ONU pede ‘reforma dos métodos policiais’, e secretário se preocupa com mortes no Rio

Porta-voz de António Guterres disse que ele está ‘muito preocupado’ com o balanço da operação no Rio; ONU repudia atos

Moradores do Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, levam ao menos 50 corpos para a Praça São Lucas, após a megaoperação mais letal da história do Estado.

O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou demonstrou muita preocupação com o balanço da megaoperação policial contra o Comando Vermelho no Rio de Janeiro, anunciou o porta-voz dele nesta quarta-feira (29).

“Ele destaca que o uso da força em operações policiais deve estar em conformidade com as leis e os padrões internacionais de direitos humanos, e exorta as autoridades a realizarem uma investigação imediata”, disse Stephane Dujarric a jornalistas.

Nas redes sociais, a comissão de Direitos Humanos da ONU se manifestou e exigiu “reforma abrangente e eficaz dos métodos policiais”.

“As violações não podem ficar impunes. Processos adequados de responsabilização devem conduzir à verdade e à justiça para evitar mais impunidade e violência”, afirmou, no X.

No fim da tarde dessa terça-feira (28), a organização afirmou estar “horrorizada” com a operação e afirmou que ela “reforça a tendência de consequências letais extremas das operações policiais nas comunidades marginalizadas do Brasil”.

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Operação no RJ

Moradores do Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, levam ao menos 50 orpos para a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, no início da manhã desta quarta-feira

A Operação Contenção, a mais letal da história do Rio de Janeiro, teve início nessa terça-feira (28) e causou caos na cidade, interrompendo o tráfego em várias áreas e provocando o fechamento de escolas municipais e postos de saúde. Ela ocorreu nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio.

A capital enfrentou um cenário de guerra durante o confronto dos mais de 2,5 mil policiais e os integrantes do Comando Vermelho - facção que era alvo da polícia. Foram feitas barricadas por traficantes, trocas de tiros e até lançamento de granadas com drones.

O primeiro balanço apontava 64 mortos, entre eles quatro policiais. O segundo balanço, divulgado nesta quarta (29) pela Defensoria Pública, aponta 132 mortes. Posteriormente, a Polícia Civil do RJ divulgou que foram 119 mortos, sendo 115 traficantes e quatro policiais. Vários corpos foram encontrados em uma área de mata nesta manhã e continuam sendo resgatados por moradores das comunidades.

O primeiro balanço apontava 81 presos. Nesta quarta, a PCERJ divulgou que são 113 presos no total, sendo 33 de outros estados e 10 adolescentes. Também foram apreendidas 118 armas e 14 artefatos explosivos.

O número de mortos superou os bombardeios de Israel à Faixa de Gaza nessa terça-feira (28) e o massacre do Carandiru.

Mesmo com as atividades já normalizadas nesta quarta, escolas e postos de saúde continuaram fechados por medo dos moradores de uma possível retomada dos tiroteios.

Quatro moradores foram atingidos por balas perdidas, incluindo uma mulher baleada dentro de uma academia. Foram apreendidos quase 100 fuzis, além de uma grande quantidade de munições e granadas. Entre os mortos, estavam os policiais Marcus Vinícius Cardoso de Carvalho, de 51 anos; Rodrigo Velloso Cabral, de 34; Cleiton Serafim Gonçalves, de 42; e Heber Carvalho da Fonseca, de 39.

Formada pela PUC Minas, é repórter da editoria de Mundo na Itatiaia. Antes, passou pelo portal R7, da Record.

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