O lixo orgânico, composto por restos de comida, cascas, folhas e outros materiais de origem animal ou vegetal, representa mais de 50% do total de resíduos sólidos urbanos gerados no Brasil, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos do Governo Federal.
Todo esse material, quando descartado incorretamente e lançado na natureza, polui o solo e os rios, mas poderia ser reaproveitado para gerar energia elétrica limpa por meio da biomassa ou do biometano, conhecido como combustível verde.
Durante a decomposição, o lixo orgânico libera gases por causa da ação de bactérias. Esse gás pode movimentar turbinas de geradores por meio da queima, produzindo energia elétrica. Já o biometano pode ser utilizado para abastecer veículos, da mesma forma que o gás natural, substituindo combustíveis fósseis e reduzindo em até 99% as emissões de gases de efeito estufa em comparação com o gás natural.
Em Minas Gerais, resíduos industriais, agrícolas e urbanos já são utilizados para a produção desse tipo de energia limpa e renovável.
A Tereos, segunda maior produtora de açúcar do mundo e também produtora de etanol, utiliza o bagaço da cana-de-açúcar para gerar energia elétrica para consumo próprio e para comercialização no mercado livre de energia. Diversos empreendimentos mineiros se beneficiam do mesmo processo adotado pela empresa.
De acordo com Gustavo Leite Segantini, diretor comercial da Tereos, todo o resíduo gerado é aproveitado.
“Primeiro, produzimos a cana-de-açúcar. Nós somos produtores rurais que cultivam a cana. Ela vai para a usina, onde extraímos o caldo para produzir açúcar e etanol. Desse processo surge o bagaço, que chamamos de biomassa. Esse material é queimado nas caldeiras, gerando vapor que movimenta turbinas e geradores responsáveis pela produção de energia elétrica”, explica.
O diretor acrescenta que a prática contribui para reduzir problemas ambientais e atender à crescente demanda por energia.
“Você tem um cenário de aumento de resíduos e de poluição. Então, o que antes seria um problema ambiental, passa a ser uma oportunidade de aproveitamento. Além disso, o crescimento populacional aumenta a demanda por energia, e parte das fontes elétricas do país ainda não é renovável. Isso pode causar problemas, como já vimos no passado, com o apagão”, detalha Segantini.
Gustavo Leite Segantini, diretor comercial da Tereos
Na região Central de Minas, uma fazenda em Cordisburgo utiliza o gás gerado pelos resíduos da granja de porcos para produzir energia elétrica e economiza cerca de 60% no valor da conta de luz.
Mário Lúcio de Assis, responsável pela Agropecuária São Gabriel, conta que o uso de dois biodigestores resolveu o problema de instabilidade no fornecimento de energia.
“A decisão de instalar o biodigestor veio da nossa preocupação com o meio ambiente. Com ele, tivemos vários benefícios. Hoje, geramos a própria energia da fazenda, o que ajuda muito, porque a Cemig tem muitos picos e variações. O gerador resolve esse problema. Aqui, usamos energia para tudo: aquecer a água do banho dos funcionários, manter a cozinha em funcionamento e garantir energia 24 horas por dia”, afirma.
Mário Lúcio de Assis, responsável pela Agropecuária São Gabriel
Políticas de energia
A secretária estadual de Meio Ambiente, Marília Melo, destaca que Minas Gerais deve ter políticas específicas para incentivar a produção de energia a partir de resíduos.
“Devemos, em breve, levar uma proposta de regulamentação ao Conselho de Política Ambiental para que, especialmente, os resíduos orgânicos possam ser tratados com geração de biometano e aproveitamento energético”, afirma.
Secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), Marília Melo

