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Ex-ministro da Defesa comenta caos no Rio: ‘Presidente deveria ter declarado intervenção’

Apesar de defender repressão enérgica, Aldo Rebelo destacou a importância de elaboração de novas leis e realização de trabalhos de inteligência

Aldo Rebelo foi Ministro da Defesa no Governo Dilma, entre 2015 e 2016

Aldo Rebelo, ex-ministro da Defesa do Governo Dilma Rousseff, entre os anos de 2015 e 2016, comentou, durante Seminário de Comunicação e Jornalismo do Agro (SEJA), realizado pelo Sistema Faemg Senar, sobre o caos que vive o estado do Rio de Janeiro, dois dias após a megaoperação mais letal da história do país, realizada nos complexos de favelas do Alemão e da Penha.

À Itatiaia, Rebelo afirmou que o Governo Lula foi “negligente e leniente” em relação ao episódio. Para ele, era preciso ter sido declarada intervenção federal, liderada por um “general linha dura”.

“No primeiro momento dessa situação do Rio de Janeiro, era para o Presidente da República ter declarado intervenção na segurança pública, nomeado um general linha dura, de preferência, para enfrentar essa situação e juntar todos os recursos disponíveis das Forças Armadas, da Polícia Federal, da Força Nacional, da Polícia Militar do Rio de Janeiro, da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Se precisar de ajuda de outras instituições, o governo deveria recorrer a outras forças que se dispusessem a apoia. Mas o governo demorou. Há uma disputa política evidente sobre a narrativa desse episódio. O que se vê é que só há uma inocência nesse episódio todo, a inocência da população do Rio de Janeiro, que paga o preço pelo atraso das decisões políticas”, argumentou ele.

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Porém, para além da repressão armada, Aldo Rebelo afirmou que é preciso elaborar leis especiais para enfrentamento do crime organizado no país, além de usar serviços de inteligência para alcançar as lideranças das operações criminosas.

“Provavelmente, o comando dessa atividade esteja em condomínios de luxo, que não são alcançados por essa repressão policial. Não estou dizendo que aqueles criminosos que foram alcançados sejam inocentes, mas que o crime organizado tem muito mais facilidade de repor aquele tipo de mão de obra se o alto comando não for alcançado.

É preciso também o trabalho de inteligência, junto da Receita Federal, com o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), porque ninguém consegue mover bilhões de reais dessa atividade carregando esse dinheiro em mala ou em sacola de supermercado”, completou o ex-ministro.

Megaoperação contra o Comando Vermelho

A chamada ‘Operação Contenção’ tinha como objetivo enfraquecer o Comando Vermelho, a principal facção criminosa do Rio e a que mais se expandiu nos últimos anos, segundo as autoridades.

As forças de segurança invadiram os complexos de favelas do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio, considerados bases centrais do Comando Vermelho.

Recentemente, esta facção superou as milícias em extensão territorial, embora a hegemonia do crime organizado siga em disputa no Rio, segundo especialistas.

Mortos e presos

O governo do estado registrou até agora 121 mortos, embora a Defensoria Pública estadual tenha reportado 132 à AFP.

As autoridades do Rio informaram, ainda, a detenção de 113 pessoas. No total, foram apreendidos 91 fuzis.

Também foi apreendida “uma quantidade enorme de drogas”, disse o governador Cláudio Castro (PL) na terça-feira. No entanto, até o momento não foram informados nem a quantidade, nem o tipo de entorpecentes confiscados.

A operação mais letal do Rio e do Brasil

Esta operação policial foi a mais letal da história do Brasil, superando os 111 mortos do Carandiru, em 1992, quando as forças de segurança executaram detentos em um presídio.

No Rio, a segunda e a terceira operações mais letais ocorreram em 2021 e 2022, nas comunidades do Jacarezinho e da Vila Cruzeiro, que deixaram, respectivamente, 28 e 25 mortos.

Na época, Cláudio Castro também era o governador.

Fabiano Frade é jornalista na Itatiaia e integra a equipe de Agro. Na emissora cobre também as pautas de cidades, economia, comportamento, mobilidade urbana, dentre outros temas. Já passou por várias rádios, TV’s, além de agências de notícias e produtoras de conteúdo.
Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.