Propag: Zema aprova lei que autoriza federalização da MGI com veto parcial

Governador sancionou projeto aprovado na Assembleia com um único veto relacionado às participações da MGI na Cemig

Sanção parcial assinada por Zema foi publicada nesta quarta-feira (24) no Diário Oficial

O governador Romeu Zema (Novo) sancionou parcialmente a lei que autoriza transferência da Minas Gerais Participações (MGI) ao governo federal como forma de refinanciar o débito do estado com a União. A decisão foi publicada nesta quarta-feira (24) no Diário Oficial do Estado com um veto relativo aos critérios de precificação do ativo nas negociações do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag).

A MGI é a estatal que gere participações acionárias de Minas em outras empresas como a Codemge, Copasa e Cemig. A companhia energética tem 5,97% de suas ações sob gestão da companhia, sendo que a maior parte delas está comprometida como garantia de um empréstimo feito por Minas junto ao banco Credit Suisse.

A participação da MGI na Cemig é justamente o tema do único veto de Zema ao texto aprovado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) sob a forma do Projeto de Lei (PL) 4.222/2025.

O governador vetou o parágrafo 3º do projeto, que determina que a federalização das ações da Cemig só serão realizadas se, na data da efetivação da transferência, tiverem seu valor superior ao valor de mercado.

Na justificativa para o veto, Zema aponta que a determinação incluída no texto durante sua tramitação na Assembleia diverge do modelo determinado no Propag, que define que a precificação seja feita a partir da projeção do fluxo de caixa operacional da empresa.

“Nesse sentido, ao impor condição incompatível com a metodologia federal, o dispositivo contraria a disciplina normativa de matéria inserida no âmbito de competência da União, violando, por consequência, o pacto federativo, com potencial de inviabilizar a operação de federalização prevista na proposição, além de comprometer o federalismo cooperativo na busca por soluções destinadas ao enfrentamento da crise econômico-fiscal do Estado, no âmbito do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados”, justificou o governador.

O veto agora será analisado em plenário pela Assembleia. Para derrubar a decisão do governador são necessários votos de 39 dos 77 deputados da Casa.

A MGI no Propag

A MGI integra a lista de ativos que Minas enviou ao governo federal para a adesão ao Propag para a amortização de 20% do estoque devido, hoje avaliado em R$ 178 bilhões. Na precificação preliminar apresentada pelo estado, a empresa vale R$ 1,2 bilhão.

O Propag foi criado a partir das dificuldades encontradas pelo governador Zema em aprovar a adesão de Minas Gerais ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) na Assembleia Legislativa (ALMG). Principal pauta do Executivo Estadual para lidar com a situação da bilionária dívida com a União, a medida foi considerada excessivamente austera pelos parlamentares e não caminhou na Casa.

O RRF foi instituído durante a presidência de Michel Temer (MDB) como uma forma de adequação orçamentária dos estados endividados. Durante nove anos de vigência do regime, os estados precisam conter investimentos, limitar os reajustes salariais dos servidores e congelar novos concursos para o funcionalismo público, por exemplo.

Sem conseguir aderir ao regime via Legislativa, Zema conseguiu o ingresso via Supremo Tribunal Federal (STF) em 2024. Minas, então, se somou a um grupo formado por Goiás, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, todos operando sob o RRF. Paralelamente à empreitada jurídica do governador, membros da oposição na Assembleia, o presidente da Casa, Tadeu Martins Leite (MDB), e o então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), começaram a costurar o que viria a ser o Propag.

O projeto de lei complementar que propunha a criação do Propag foi aprovado no Congresso Nacional em dezembro de 2024, sancionado parcialmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em janeiro do ano seguinte e regulamentado em abril.

O programa prevê a criação de condições para que os estados endividados com a União consigam parcelar o pagamento do débito em até 30 anos. Neste contexto, o Propag estabelece mecanismos para a redução dos juros cobrados sobre as parcelas, hoje calculados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — que estabelece a inflação — mais 4% do estoque da dívida ao ano.

O ingresso no Propag deve ser decidido pelos estados até o fim deste ano e pode ser feito em diferentes modelagens, todas elas com a possibilidade da redução dos juros reais com a eliminação dos quatro pontos percentuais cobrados além da inflação.

O modelo escolhido pelo governo mineiro e em discussão com um pacote com mais de uma dezena de projetos enviados à Assembleia prevê a redução de dois pontos percentuais a partir do abatimento de ao menos 20% do estoque da dívida. Hoje, Minas deve cerca de R$ 175 bilhões à União e, portanto, precisaria pagar R$ 35 bilhões para atingir seu objetivo.

Esse pagamento pode ser feito a partir da federalização de ativos estatais para amortizar a dívida com seu repasse ao governo federal ou via privatização dos bens com uso do recurso para o abatimento do débito. Neste contexto estão os polêmicos debates de venda de imóveis do estado e da Copasa e da federalização da Codemig, há meses monopolizando a discussão no Legislativo mineiro.

Outro ponto percentual pode ser abatido com o compromisso de que a economia obtida com essa redução de juros seja reinvestida no estado. O uso do valor que não será pago em forma de dívida deve, portanto, ser aplicado em ações de segurança pública, ensino profissionalizante, infraestrutura e outras áreas nevrálgicas da estrutura do estado.

Por fim, mais um ponto percentual pode ser suprimido com a contribuição com o Fundo de Equalização Federativa. Instituído pelo próprio Propag, essa medida foi tomada como uma forma de negociar a aprovação do texto no Congresso junto a parlamentares de estados que não estão em dívida com a União e que viam no programa de refinanciamento uma iniciativa de favorecimento das unidades federativas em débito. Os valores destinados ao fundo serão redistribuídos entre os estados do país.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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