Ouvindo...

Em recado ‘simbólico’ ao governo, Câmara aprova urgência para projeto que derruba decreto do IOF

O mérito do texto, no entanto, não foi votado pelos deputados

O plenário da Câmara dos Deputados

A Câmara dos Deputados aprovou, por 346 votos favoráveis a 97 contrários, nesta segunda-feira (16) a urgência para o projeto que visa derrubar o novo decreto do governo federal sobre o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), medida que enfrenta a resistência dos parlamentares.

Com isso, a proposta pode ser analisada diretamente no plenário da Casa sem ter que passar pela análise anterior das comissões permanentes.

Em entrevista a jornalistas antes da análise, o presidente da Casa, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que a votação seria “simbólica” para mostrar a insatisfação dos deputados com propostas para aumentar a arrecadação.

“Não é da vontade do Congresso realizar ajuste fiscal em cima dos mais carentes. O Congresso quer poder fazer uma discussão estruturante, o Brasil precisa continuar fazendo um trabalho de transformação social, mas sem também penalizar quem produz, quem gera emprego e renda. Então, eu penso que o governo está cada vez mais compreendendo essa mensagem. Essa votação de hoje será muito simbólica sobre o sentimento da Casa e vamos aguardar quais serão os próximos passos”, declarou.

O pedido de urgência foi apresentado pelo líder da oposição, deputado Zucco (PL-RS), e contou com assinaturas de partidos do Centrão, como PP, Republicanos e União Brasil — siglas que controlam ministérios no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O mérito do texto, no entanto, não foi analisado na sessão desta segunda.

O novo pacote

A medida provisória publicada na última quarta-feira (11) revogou parte do aumento do IOF feito em maio, reduzindo, por exemplo, a alíquota fixa de 0,95% para 0,38% na contratação de empréstimos. A alíquota diária, no entanto, foi mantida em 0,0082%.

Leia também

Outra mudança anunciada no pacote é a tributação dos rendimentos Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), que até então eram isentos de Imposto de Renda. A nova alíquota de 5% começa a valer apenas a partir de janeiro de 2026.

Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a medida busca justiça tributária. “Mais da metade desse subsídio está ficando no meio do caminho”, argumentou.

Além disso, o pacote inclui:

  • Aumento da alíquota sobre apostas esportivas, de 15% para 18%, a partir de outubro de 2025;
  • Mudanças na tributação de investimentos no exterior;
  • Novas regras para aplicação em seguros VGBL, com incidência progressiva do IOF.

Confiança na aprovação

Apesar da forte reação no Congresso e do mercado financeiro, Haddad se mostrou confiante na aprovação das medidas. “Com alguma explicação, se derem tempo de fazer chegar à opinião pública a verdade, eu acredito que não vai faltar apoio, nem da população nem do Congresso”, afirmou.

O governo aposta no novo pacote para reforçar a arrecadação sem incidir diretamente sobre o consumo ou a renda da maioria da população. A disputa agora será política: o Planalto busca sustentar as medidas como necessárias para o equilíbrio fiscal, enquanto parte expressiva do Congresso quer barrar aumentos que possam repercutir negativamente entre os eleitores.

Repórter de política em Brasília. Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), chegou na capital federal em 2021. Antes, foi editor-assistente no Poder360 e jornalista freelancer com passagem pela Agência Pública, portal UOL e o site Congresso em Foco.