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Oposição a Zema diz que pedido de adesão ao Propag tem ‘uma série de traições à ALMG’

Deputado Professor Cleiton (PV) criticou inclusão de Cemig e a hipótese de não incluir a Codemig nas negociações

Deputado Professor Cleiton (PV) comentou projeto de adesão ao Propag apresentado pelo Governo de Minas

A inclusão da Cemig entre os ativos que o Governo de Minas pretende negociar no âmbito do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) pegou a oposição na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) de surpresa nesta quinta-feira (6). Dentro da Casa havia um consenso de que a companhia energética não estaria entre as estatais em debate para a privatização.

Em entrevista à Itatiaia, o deputado Professor Cleiton (PV) disse que o grupo de oposição não esperava a inclusão da Cemig e também se surpreendeu com a possibilidade de que a Codemig, estatal que explora nióbio, não esteja entre as empresas negociadas.

“Fomos pegos de surpresa. Não esperávamos a inclusão da Cemig e nem que o governo pensa em não colocar a Codemig na negociação. Meu sentimento é de que houve uma série de traições em relação ao que foi acordado com a Assembleia. A Assembleia entregou tudo que o governo pediu até agora, inclusive uma votação impopular como foi a de ontem ( a da PEC do Referendo). O papel da posição nos próximos dias é travar tudo enquanto o governo não oferecer a Codemig no Propag”, afirmou o deputado.

A federalização da Codemig foi aprovada na Assembleia ainda em julho com um entendimento de que a empresa sozinha poderia atingir ou se aproximar do valor necessário para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas no âmbito do Propag. No plano de adesão ao programa divulgado nesta quinta-feira, a entrada da estatal de mineração foi colocada sob análise.

O Propag foi aprovado no Congresso Nacional em dezembro de 2024 e regulamentado pelo governo federal em abril deste ano. A ideia central do projeto é permitir que os estados dividam o pagamento de suas dívidas com a União em até 30 anos e reduzam os juros cobrados sobre as parcelas, hoje fixados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano.

Um ponto percentual de juros é reduzido com a contribuição com o Fundo de Equalização Federativa (FEF) e outro ponto pode ser abatido com o uso do valor que seria pago em adição às parcelas em reinvestimentos feitos em áreas como segurança pública, ensino profissionalizante e infraestrutura. A grande celeuma, porém, reside na supressão de dois pontos percentuais de juros com o pagamento de 20% do estoque da dívida.

Para conseguir pagar os 20% da dívida — que seriam cerca de R$ 34 bilhões no valor atual do débito — o Governo de Minas enviou uma série de projetos à Assembleia solicitando autorização para a privatização de ativos do estado.

Requerimento ao governo federal

Professor Cleiton, junto de outros deputados da oposição, assinaram um requerimento solicitando que um pedido de informações seja enviado à Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e à Secretaria de Estado de Fazenda para que todas as informações relacionadas à adesão de Minas ao Propag sejam disponibilizadas aos parlamentares.

O objetivo é saber os valores dos ativos enviados em todos os detalhes e como foi feita a precificação enviada pelo estado.

Discussão jurídica

O artigo 14 da Constituição de Minas Gerais determina que as estatais de energia, gás natural e saneamento só podem ser privatizadas mediante autorização dos eleitores do estado via referendo popular.

Mais de um ano antes da criação do Propag, Zema enviou à Assembleia a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2023 para retirar da lei mineira a exigência do referendo para Gasmig, Copasa e Cemig. O texto ficou travado na Casa desde então, mas ganhou novo fôlego com o programa de refinanciamento da dívida.

A chamada PEC do Referendo foi desidratada durante a tramitação na Assembleia e a seguiu apenas com a retirada da consulta popular para a venda da Copasa.

Professor Cleiton teme que o governo estadual, ao optar pelo modelo de corporation para a privatização, alegue que não será necessária a realização do referendo para a desestatização e prevê uma longa discussão jurídica caso a hipótese se concretize.

“Quando se fala da Cemig, apresentam a questão da corporation, que continua sendo uma forma de desestatização e precisa também de referendo. Se vierem com a narrativa de que esse modelo não precisa de referendo, prevejo uma discussão jurídica grande”, projetou o parlamentar.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.