressão de depreciação, o que valoriza os ativos domésticos.

Por que os juros americanos importam no Brasil?

Com a taxa básica de juros no Brasil, a Selic, em 15% ao ano, a decisão do Fed vai aumentar o intervalo entre a política monetária dos dois países. Essa diferença é um dos principais determinantes da taxa de câmbio, e quanto maior, menor é a pressão de depreciação, o que valoriza os ativos domésticos.

Na prática, o mercado americano funciona como uma base para o restante do mundo, despejando e retirando dinheiro do mercado global. Quando os juros estão altos, os ativos em dólar se tornam mais atrativos e há uma migração de capital em direção aos Estados Unidos.

Quando a taxa de juros cai, a diferença com a taxa de países emergentes favorece os seus ativos. Nessa terça-feira (28), com a expectativa de corte do Fed, o dólar recuou em 0,23%, a R$ 5,36, o que reduz a pressão do câmbio sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação brasileira.

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Jornalista formado pela UFMG, Bruno Nogueira é repórter de Política, Economia e Negócios na Itatiaia. Antes, teve passagem pelas editorias de Política e Cidades do Estado de Minas, com contribuições para o caderno de literatura.