Presa pela operação Lava Jato em março de 2014, quando tentou embarcar com mais de 200 mil euros escondidos na calcinha no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, a doleira Nelma Kodama foi condenada no esquema que desviou bilhões da Petrobras e ficou mais de dois anos presa em regime fechado. Dez anos depois, ela é a protagonista de um documentário da Netflix que fala sobre sua trajetória de vida, do envolvimento com o câmbio ilegal e da vida após deixar a prisão.
Em entrevista ao programa “Observatório Feminino”, da Itatiaia, a doleira fala sobre como surgiu o convite para o documentário e conta detalhes sobre sua relação com personagens da maior operação de combate à corrupção do Brasil.
“Para mim foi uma surpresa ter sido presa na Lava-Jato, porque a operação falava sobre os crimes cometidos pela Petrobras, dentro da Petrobras, e eu nunca tive clientes da Petrobras”, conta Nelma Kodama.
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“Aquelas pessoas que foram presas na Lava-Jato eu não tive contato. Eu fui condenada por 91 contratos de câmbio que eu não realizei. Na assinatura desses contratos, não tem minha assinatura. Eu fui condenada por 91 contratos de câmbio fraudulentos. Fui condenada por corrupção passiva e ativa por conta de uma ajuda que eu dei para um gerente do Banco do Brasil. Ele passava por dificuldades e falou que não tinha como pagar a escola dos filhos. Eu tinha uma preocupação com os meus funcionários, disse que não teria problema e mandei R$ 2 mil para ele. Minha atuação na Lava-jato foi pelo envolvimento que eu tinha com o Youssef”, afirma.
A relação de Kodama com o doleiro Alberto Youssef, peça central nos desvios apurados pela Lava-Jato entre empreiteiras e partidos políticos, durou mais de nove anos.
“Eles me disseram ao ser presa: ‘se a senhora colaborar com o envolvimento do Youssef a senhora vai embora logo ou então vai apodrecer aqui’. Bom, eu quase apodreci ali. Eles queriam que eu falasse sobre os esquemas que o Youssef tinha com as empreiteiras para me tornar uma colaboradora. Este foi meu envolvimento com a Lava-Jato. Eu, de fato era uma doleira, fazia câmbio, cometi evasão de divisas, até hoje eu não consigo abrir uma conta no banco, porque meu CPF é muito perigoso. Eu paguei pelos meus crimes, fui condenada a 15 anos, fiquei 2 anos 3 meses e 11 dias fechada e depois mais 2 anos e 9 meses em prisão domiciliar e mais 2 anos de tornozeleira. Eu cumpri minha pena e não devo nada à sociedade. Eu paguei pelo meu crime. Então, gostaria de ter a possibilidade de abrir uma conta no banco”, afirma Nelma Kodama.
“Hoje, de verdade, acho que ele (Alberto Youssef) que era meu amante. Porque eu bancava. Quando ele foi preso, eu praticamente mantive a família dele. Foi um pacto de sangue que fizemos e eu cumpri minha parte. Não sou mais apaixonada por ele. Se eu fosse, eu estaria vivendo com ele. Eu fui no passado, vivemos muitas coisas, foi uma história bonita”, conta.