Morte de pescador em ataque dos EUA no Caribe motiva denúncia; entenda

Advogado denuncia que Alejandro Carranza morreu enquanto pescava, ao ter barco atingido no Caribe pelas forças americanas; documento aponta execução extrajudicial

Enquanto o Pentágono alega que está combatendo o narcotráfico, especialistas apontam que atuação do país equivale a execuções extrajudiciais

A família de Alejandro Carranza, um pescador colombiano, alega que ele foi morto em um ataque americano no Caribe e apresentou o que é considerada a primeira denúncia contra a incursão norte-americana próxima à Costa da Venezuela à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

Apresentada nessa terça-feira (2) pelo advogado americano de direitos humanos Dan Kovalik, a petição alega que o pescador colombiano Alejandro Carranza foi morto quando os Estados Unidos atacaram seu barco na costa da Colômbia em 15 de setembro. O documento afirma que os EUA realizaram uma execução extrajudicial.

Leia também

Kovalik alegou que o ataque violou os direitos humanos do pescador. À CNN, o advogado disse que a família busca compensação e o fim de tais execuções, mas não detalhou como essas demandas seriam atendidas.

“Essas execuções são contra o direito internacional. São contra a lei americana. Queremos que isso pare, e acreditamos que esta é pelo menos uma primeira etapa para que isso aconteça”, declarou ele.

O documento aponta o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, como o autor dos crimes e afirma que ele foi o “foi responsável por ordenar o bombardeio de barcos como os de Alejandro Carranza Medina e o assassinato de todos a bordo”. A denúncia também alega que a conduta de Hegseth foi “ratificada” pelo presidente americano Donald Trump.

Desde agosto, quando sete navios de guerra foram enviados para águas internacionais na Costa da Venezuela, os EUA realizaram pelo menos 22 ataques contra supostos barcos de tráfico e deixaram 83 pessoas mortas.

Enquanto o Pentágono alega que está combatendo o narcotráfico, especialistas apontam que atuação do país equivale a execuções extrajudiciais, mesmo que tenham criminosos como alvos.

Os EUA alegam que os barcos transportavam indivíduos ligados a aproximadamente duas dezenas de cartéis de drogas envolvidos em um conflito armado com Washington e a Casa Branca afirma que as ações da administração “cumprem integralmente a Lei dos Conflitos Armados”, área do direito internacional destinada a prevenir ataques contra civis.

Trump afirmou que o ataque de 15 de setembro, que supostamente matou o pescador colombiano, havia matado três “narcoterroristas da Venezuela” que transportavam drogas para os Estados Unidos. Contudo, o advogado alega que Carranja estava pescando marlim e atum quando foi morto no ataque.

“Era isso que ele fazia. Era sua profissão e sua vocação”, afirmou. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, já havia declarado que Carranza era um pescador de longa data sem vínculos com o tráfico de drogas.

De acordo com o mandatário colombiano, o barco do pescador apresentava um sinal de socorro devido a problemas no motor. Posteriormente, Petro admitiu que Carranza pode ter aceitado dinheiro para transportar mercadorias proibidas devido à sua situação financeira, mas afirmou que “suas ações jamais mereceram a pena de morte.”

Na última segunda-feira (1°), o presidente anunciou Dan Kovalik como defensor da família dos pescadores e declarou que seu país deve convocar uma comissão de advogados colombianos para investigar o que ele considera “crimes” no Caribe.

Rebeca Nicholls é estagiária do digital da Itatiaia com foco nas editorias de Cidades, Brasil e Mundo. É estudante de jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNIBH). Tem passagem pelo Laboratório de Comunicação e Audiovisual do UniBH (CACAU), pela Federação de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) e pelo jornal Estado de Minas

Ouvindo...