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Oposição a Zema vê a prorrogação de prazos do Propag como arma contra privatizações

A oposição na ALMG trata a medida como uma arma importante para evitar que ativos como a Copasa e imóveis do estado sejam privatizados

Oposição a Romeu Zema no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG)

A prorrogação nos prazos de negociação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) foi recebida em tom de comemoração pelo bloco de oposição ao governador Romeu Zema (Novo) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na manhã desta quarta-feira (8). A medida, assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi publicada em decreto na noite de terça-feira (7).

Com as alterações determinadas no decreto, Minas Gerais ainda precisa aderir ao Propag até o fim deste ano. Contudo, as negociações sobre quais ativos o estado vai envolver para abater parte da dívida com a União e reduzir juros nas parcelas dívidas pelos próximos 30 anos tiveram seu limite estendido até dezembro de 2026. O débito mineiro é de cerca de R$ 170 bilhões.

A oposição na ALMG trata a medida como uma arma importante para evitar que ativos como a Copasa e imóveis do estado sejam privatizados. Com a possibilidade de mais prazo para decidir se envolve ou não seus ativos na negociação, a expectativa do bloco é que o Executivo estadual adira ao programa mesmo sem a autorização prévia da Assembleia para a alienação dos bens estatais.

O líder da oposição, Ulysses Gomes (PT) cobrou que Zema anuncie a adesão ao Propag diante do fato que o decreto retira a necessidade que o ingresso no programa seja acompanhado da autorização de privatização ou federalização de ativos.

“Cabe agora a manifestação ao governo do Estado, que tem autorização há mais de três meses para aderir ao Propag e, obviamente, aguardava a aprovação de todas as leis para isso. Com o decreto que prorroga não só a avaliação dos ativos, mas sobretudo permite que no ato da adesão não se entregue a legislação, faz com que o Estado possa aderir hoje ou amanhã ao programa”, afirmou o deputado.

Até o início da tarde desta quarta-feira, os deputados da base governista na Assembleia não haviam se manifestado sobre o decreto do governo federal.

Expectativa de redução na urgência

Outro ponto abordado pela oposição foi o fim da urgência pela aprovação de projetos como a privatização da Copasa e a venda de imóveis. Com o prazo para conseguir a autorização da Assembleia para as medidas terminando no fim deste ano, a base governista e o próprio Executivo justificavam a tramitação acelerada dos projetos.

Além da prorrogação do prazo, o decreto de Lula também mudou a prerrogativa única do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) como instituição que determina o valor dos ativos envolvidos na negociação da dívida.

Na nova fórmula do Propag, o estado pode contratar uma empresa independente para fazer a avaliação dos ativos que pretende vender ou federalizar. Este aspecto foi ressaltado pela deputada Beatriz Cerqueira (PT).

“O governo Zema e a sua base aqui na Assembleia diziam: ‘Olha, precisamos que só todas as leis sejam aprovadas. Não dá tempo de ter uma avaliação. O BNDES é quem fará essa avaliação, por isso que a gente nunca apresenta números com o valor da Codemge, MGI’. Com a publicação do decreto, todas as alegações que o governo Zema usava aqui na Assembleia caíram”, afirmou.

O que determina o Propag?

O Propag começou a ser construído no fim de 2023 a partir de articulações entre deputados mineiros e o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para ser uma alternativa ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), principal bandeira de Zema para reduzir investimentos públicos e tentar reduzir a dívida do estado.

O projeto foi apresentado por Pacheco no Congresso Nacional, aprovado no fim de 2024 e regulamentado em abril deste ano. A proposta prevê o parcelamento das dívidas dos estados em até 30 anos e estabelece mecanismos para a redução dos juros cobrados sobre as parcelas, hoje fixados pela inflação mais 4% ao ano.

As estatais mineiras são envolvidas na negociação porque o Propag prevê que dois pontos percentuais dos juros podem ser eliminados com a amortização de ao menos 20% do estoque da dívida.

Para conseguir chegar a esse percentual - cerca de R$ 34 bilhões - o governo Zema prega o repasse de companhias e bens estatais ao governo federal ou sua privatização.

A Assembleia já autorizou medidas como o uso de créditos da dívida ativa e previdenciários como forma de abater a dívida. A federalização da Codemig também já foi aprovada em dois turnos na Casa.

A oposição atua na Assembleia para evitar que mais ativos sejam utilizados na negociação, em especial a Copasa, que é discutida em dois textos na Casa. Um deles trata especificamente sobre a venda da empresa, outro prevê a retirada da exigência de um referendo popular para autorizar a privatização da companhia, hoje determinado na Constituição do estado.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.