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BH: aliados de Fuad dizem que impasse com empresas de ônibus pode levar tarifa a R$ 6,90

Decreto que transfere tarefa de regular preços a uma superintendência da prefeitura pode mudar rumos do debate sobre o preço cobrado aos usuários dos coletivos

Sindicato de empresários e prefeitura vão se reunir nesta quinta

Além das reuniões desta quinta-feira (18) nas sedes da Câmara Municipal e da prefeitura, o debate a respeito do preço das tarifas de ônibus na cidade ganha novos contornos. Um decreto publicado pelo prefeito Fuad Noman (PSD) na mais recente edição do Diário Oficial do Município (DOM) transfere, à Superintendência de Mobilidade do Município de Belo Horizonte (Sumob), a responsabilidade de regular o preço das passagens.

Nos bastidores da Câmara, a portaria desta quinta fez com que defensores da revogação do aumento ampliassem o coro em prol da tese de que o reajuste foi ilegal. Isso porque há quem acredite que, em abril, a função de aumentar o preço das passagens ainda era de Fuad — e não da Sumob. Em meio ao impasse, interlocutores ligados à base do prefeito afirmaram, à Itatiaia, que o imbróglio pode fazer com que as empresas acionem a Justiça para revalidar decisão que pôs as tarifas em R$ 6,90.

A portaria de Fuad dando à Sumob o poder de definir o preço das passagens está na edição desta quinta do DOM. A reboque da decisão do prefeito, o mesmo periódico traz texto assinado pelo chefe da superintendência, André Dantas, com a tabela de preços do sistema de ônibus coletivos — nela, está presente a tarifa-base de R$ 6. Os valores, segundo o poder público, têm validade retroativa a 23 de abril — data em que a passagem foi reajustada nas catracas.

Decreto revoga aumento a R$ 4,50

A transferência à Sumob da competência de regular o preço das tarifas anula a determinação do ex-prefeito Alexandre Kalil (hoje no PSD) assinada em 2018 para colocar a passagem a R$ 4,50.

Por isso, a despeito da interpretação dos aliados de Fuad Noman, há partidários da avaliação de que, caso a Câmara consiga anular a decisão de reajustar a passagem a R$ 6, o preço voltará a ser de R$ 4,05 — valor cobrado aos usuários antes do decreto de Kalil que foi anulado.

“A prefeitura precisa explicar por qual motivo revogou o decreto de Alexandre Kalil que aumentou a passagem de R$ 4,05 para R $4,50 em 2018. Sem ele, a Câmara Municipal vai conseguir uma conquista ainda maior para o povo. Assim que votarmos o Projeto de Resolução 579/23, a passagem cai de R$6,00 para R$4,05”, disse, à Itatiaia, o presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo (sem partido).

Comissão aprova derrubada de aumento a R$ 6

Também nesta quinta-feira, uma Comissão Especial formada pela Câmara de BH para analisar a possibilidade de anular o aumento a R$ 6 aprovou a ideia. Agora, os 41 vereadores vão decidir, em votação em turno único, se aprovam Projeto de Resolução (PRE) que susta a portaria a respeito do reajuste.

A relatora do PRE na Comissão Especial foi Loíde Gonçalves, do Podemos. Ela distribuiu aos colegas parecer recomendando o veto ao novo valor. Segundo ela, a portaria a respeito do aumento nas tarifas tem “vícios de constitucionalidade”.

“Uma vez tendo o Poder Executivo extrapolado o seu poder regulamentar, é função do Legislativo sustar tal ato, como já pacificou o Egrégio Supremo Tribunal Federal”, lê-se em trecho do relatório.

Mais tarde, representantes do poder público vão receber dirigentes do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) para tratar do valor das tarifas e, consequentemente, do tamanho do subsídio público repassado ao setor.

A Itatiaia questionou a PBH sobre a portaria desta quinta-feira. O Executivo garantiu, de antemão, não temer que a anulação do decreto de R$ 4,50, combinada à possibilidade de sustação do aumento a R$ 6, possa levar a passagem a R$ 4,05. A prefeitura ainda admitiu a possibilidade de a passagem chegar a R$ 6,90.

“Em relação ao projeto de Resolução que suspende as portarias da Sumob, a PBH reitera que a única conquista trazida por esse texto em tramitação na Câmara Municipal, caso aprovado, será dar mais um argumento para as empresas de ônibus ressuscitarem a decisão judicial que autorizou o aumento da passagem de ônibus para R$ 6,90 (reduzida para R$ 6 graças ao recurso ajuizado pela Prefeitura), além de instituir a cobrança de R$ 1,55 para as linhas que circulam em vilas e favelas – cujo valor de tarifa foi zerado pela PBH”, lê-se em trecho de nota enviada à reportagem.

Graduado em Jornalismo, é repórter de Política na Itatiaia. Antes, foi repórter especial do Estado de Minas e participante do podcast de Política do Portal Uai. Tem passagem, também, pelo Superesportes.