Bertha Maakaroun | Lula empossa ministro do União como estratégia para rachar o Centrão

Em substituição ao deputado federal Celso Sabino (PA), expulso do União por se recusar a deixar o governo Lula, será empossa Gustavo Feliciano, filho do deputado federal Damião Feliciano (União-PB) e com o apoio de Hugo Motta (Republicanos-PB)

Novo ministro do Turismo, Gustavo Feliciano

Ao empossar o novo ministro do Turismo Gustavo Feliciano, do União Brasil, o presidente Lula dá mais um passo em sua articulação política que mira aprofundar o racha interno das legendas que integram o Centrão. O União Brasil tem particular importância para Lula, não apenas porque tem 59 deputados federais e constitui a terceira maior representação na Câmara dos Deputados. Mas também, porque o União e PP vão se federar, e juntos, os dois partidos formam uma bancada de 109 deputados. Na Câmara, esses dois partidos são uma força política que define a maioria, no contexto da polarização entre, de um lado, o PL, com 86 deputados e, de outro, a Federação PT, PV e PcdoB, com 80 parlamentares.

As lideranças da federação União-PP – Antônio Rueda, presidente do União o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do PP – estavam empenhadas na construção da candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) à presidência da República. Mas com o lançamento pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) da candidatura ao Planalto do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) há certa desmobilização das bancadas. Lula aproveita este momento para puxar para o governo nomes que possam estimular o racha interno, o que lhe favorece na governabilidade e também nas composições nos estados, principalmente do Nordeste, para 2026. União e PP vão ter acesso a 20% do fundo eleitoral e do fundo partidário, que somam cerca de R$ 6 bilhões para 2026. Além disso, União e PP terão 20% do tempo da propaganda eleitoral gratuita. Portanto, essa federação é importante ativo eleitoral para 2026.

Em política, para analisar uma nomeação, a primeira pergunta que se formula é: quem indicou? Nesse caso, Gustavo Feliciano é filho do deputado Damião Feliciano (União-PB), que chegou ao cargo com o apoio do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) e daquela parcela minoritária da bancada do União, que se mantinha governista por interesses da configuração política em seus estados de origem. Neste momento em que Lula dá sinais de que estará competitivo nas eleições de 2026, com probabilidade de se firmar como favorito, a direção do União se reposiciona. O partido havia firmado o prazo de 19 de setembro para que os seus filiados saíssem do governo Lula. E a ironia: o novo ministro Gustavo Feliciano substituirá o ex-ministro Celso Sabino, deputado federal do Pará, que foi expulso do União Brasil, porque se recusou a deixar o governo Lula. A política, como ela é.

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Jornalista, doutora em Ciência Política e pesquisadora

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