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Oposição a Zema na Assembleia lança ‘carta ao povo mineiro’ contra a venda da Copasa

Bloco Democracia e Luta se manifesta contra a privatização da estatal em dia decisivo para o futuro da Copasa na Assembleia

Servidores da Copasa lotaram a Assembleia contra a privatização da companhia na última quarta-feira (23)

Nesta quinta-feira (23), dia decisivo para a votação e primeiro turno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2023, que derruba a exigência de um referendo popular para autorizar a privatização da Copasa, o bloco de oposição ao governador Romeu Zema (Novo) divulgou uma carta aberta contra a venda da companhia de saneamento do estado.

No documento, o Bloco Democracia e Luta elenca perguntas ao governo estadual para saber sobre as motivações para a venda da companhia e cita exemplos considerados mal sucedidos de privatizações de serviços de saneamento.

“Onde a privatização chegou, a experiência é clara: aumento abusivo das tarifas; piora na qualidade: menos investimento onde não há retorno rápido; exclusão social: o saneamento básico deixa de ser um direito e vira um luxo inacessível para as famílias de baixa renda; caos e apagões: a prioridade do serviço público é substituída pela prioridade do acionista”, diz trecho da carta, reproduzida na íntegra no fim desta matéria.

A PEC 24/2023, de autoria do governador Romeu Zema, propõe uma mudança na Constituição de Minas Gerais. Há mais de 20 anos, a legislação estadual determina que para privatizar estatais de gás natural, energia e saneamento, é necessária a autorização do eleitor mineiro via voto em referendo popular.

O governo do estado buscava retirar esse artigo e viabilizar a privatização de Cemig e Copasa. Após acordos entre os deputados, o texto foi alterado e manteve apenas a retirada do referendo para a Copasa.

A privatização da Copasa já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados.

O Executivo Estadual defende a venda das estatais para, com os recursos, atingir 20% da dívida com a União — hoje avaliada em R$ 170 bilhões. Se conseguir a marca, de acordo com os mecanismos do Propag, o estado consegue dividir o pagamento em até 30 anos e reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. A redução seria de dois pontos percentuais sobre a taxa hoje fixada pela inflação mais 4% ao ano.

A Itatiaia procurou o Governo de Minas e pediu um posicionamento sobre a carta do bloco de oposição. Até o momento, não houve respostas.

Leia a carta do Bloco Democracia e Luta na íntegra:

CARTA AO POVO MINEIRO:

ZEMA QUER VENDER A COPASA NA LIQUIDAÇÃO E RETIRAR DOS MINEIROS O DIREITO DE DECIDIR

Esta carta carrega a indignação urgente de quem vê o patrimônio de Minas Gerais sendo colocado numa bandeja, enquanto o governo de Romeu Zema (Novo) trama para rasgar a Constituição e silenciar o povo mineiro, tirando-lhe o direito de decidir sobre o futuro da nossa água. Movido por uma obsessão privatista, e usando o pretexto do pagamento da dívida de Minas, Zema lança um foco implacável sobre a COPASA, a nossa empresa pública que gere a água e o saneamento. Isso está acontecendo agora. Se você não fizer nada, a Copasa poderá ser privatizada ainda neste mês de outubro!

Não se trata apenas do absurdo de vender uma empresa lucrativa, premiada em áreas como sustentabilidade, inovação e experiência do cliente, incluindo reconhecimentos da revista norte-americana “Time”. Trata-se de rasgar a Constituição Estadual, de pisotear um direito que conquistamos em 2001, quando o então governador Itamar Franco blindou o patrimônio de Minas Gerais com uma regra: SÓ O POVO DECIDE sobre nossa água e energia (Cemig, Copasa, Gasmig), por meio de referendo.

Agora, a PEC 24/2023 de Zema quer aniquilar esse direito sagrado! É a famigerada PEC do Cala Boca - uma afronta que encontrou a resistência de um povo que diz NÃO ao autoritarismo: todas as pesquisas já realizadas mostram que a população mineira quer exercer o seu direito de decidir sobre o futuro das nossas estatais.

Zema e seu partido realizam essa tenebrosa transação sem ao menos responder a perguntas básicas:

- Por que, diante do adiamento dos prazos pelo decreto do Presidente da República, Minas Gerais acelera a privatização da Copasa?

- O Governo Zema, que deveria ser responsável pela qualidade do serviço de água e esgoto - e tem até o presidente do Novo na assessoria da Copasa - alega que há reclamações no serviço.

- A solução é privatizar? O que pensa a população que hoje é atendida por serviços de água e esgoto privatizados, como no Rio de Janeiro, em São Paulo ou em cidades como Ouro Preto?

- Como ficarão os acordos com as pequenas cidades, já que a lógica de mercado tende a priorizar o lucro em detrimento do interesse público e social?

Onde a privatização chegou, a experiência é clara: aumento abusivo das tarifas; piora na qualidade: menos investimento onde não há retorno rápido; exclusão social: o saneamento básico deixa de ser um direito e vira um luxo inacessível para as famílias de baixa renda; caos e apagões: a prioridade do serviço público é substituída pela prioridade do acionista.

A água precede a saúde pública, e a Copasa é o nosso instrumento para garantir que até o morador mais distante tenha acesso a este recurso vital.

Enquanto o mundo reestatiza e reconhece o fracasso da privatização dos serviços essenciais, Zema insiste em colocar Minas na contramão da história, entregando em saldão a nossa água e o nosso futuro aos seus “amigos empresários”. O pior: ele faz isso sem sequer revelar o real valor da Copasa. E não para por aí! Zema quer vender a nossa água e também as preciosas áreas de preservação ambiental sob o controle da Companhia. Para concretizar esse crime, ele quer, urgentemente, calar a sua voz!

Não podemos permitir!

Junte-se ao Bloco Democracia e Luta e a todos que resistem!

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.