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Discussão sobre mudanças no setor elétrico é adiada após pedido de vista no Congresso

Medida provisória prevê teto de gastos para fundo do setor e abertura gradual do mercado livre de energia

Adiada votação da MP que busca limitar custos da energia ao consumidor

Um pedido de vista coletiva, que concede mais tempo para análise, suspendeu nesta terça-feira (28) a votação do relatório da Medida Provisória (MP) 1304/2025, que promove mudanças estruturais no setor elétrico brasileiro. A discussão será retomada nesta quarta-feira (29), às 11h, pela comissão mista do Congresso Nacional.

Relatada pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM), a MP representa uma das maiores revisões do marco regulatório do setor elétrico em mais de uma década, com impacto direto nas contas de luz, nos subsídios, na comercialização de energia e nas políticas para o gás natural. O texto propõe alterações em leis estratégicas, como as que tratam da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), da desestatização da Eletrobras e do regime de partilha do pré-sal.

Teto para subsídios e novas cobranças

Um dos principais pontos da proposta é o teto para o valor total arrecadado dos consumidores destinado à CDE, fundo que financia diversos subsídios do setor elétrico e que chegou a R$ 49,2 bilhões em 2025.

Caso as despesas ultrapassem esse limite, será criado o Encargo de Complemento de Recursos (ECR), um novo mecanismo que repassa parte do custo aos beneficiários diretos dos subsídios. Segundo o relator, a medida busca frear o aumento das tarifas e promover maior transparência e justiça tarifária.

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Mudanças em geração e contratação de energia

A MP também altera dispositivos da Lei de desestatização da Eletrobras, derrubando a obrigatoriedade de contratação de 8 mil megawatts (MW) de térmicas a gás natural e o repasse compulsório de 50% da demanda das distribuidoras para pequenas hidrelétricas.

Essas fontes passam a disputar leilões de reserva de capacidade, com cronogramas ajustados ao planejamento do setor. O governo argumenta que as mudanças tornam o sistema mais eficiente e menos oneroso ao consumidor. Pequenas hidrelétricas de até 50 MW ganham maior flexibilidade operacional e ficam isentas do Mecanismo de Realocação de Energia (MRE).

Gás natural e infraestrutura

Outro ponto da medida é o fortalecimento do papel da Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA), que passa a celebrar contratos para escoamento, transporte e tratamento do petróleo e gás da União.

A MP também autoriza o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) a definir condições de acesso aos sistemas integrados, estimulando a concorrência e o investimento na infraestrutura de gás natural.

Incentivos ao armazenamento e à descarbonização

A MP cria regras específicas para o armazenamento de energia, considerado essencial com a expansão das fontes eólica e solar. O texto prevê incentivos fiscais e medidas de crédito para a entrada de baterias e novas tecnologias no mercado.

Também estão previstos estímulos à produção de hidrogênio de baixo carbono, prorrogação de prazos do programa nacional de hidrogênio verde e incentivos para a expansão da rede de transmissão.

Modernização tarifária e novos contratos

O texto propõe ajustes nas regras de formação de preços, mecanismos de compensação por cortes na geração e novas exigências para prorrogação de concessões. Também limita repactuações de risco hidrológico e busca equilibrar a relação entre os ambientes regulado e livre de energia.

Segundo o governo, as medidas têm como objetivo reduzir custos, garantir previsibilidade tarifária e modernizar a estrutura do setor elétrico nacional.

Justificativa e trâmite legislativo

O Executivo defende a urgência da MP como necessária para conter a alta nas tarifas e adequar o setor às mudanças provocadas pela Lei das Energias Offshore (Lei 15.097/2025). O relator, Eduardo Braga, afirmou que o texto “busca modicidade tarifária, segurança energética e racionalidade no uso de recursos públicos e privados”.

A proposta recebeu mais de 400 emendas e foi debatida em audiências públicas com representantes do setor.

Aline Pessanha é jornalista, com Pós-graduação em Marketing e Comunicação Integrada pela FACHA - RJ. Possui passagem pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, como repórter de TV e de rádio, além de ter sido repórter na Inter TV, afiliada da Rede Globo.