O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), tem um desafio pela frente. Depois de conseguir apoio explícito de apenas 31 dos 57 parlamentares que diz ter em sua base de apoio na Assembleia Legislativa para
Uma delas é a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Referendo. Enviada em agosto aos deputados, a matéria quer retirar da Constituição mineira a necessidade de uma consulta popular para viabilizar a privatização de empresas estatais.
A mesma PEC - que precisa dos votos de três quintos dos deputados para ser aprovada - também determina que é preciso obter apoio da maioria simples dos parlamentares, ou seja, 39 votos, para privatizar companhias como a Cemig e a Copasa. Ou seja, se repetisse a votação do projeto do ICMS da semana passada, o governo sofreria uma derrota ao tentar emplacar um dos maiores desejos da administração do Novo neste segundo mandato.
Projeto impopular e críticas a Bolsonaro marcaram votação
O Governo de Minas terá que adotar novas estratégias, se quiser aglutinar a base. Nas últimas semanas, a Itatiaia ouviu relatos de vários parlamentares governistas insatisfeitos com posturas do Governo Zema por motivos variados.
Parlamentares
Questionado sobre as diferenças com Bolsonaro, Zema citou as políticas adotadas durante a pandemia e afirmou, ainda, que, em Minas Gerais,
Essa atitude irritou parlamentares do PL, como Sargento Rodrigues e Caporezzo. Rodrigues rebateu as falas do Governador e ainda demonstrou insatisfação com o fato de Zema, segundo ele, ter se afastado de pautas consideradas caras para a direita.
“A crítica que ele fez ao presidente Bolsonaro foi completamente desproporcional e incabível. O presidente Bolsonaro continua sendo e será por muitos e muitos anos, a grande liderança da direita. Não dá para comparar Zema com Bolsonaro. Uma pessoa de direita não permitiria ou não sancionaria projetos que dizem respeito, aqui, a LGBT, o que ele tem feito. Ele tem deixado essas pautas correrem livre aqui na Casa”, critica.
A Itatiaia apurou que os deputados de direita se sentem desprestigiados dentro da base zemista. Os parlamentares reclamam que não conseguem marcar reuniões para serem recebidos pelo governador e de que não são ouvidos sobre o combate do que eles chamam de “ideologia de gênero” em projetos que tramitam no legislativo estadual.
“Eu sou eleitor do Zema e não cheguei aqui para ele aprovar ideologia de gênero, como ele fez, tendo isso como um norte para a educação. E nenhum tipo de postura tem sido tomada por parte do governo. É um absurdo ele dizer que é diferente do Bolsonaro porque ele não arruma cargo para a família. Os filhos do Bolsonaro, porque eu defendo a família Bolsonaro, foram eleitos pelo povo, eles não foram colocados lá pelo pai”, argumenta Caporezzo.
Deputados reclamam de falta de ‘diálogo’
A lista de insatisfeitos com o governo de Zema tem, inclusive, o deputado Arnaldo Silva (União Brasil), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o mais importante dos colegiados da Assembleia. O comitê é responsável por dar a primeira opinião a respeito de todos os projetos que chegam ao Legislativo.
Ao comentar o projeto do ICMS, Arnaldo diz que o aumento tributário deveria ser o “último dos caminhos” a ser adotado por um governo. O presidente da CCJ também engrossa um coro que tem ecoado na base governista: a alegação de que o governador não ouve os parlamentares na base antes de elaborar projetos e enviá-los para a Assembleia.
“Os deputados querem colaborar, querem ajudar. Estou dizendo aqui que a liderança de governo, os líderes aqui, internos, têm feito um trabalho brilhante de diálogo interno. Mas precisamos que o governo contribua para isso. Diálogo que nós falamos, é ouvir os deputados de uma forma geral. A gente quer contribuir com ações. Cada um aqui dentro tem suas causas, suas pautas... se vai tratar da saúde, chama os deputados da área da saúde. Se vai tratar da educação, chama os deputados da área da educação. Saber ouvir para construir políticas públicas é um caminho que encurta, diminui ou até elimina essas dificuldades”, recomenda.
Líderes colocam ‘panos quentes’
O líder do bloco de apoio ao governo Zema, formado por Novo, PSD, PP, PSC, Republicanos, União Brasil, Avante, Podemos e Solidariedade, o deputado Cássio Soares, do PSD, adotou um tom mais apaziguador e evitou falar em racha na base. Para justificar a baixa votação no projeto do ICMS, o parlamentar disse que o tema era espinhoso e que tradicionalmente às quintas-feiras os deputados costumam ter compromisso nas bases eleitorais.
"É compreensível que cada qual tenha a sua decisão e seus compromissos inadiáveis, também, de outras questões. O importante é que conseguirmos vencer e entregar o projeto ao governo que vai colocar dinheiro nos cofres do governo que vai ser revertido em melhoria de vida para a população mineira. Acho que cada votação é um cenário, tem deputados que se sentem desconfortáveis diante de determinadas pautas e a gente entende isso. Em todo o tempo em que estou enquanto líder, jamais impus qualquer tipo de votação para qualquer parlamentar que seja. Tenho certeza que, nas próximas votações, os resultados serão outros”, espera.
No primeiro turno, o ICMS complementar teve 33 votos favoráveis, contra 23 manifestações contrárias. O placar da votação final foi de 31 a 27, o que representa certa distância para os cálculos do líder do governo na Assembleia, João Magalhães (MDB). O emedebista projetava obter entre 37 e 40 apoios à proposta. A Itatiaia também ouviu o líder do Governa Zema na Assembleia, o deputado João Magalhães, do MDB. A nossa reportagem questionou se o projeto de ICMS expôs um racha da base do governo.
“Eu não diria racha, acho que é uma matéria muito sensível. Alguns deputados são candidato a prefeito, tiveram suas dificuldades de se expor agora, perto de um ano eleitoral”, analisa.
Questionados pela Itatiaia, os líderes João Magalhães e Cássio Soares evitaram antecipar quais serão as próximas pautas enviadas pelo Governo Zema à Assembleia Legislativa. No início desta semana, uma reunião de líderes, com a participação do Presidente da Assembleia Legislativa, Tadeu Martins Leite (MDB), irá definir as próximas pautas do legislativo. Diante disso, o governo irá traçar as próximas estratégias.