Vocês sabiam que política é uma das poucas atividades da vida humana que não se faz sozinho? Depende de interação. E claro, há sempre aquela dose de desconfiança atravessando uma conversa. Ainda mais se você for mineiro, diz a tradição. Conta o folclore que quando dois políticos mineiros se encontram numa estação, o diálogo é mais ou menos assim: “Pra onde você está indo?”, pergunta o primeiro. O segundo responde: “Para Barbacena”. É neste momento que o primeiro afirma: “Pensa que me engana? Você diz que vai pra Barbacena para que eu pense que o seu destino é Juiz de Fora. Mas você vai é para Barbacena mesmo!”. Você se identifica nessa situação?
Talvez, uma dose de desconfiança nas palavras, pode ajudar em encontros natalinos mais felizes. Principalmente, nestes tempos em que qualquer palavrinha mal colocada pode disparar o gatilho de ofensas. Talvez até por isso, dizem as pesquisas, cerca de um quarto dos brasileiros têm alguma ou muita preocupação neste momento da reunião familiar. Isso porque a posição política das pessoas com posições mais fortes tende a interferir em suas percepções sobre o mundo e até mesmo na forma como analisam o seu poder de compra. Quer ver como? Pesquisa Genial Quaest divulgada esta semana mostra que em média 50% das pessoas dizem que vão comprar menos presentes este ano e 46% afirmam que vão comprar igual ou mais presentes este ano em relação a 2024. Quando se considera só eleitores de Jair Bolsonaro: 65% dizem que vão comprar menos presentes; e entre eleitores de Lula esse grupo cai para 33%. Se até as percepções do bolso, a parte mais sensível do ser humano, são afetadas pelas crenças políticas, o que dirá dos relacionamentos familiares?
Se você está entre os 24% de brasileiros que temem que a política arruine as suas festas de natal, relaxe. Em dezembro de 1914, ano que inaugurou a Primeira Grande Guerra Mundial, até franceses e ingleses, de um lado, e alemães do outro lado das trincheiras, promoveram um cessar fogo espontâneo. Confraternizaram. Essa história é relatada no filme “Feliz Natal”, do cineasta francês Crhistian Carion, lançado em 2006.
Se eles, com verdadeiras armas em punho conseguiram, por que nós, que tantas vezes lutamos com palavras sem nem pensar sobre quais são nossos interesses nessa briga, não conseguiríamos? Diria Vinicius de Moraes, em provocação aos escritores mineiros lá pelos anos 40 do século passado: “Os preconceitos vos abafam como o ar da seca” (...) “por que não vos libertais”? A minha dica? “Feliz Natal”, o filme e feliz para todos nós.