Com reuniões canceladas, privatização da Copasa adentra semana final do ano na ALMG

Reuniões em plenário devem ser retomadas na terça-feira, quando base tentará aprovar a venda da Copasa e oposição aposta na obstrução

Plenário da Assembleia em dia de avaliação da privatização da Copasa

Principal tema da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a privatização da Copasa chegará inconclusa à semana derradeira dos trabalhos dos deputados estaduais. O texto está no plenário aguardando o esgotamento das sessões de discussão para a votação definitiva. Com o recesso de fim de ano marcado para a sexta-feira (19), a base governista quer resolver o tema em 2025 enquanto a oposição nutre a esperança de levar o debate para o ano eleitoral.

Na última quinta-feira (11), a reunião extraordinária marcada para as 18h foi desmarcada após um acordo entre os deputados. Ela seria a sexta sessão em plenário, o que significa o esgotamento do espaço reservado para a discussão do projeto, quando há mais instrumentos para atividades de obstrução pela oposição.

O que costuma ocorrer neste cenário é a marcação de reuniões extraordinárias que são abertas e fechadas rapidamente como forma de esgotar as seis sessões de discussão e reduzir a margem para que a oposição trave a votação usando seus tempos de fala.

A Assembleia teve reuniões em plenário marcadas para 10h, 14h e 18h na quarta (10) e na quinta-feira, sendo que apenas a última das seis não foi realizada. A tendência é de que a base governista, maioria na Assembleia, consiga a marcação da sexta sessão na próxima terça-feira (16) pela manhã, o que deixaria o Projeto de Lei 4.380/2025 — em que está prevista a venda da companhia de saneamento — pronto para votação já durante a tarde.

Da parte dos deputados alinhados ao governador Romeu Zema (Novo) é interessante resolver a tramitação do projeto o quanto antes. Antes mesmo da reunião de plenário desmarcada na quinta, a votação já foi atrasada anteriormente na semana passada, quando duas sessões da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO) foram desmarcadas diante da apresentação de emendas pela oposição.

Quatro emendas específicas do Bloco Democracia & Luta — oposição ao governo — propuseram a criação de prerrogativas para a empresa interessada em arrematar a Copasa. Elas preveem impedimentos para organizações que não cumprirem com quesitos de participação prévia na companhia de saneamento, endividamento e eficiência na prestação de serviços de água e esgoto. Todas foram rejeitadas no relatório do deputado Zé Guilherme (PP).

À oposição interessa justamente arrastar o debate o mais próximo possível do momento dos mineiros irem às urnas. Os deputados apostam na tese de que uma parcela significativa dos moradores do estado rejeita a privatização para conseguir virar votos de parlamentares da situação preocupados com um possível impacto eleitoral da aprovação do PL 4.380/2025.

Conforme previsto na Constituição de Minas Gerais, a aprovação de um projeto de privatização de estatais que prestam serviço de saneamento exige quórum qualificado de três quintos da Casa. Portanto, são necessários votos favoráveis de 48 dos 77 deputados da Assembleia. No primeiro turno, a proposta foi aprovada com 50 votos.

Emendas de municípios

Nas últimas semanas, o prefeito de Patos de Minas e presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), Luís Eduardo Falcão (sem partido), intensificou sua atuação nos debates sobre a privatização da Copasa.

Segundo apurado pela reportagem, a AMM preparou e apresentou emendas ao texto de privatização da Copasa ao presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB). As adições podem ser apresentadas em plenário, o que tem potencial para atrasar a votação.

A Copasa no Propag

O PL 4.380/2025 teve sua tramitação precedida por uma atribulada discussão da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2023, também de autoria de Zema, que derrubou a exigência de um referendo popular para autorizar a privatização da Copasa.

A privatização da Copasa, bem como da Gasmig e da Cemig, já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados, incluindo os imóveis do estado.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido. Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

Outro ponto percentual pode ser abatido com o compromisso de que a economia obtida com essa redução de juros seja reinvestida no estado. O uso do valor que não será pago em forma de dívida deve, portanto, ser aplicado em ações de segurança pública, ensino profissionalizante, infraestrutura e outras áreas nevrálgicas da estrutura do estado. A venda da Copasa é defendida como forma de obter recursos para fazer tais investimentos no primeiro ano de adesão ao Propag.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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