A possível presença de metanol em bebidas alcoólicas tem gerado preocupação entre consumidores.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) avalia que a fiscalização preventiva contra a adulteração de bebidas ainda é falha. Para a entidade, operações que desarticulam fábricas clandestinas, são essenciais no combate a esse tipo de crime. A Abrasel também defende o reforço das inspeções em distribuidoras e empresas do setor, argumentando que proprietários de bares e restaurantes não se arriscariam a agir de forma irregular diante do risco de contaminação e das consequências que isso pode gerar.
Em comunicado, a associação divulgou recomendações para que bares e restaurantes adotem medidas de proteção contra bebidas adulteradas. A prática, classificada pela entidade como criminosa, coloca em risco a saúde dos consumidores, compromete a confiança nos estabelecimentos e ainda causa perdas financeiras ao setor.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) divulgou uma nota técnica com orientações de segurança após os casos de intoxicação por metanol. O documento orienta a população a desconfiar de produtos com lacres danificados, falhas visíveis na impressão e valores muito abaixo do habitual. Além disso, alerta que sinais como visão embaçada, dores de cabeça e náuseas podem indicar possível contaminação por bebida adulterada.
“O atendimento imediato e a aplicação rápida do antídoto reduzem significativamente as complicações e a gravidade dos efeitos”, destacou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em coletiva realizada nesta quinta-feira (2), quando reforçou os cuidados necessários e os principais sinais de intoxicação.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) emitiu uma nota sobre o caso.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) faz um alerta à população sobre os riscos da ingestão acidental de metanol, substância tóxica que pode estar presente em bebidas alcoólicas adulteradas. O presidente do CFM, José Hiran Gallo, classificou a situação no País como muito grave e destacou que se trata de um veneno capaz de devastar o organismo humano. A intoxicação a partir do consumo de bebidas batizadas, como gin, vodca e whisky, já provocou casos de internação grave, perda de visão e até mortes no estado de São Paulo nas últimas semanas.
O metanol é um álcool simples, incolor, inflamável e de odor semelhante ao etanol, o que dificulta sua identificação se misturado à bebida alcoólica. Usado industrialmente na produção de solventes, tintas e combustíveis, ele não deve ser ingerido em hipótese alguma. Após a ingestão, os sintomas podem surgir entre 6 e 14 horas, atrasando a percepção do envenenamento.
Entre os sinais de intoxicação, destacam-se dor abdominal, dor de cabeça intensa, náusea e vômito, visão turva, confusão mental e até convulsões. Gallo explica que casos graves podem levar à cegueira irreversível, por conta da atrofia do nervo óptico, ou até mesmo à morte. “O consumo de metanol é extremamente perigoso. Se houver suspeita, principalmente diante de dor de cabeça intensa e visão turva (sintomas que não devem ser confundidos com ‘ressaca’), a pessoa deve procurar imediatamente um serviço de emergência, onde há profissionais preparados e habilitados para atender esses efeitos adversos”, alerta.
O presidente do CFM ressalta que existe um antídoto específico para intoxicação por metanol: o fomepizol. No entanto, lembra que o medicamento não é produzido no Brasil e precisa ser importado em situações de emergência. Por isso, a prevenção é fundamental e o CFM orienta a população a manter hidratação adequada se consumir álcool e procurar imediatamente atendimento médico em caso de suspeitas e sintomas graves.
Além disso, o CFM reforça que a população pode recorrer ao Disque-intoxicação da Anvisa (0800 722 6001) para orientações emergenciais. A ligação é gratuita. Para o presidente do CFM, é essencial que o poder público intensifique a fiscalização e identifique os responsáveis pela circulação de bebidas adulteradas. “A pessoa sai para se divertir e acaba exposta a um envenenamento. É preciso descobrir e coibir está atuando de forma tão nociva no País”, afirmou Hiran Gallo.