Um vídeo em que o prefeito de Divinópolis, Gleidson Azevedo (Novo), fala sobre pedidos de dinheiro a empresários da cidade para custear melhorias em equipamentos públicos tem gerado polêmica no município do Centro-Oeste mineiro. A gravação, feita no sábado (8), virou tema de representação feita por um vereador ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). A ideia é saber as circunstâncias dos repasses feitos por atores da iniciativa privada.
Obtido pela Itatiaia, o ofício ao MP de Minas, feito pelo vereador Flávio Marra (Patriota), foi enviado nessa quarta-feira (12). Nas imagens alvo de questionamentos, Gleidson não está sozinho. Ao lado dele, aparece Talles Duque, chefe de gabinete da prefeitura.
“Agora, até o Talles, meu chefe de gabinete, virou alvo de perseguição da oposição. Estão falando que vão soltar vídeos meus e do Talles pedindo dinheiro para empresário, R$ 2 mil, não sei o quê… Sempre pedi aos empresários mesmo, gente. E vou continuar pedindo. Sempre pedi para poder adotar, poder reformar, poder pagar um calçamento, poder pagar a mão de obra. Está ficando feito. Até o Talles, meu anjo negro?”, diz Gleidson, em trecho das imagens, que foram publicadas em seu Instagram.
O Ministério Público recebeu uma cópia do vídeo. O material foi endereçado à Promotoria do Patrimônio Público da Entidade. O ofício de Flávio Marra lista dúvidas a respeito da regularidade das doações. Segundo o vereador, pode haver “contraprestações de favores contrários à lei e à moralidade”.
“Há uma lei municipal com previsão de receitas e despesas do município, onde não há previsão de quaisquer tipos de doações, bem como nenhum projeto de lei de suplementação orçamentária do Executivo municipal”, aponta parte do documento.
Ainda de acordo com Marra, não há licitação ou obra pública que tenha, em seu detalhamento, a indicação do uso de recursos oriundos de doações.
À reportagem, o vereador cobrou explicações do prefeito. “É crime um empresário dar dinheiro ao município? Não. Mas tem um rito legal. Tem de haver um chamamento público, uma coisa muito às claras para a população ver o que está acontecendo”, afirmou.
Prefeito se defende
Em nota enviada à Itatiaia, o gabinete de Gleidson afirmou que as conversas com a iniciativa privada acontecem por meio de um programa criado na gestão passada. De acordo com a equipe do prefeito, trata-se de política para incentivar que entes privados “adotem” equipamentos públicos.
“Logo que se iniciou a gestão, Gleidson foi atrás dos empresários pedindo ajuda para revitalizar praças, pontes, canteiros, postos de saúde, asfaltar e calçar ruas, etc. Em razão de sua credibilidade, foram adotados aproximadamente 200 bens públicos. Essa ação rendeu a ele o prêmio Sebrae Prefeito Empreendedor 2021”, lê-se em trecho do texto.
Ainda conforme com Gleidson, os pedidos de contribuição ocorrem “de acordo com a lei” e “nunca” em benefício próprio. “O prefeito irá continuar pedindo ajuda aos empresários para conseguir melhorias para à população, inclusive, o vereador que fez a denúncia já intermediou com vários empresários para adotar diversos bens públicos”, aponta outra parte do comunicado.
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‘Quem não deve, não teme’
Gleidson é parte da linhagem política dos Azevedo. O irmão gêmeo dele, Cleitinho (Republicanos), é senador por Minas Gerais. O outro político da família é Eduardo, deputado estadual pelo PSC.
No vídeo, Gleidson diz que, se houver gravações que tratem dos pedidos financeiros a empresários, os donos do material podem chamá-lo para que ele próprio entregue o conteúdo ao MP. “Quem não deve, não teme”, garante.
Talles Duque também aproveita a publicação no Instagram para se defender. “É triste ouvir isso. Se tiver alguma coisa nesse sentido, foi quando saí da prefeitura e estava na iniciativa privada, falando alguma coisa sobre uma proposta financeira, o valor de um plano ou algo assim”, explica.
“Se tiver algum áudio, solta. Solta. Porque vamos sempre continuar pedindo, mas não é para o nosso bolso, não. É para a população”, completa.
Ambiente conturbado
A política divinopolitana tem atravessado dias conturbados. Em maio, o vereador Eduardo Print Júnior, do PSDB,
A decisão foi tomada a reboque de investigação do MP sobre suposto pagamento de propina para a aprovação, pelo Legislativo, de leis que alteravam o zoneamento urbano da cidade. O aval favoreceria empresários locais. A denúncia que gerou a investigação foi feita, justamente, por Gleidson.