Indicação de Messias ao STF é vista como escolha baseada em lealdade a Lula, dizem especialistas

Avaliações apontam que vínculo de confiança pesou mais que critérios técnicos, embora juristas reconheçam o currículo do indicado

O advogado-geral da União, Jorge Messias

A indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF) teria sido guiada principalmente pela lealdade ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Nesta quinta-feira (20), Lula oficializou o nome de Messias para a vaga deixada por Luís Roberto Barroso, que se aposentou no dia 18 de outubro após 12 anos na Corte. A escolha, porém, gerou críticas de analistas que apontam motivações políticas.

Na avaliação feita por especialistas que foram ouvidos pela Itatiaia, o fato de Messias ser aliado de longa data de Lula e do PT pesou na escolha.

O cientista político Leonardo Barreto, doutor pela Universidade de Brasília (UnB), afirmou que a decisão reforça que o critério que tem sido usado é o da fidelidade a Lula, um padrão já observado na nomeação de Cristiano Zanin.

“O critério utilizado foi o critério da lealdade, o critério da fidelidade, como na primeira indicação de Cristiano Zanin, e mostra que o currículo já não é mais critério para a escolha de ministro do STF, o critério agora é a lealdade e alinhamento a projetos políticos”, afirmou Barreto.

A indicação de Messias já era dada como certa nos bastidores do Planalto, devido à relação de confiança estabelecida com o presidente ao longo dos anos. O nome dele chegou a ser cogitado em 2023, quando Lula escolheu Flávio Dino para a vaga de Rosa Weber.

O advogado André Ribeiro, especialista em direito político e econômico, avalia que o indicado atende aos requisitos constitucionais e possui sólido conhecimento jurídico, mas lembra que decisões dessa natureza costumam mesclar currículo e política.

“Messias tem um currículo muito bom e notório saber jurídico. Mas sabemos que a escolha de ministros do STF geralmente envolve considerações políticas, e não apenas o perfil técnico”, declarou Ribeiro.

Sabatina no Senado

Antes de tomar posse, Messias passará por sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e precisará de 41 votos no plenário para ser aprovado à vaga de ministro.

Para os especialistas, a relação de proximidade com Lula deve ser um dos principais pontos de questionamento dos senadores durante a sabatina. Para eles, as repostas dadas por Messias podem definir o seu futuro.

“O Senado vai avaliar. Embora seja prerrogativa do presidente indicar, a decisão precisa ser combinada com o Senado. Esses argumentos serão discutidos publicamente”, afirmou Barreto.

Já Ribeiro acredita que o nome deve ser aprovado, observando que escolhas desse tipo costumam ser articuladas previamente com o Legislativo.

Lava Jato

Messias é um aliado de longa data do presidente Lula e seu nome ganhou repercussão nacional em 2016, durante a Operação Lava Jato, quando foi citado em uma gravação telefônica entre a então presidente Dilma Rousseff (PT) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Na ligação, Dilma informa que enviaria, por meio do “Bessias” o termo de posse de Lula na Casa Civil, que seria utilizado “em caso de necessidade”. O episódio ocorreu enquanto Lula havia sido nomeado, mas ainda não empossado, como ministro-chefe da Casa Civil.

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Repórter de política em Brasília, com foco na cobertura dos Três Poderes. É formado em Jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB) e atuou por três anos na CNN Brasil, onde integrou a equipe de cobertura política na capital federal. Foi finalista do Prêmio de Jornalismo da Confederação Nacional do Transporte (CNT) em 2023.

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