A delação premiada prestada à Polícia Federal (PF) pelo ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, revela detalhes do período pós-derrota eleitoral em 2022. O documento aponta a existência de três grupos que se reuniam frequentemente com o ex-presidente para aconselhá-lo.
Segundo Cid, os grupos se dividiam da seguinte maneira:
Moderados
Composto por políticos e membros das Forças Armadas, o grupo aconselhava o presidente a “mandar o povo para casa” e a se posicionar como um grande líder da oposição. Segundo o ex-ajudante de ordens, eles argumentavam que os manifestantes acampados em frente aos quartéis apenas aguardavam uma orientação e que seguiriam qualquer direcionamento dado por Bolsonaro. Foram citados:
- Flávio Bolsonaro (filho do ex-presidente e senador)
- Bruno Bianco (advogado-geral da União)
- Ciro Nogueira (então Ministro da Casa Civil)
- Brigadeiro Batista Júnior (então Comandante da Aeronáutica)
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Moderados com visão distinta
Outra ala de conselheiros de Bolsonaro, também considerada moderada por Cid, criticava supostos abusos jurídicos, prisões e a condução das relações institucionais. Segundo a delação, apesar dessas críticas, o grupo reconhecia que não havia alternativas diante do resultado das eleições, já que qualquer ação contrária poderia ser vista como um golpe armado e levar à instauração de um regime militar prolongado.
Portanto, dentro do grupo dos “moderados”, havia uma subdivisão: um subgrupo composto basicamente por generais da ativa, que mantinham contato frequente com o presidente e cujas opiniões o influenciavam. Entre esses, estão:
- General Freire Gomes
- General Arruda (chefe do Departamento de Engenharia e Construção)
- General Teofilo (chefe do Comando de Operações Terrestres)
- General Paulo Sérgio (então Ministro da Defesa)
Outro segmento desse grupo defendia que o ex-presidente deveria deixar o país. Essa ideia, ainda segundo Mauro Cid, foi sugerida por ele, por Paulo Junqueira (empresário do agronegócio), por Naban Garcia (ex-cargo na Secretaria de Agricultura) e, por fim, pelo Senador Magno Malta, que tinha uma posição mais radical sobre a situação de Bolsonaro.
Os Radicais
Segundo Cid, o grupo de radicais se dividia em duas subcategorias:
“Menos radical”: O grupo, segundo a delação, buscava identificar uma possível fraude nas urnas. Esse era o grupo que o ex-presidente pressionava com mais frequência, inclusive demandando uma atuação mais contundente do General Paulo Sérgio em relação à Comissão de Transparência das eleições, a fim de produzir um documento “duro”.
Entre seus integrantes estavam:
• General Pazzueuo (general do exército e ex-ministro da saúde)
• Valdemar Costa Neto (Presidente do PL)
• Major Denicole (responsável pelo tratamento dos dados estatísticos)
• Carlos Heinz (Senador)
Apesar das tentativas, o grupo não conseguiu identificar nenhuma fraude concreta, limitando-se a apontar questões relativas a urnas antigas, que deram origem à ação do PL.
“Radical”: De acordo com a delação de Cid, esse grupo era a favor de um braço armado e de incentivar, de alguma forma, um golpe de Estado. Conforme ele, esse grupo defendia que, uma vez dada a ordem pelo presidente, haveria o apoio do povo e dos colecionadores, atiradores desportivos e caçadores (CACs).
Os nomes mencionados nas discussões e na ala mais radical incluíam o ex-ministro Onyx Lorenzoni, o senador Jorge Seiff, o ex-ministro Gilson Machado, o deputado federal e filho do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro, e o General Mario Fernandes, que tentava convencer as Forças a executarem um golpe.
Também foi citado o envolvimento da ex-primeira dama Michele Bolsonaro e a atuação do General Braga Netto, que funcionava como elo entre manifestantes e o ex-presidente.
A Itatiaia tenta contato com os nomes citados como integrantes dos grupos. O espaço segue aberto para manifestações.