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‘Direito de matar?’, questiona Rachel Sheherazade sobre megaoperação no Rio de Janeiro

Jornalista Rachel Sheherazade criticou a forma como a megaoperação contra o Comando Vermelho (CV) está sendo conduzida no RJ

Rachel Sheherazade foi âncora do SBT

A jornalista Rachel Sheherazade deu sua opinião sobre a megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro. A operação policial tem como objetivo desestabilizar o Comando Vermelho (CV) nas regiões e localizar e prender líderes da facção criminosa.

Em um vídeo publicado no Instagram, Sheherazade repudiou o número de mortos, que ultrapassam 100, e criticou a forma como a ação está sendo conduzida pelas forças de segurança do estado. Vale lembrar que a Prefeitura do Rio de Janeiro colocou a cidade em alerta 2, ou seja, em risco de ocorrências de alto impacto.

“Eu não estou entendendo porque as pessoas estão comemorando essa desastrosa operação policial no Rio de Janeiro que terminou com a morte de 64 pessoas. A polícia entrou nos complexos para cumprir 100 mandados de prisão, não para cometer 60 execuções. Não tem como colocarmos todos os mortos na vala comum”, iniciou.

A jornalista seguiu questionando as execuções: “São 60 criminosos mesmo? E que crimes eles cometeram? Se cometeram esses crimes, foram julgados, condenados pela Justiça? E ainda que fossem julgados e condenados, onde é que está escrito na lei brasileira que o Estado tem o direito de matar pessoas?”.

Os números mencionados por Rachel foi apontado no primeiro balanço de mortos, divulgado dessa terça-feira (28), mas aumentou no decorrer da operação.

“Os que defendem a execução sumária de seres humanos obviamente comemoraram. Para eles, pouco importa quem eram os mortos, se culpados ou inocentes. Pouco importa se entre eles havia um estudante voltando da escola, uma dona de casa na esquina da padaria, um trabalhador”, pontuou.

“Essas pessoas não têm nome, não têm rosto, e principalmente, não têm dinheiro. São favelados, pretos, pardos, desafortunados, desempregados, subempregados, marginalizados. Morrendo muitos, ainda assim, não farão falta. Assim pensam alguns. A morte dessas pessoas sacia a sede de violência de uma parte lamentável da nossa sociedade”, relatou.

A comunicadora continua: “Deixa eu dizer uma coisa: os traficantes do morro são peixes pequenos, os maiores e mais poderosos criminosos andam de jatinho, vivem em condomínios fechados de mansões, almoçam em restaurantes chiques e apertam as mãos de gente graúda de Brasília. Por que o governo não faz operações nesses lugares?”.

Rachel também criticou a organização e o formato das forças de seguranças. Ela afirma que os policiais também são vítimas, pois segue um sistema que os ensina a combater os moradores do morro, mas não enfrenta o tráfico de drogas nos locais elitizados.

“O policial aprende a odiar a favela de onde veio e não o sistema que aprisiona ele e o traficante na mesma pobreza. No fim das contas, o gatilho quem puxa é o policial, ele é quem suja a mão de sangue, mas a culpa da chacina é de quem manda matar”, concluiu.

Balanço de mortos

Considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro, a Operação Contenção teve início nessa terça-feira (28) e segue ativa. O primeiro balanço apontou 64 mortos, entre eles quatro policiais.

Já segundo balanço, divulgado nesta quarta (29) pela Defensoria Pública, apontou 132 mortes. Posteriormente, a Polícia Civil do RJ divulgou que foram 119 mortos, sendo 115 traficantes e quatro policiais.

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André Viana é jornalista, formado pela PUC-MG. Já trabalhou como redator e revisor de textos, produtor de pautas e conteúdos para rádio e TV, social media, além de uma temporada no marketing.