Os quatro últimos governadores de Minas Gerais enviaram uma nota conjunta ao atual ocupante do cargo, Romeu Zema (Novo), para criticar a decisão de liberar o Palácio da Liberdade para eventos privados. O documento diz que a medida deturpa a função pública original da antiga sede do Executivo Estadual para dar lugar a interesses privados.
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A nota é assinada por Eduardo Azeredo (PSDB), governador entre 1995 e 1998; Aécio Neves (PSDB), com mandato entre 2003 e 2010; Antônio Augusto Anastasia, que governou o estado de 2010 a 2014; e Fernando Pimentel (PT), que antecedeu Zema entre 2015 e 2018.
O documento em tom de crítica reprova a medida de Zema e entende que a decisão altera o caráter público histórico do prédio tombado como patrimônio estadual.
O Palácio da Liberdade foi inaugurado em 1897, mesmo ano da fundação de Belo Horizonte. Até 2010, o prédio foi a sede do Governo de Minas Gerais. Com a construção da Cidade Administrativa, ele passou a integrar o circuito cultural da Praça da Liberdade.
A Itatiaia entrou em contato com o Governo de Minas para um posicionamento sobre a nota. Até a última atualização desta matéria, não houve resposta. No Diário Oficial do Estado da terça-feira (23), foi publicada uma nova portaria para revogar os efeitos da medida anterior, ou seja, voltando atrás da decisão de permitir o aluguel do Palácio da Liberdade.
Leia a carta na íntegra:
O Palácio da Liberdade é o mais icônico edifício de Minas Gerais. Certamente, no Brasil, entre tantas sedes de governos estaduais, nenhuma delas representa valores tão arraigados de tradição, cultura e identidade cívica quanto o nosso Palácio da Liberdade não somente é um bem tombado pelo Patrimônio Histórico do Estado, mas, em nivel muito mais elevado, é a representação física da história política da Minas republicana.
Certamente, sua singularidade o difere de todos os demais bens do Estado. Sendo assim, foi com inegável surpresa que tivemos conhecimento da decisãogovernamental no sentido de autorizar a locação comercial do Palácio da Liberdade para eventos particulares, sem qualquer traço de interesse público, como casamentos, aniversários e coquetéis empresariais. Tal deliberação, a nosso ver, macula as mais legítimas tradições de nossa história política, pois o símbolo máximo do Poder Público do Estado deixa a sua função essencial e se transforma em cenário de exibição de interesses privados. É fato que o Palácio da Liberdade já serviu de palco para diversas manifestações culturais, sociais e gastronômicas, mas todas elas de iniciativa oficial e com reconhecido caráter de interesse público.
Ao permitir a locação particular, destinada a pessoas abastadas, que possam arcar com os seus custos, seremos testemunhas da banalização do edifício sede da identidade de Minas Gerais como Estado federado, repleto das mais reconhecidas tradições e memórias de nossa gente. Em outras palavras, na prática, assistiremos à privatização do uso do Palácio, na contramão do simbolismo adquirido pela edificação ao longo da história, qual seja, o de representar, com altivez, a defesa dos valores de Minas.
Independentemente de qualquer posicionamento político, partidário ou ideológico, os quatro remanescentes ex-governadores de Minas Gerais expressam, com o devido respeito, a grave preocupação com este fato, solicitando a reflexão sobre suas consequências, especialmente as simbólicas, em relação, sobretudo, ao sentimento maior de mineiridade, na esperança da reversão desta decisão.