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Diabetes tipo 1 pode ser reconhecido como deficiência no Brasil: o que muda na prática?

De acordo com o texto apresentado em 2022 na Câmara dos Deputados, não existe amparo legal no país que garanta atendimento adequado para quem sofre da doença

Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, existem atualmente, no Brasil, mais de 13 milhões de pessoas vivendo com a doença

O diabetes tipo 1, DM1, pode ser considerado uma deficiência no Brasil. O projeto, se aprovado no Senado Federal, pode ampliar o atendimento e a conscientização sobre a doença, além de garantir uma série de outros direitos para quem tem a condição.

Para virar lei, o PL 2.687/2022, que foi aprovado na Câmara dos Deputados, precisa de pelo menos 49 votos no Senado antes de seguir para a sanção do presidente Lula (PT), que pode ou não vetar a ideia.

Mas, na prática, o que mudaria caso a lei seja aprovada?

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Acesso a direitos

A advogada Michelly Siqueira, presidente da Comissão de Defesa do Direito da Pessoa com Deficiência da Ordem dos Advogados Seção Minas Gerais (OAB-MG), explica que a classificação iria regulamentar os critérios e meios de avaliação da doença. “A principal alteração é o acesso aos direitos previstos pela Lei Brasileira de Inclusão, a 13.146/2015.”, disse para a Itatiaia.

Segundo Siqueira, na prática, isso significa que pessoas com o tipo 1 da doença poderiam ter prioridade no atendimento público e privado, além de um apoio tecnológico para o controle da glicose, por exemplo.

“O reconhecimento da deficiência abriria portas para discussões e facilitação no acesso às tecnologias avançadas de controle glicêmico, como bombas de insulina e sistemas de monitoramento contínuo da glicose, que atualmente são de difícil acesso no Brasil por conta dos altos custos”, explicou.

Ainda segundo a advogada, o apoio, amparado pela lei, também iria impactar positivamente estudantes que fossem diagnosticados com a doença. “Eles teriam monitoramento, acesso a medicamentos e uma alimentação adequada durante período escolar”, declarou.

Alto custo

A estudante de Nutrição, Júlia Santos, natural de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, foi diagnosticada com o Diabetes quando tinha apenas 3 anos. Hoje, aos 20, ela estima que os gastos com insulinas e demais medicamentos ficam em torno de R$ 900 por mês.

Para a reportagem, ela disse acreditar que se o tipo 1 for classificado como deficiência, os custos com o tratamento poderiam ser reduzidos. “Acho que eu seria beneficiada, já que meus gastos com insulinas e as paletas que medem a glicemia são muito altos, já que não tenho nenhuma ajuda do governo”, declarou.

Esse é o kit usado diariamente pela Júlia no tratamento da doença

A estimativa é que de 5% a 10% dos casos de diabetes no Brasil seja do tipo 1, que normalmente aparece na infância ou na adolescência. O tratamento exige a aplicação diária de insulina, dentre outros medicamentos, para controlar os níveis de açúcar no sangue.

Efetivação de direitos

A reportagem também ouviu a professora Mariana Alves Lara, da Faculdade de Direito da UFMG, que explicou que a maior barreira encontrada por pessoas com deficiência no Brasil é a efetivação dos seus direitos. “A lei não tem o poder de mudar a realidade de uma maneira imediata. A mudança de realidade faz muito mais parte de um processo educacional, de mudança de cultura, que é algo mais demorado, mais complexo, mas a lei é um primeiro tudo. A quebra de barreiras atitudinais é o que a gente precisa trabalhar todos os dias para tentar alcançar. A Lei é importante, mas só ela sozinha não consegue transformar a realidade”, detalhou.

Procurada pela Itatiaia, a Secretaria de Apoio à Comissão de Assuntos Sociais do Senado não informou se haveria alguma data prevista para que o projeto avance. Em nota, eles apenas reafirmaram que a matéria “se encontra atualmente aguardando a realização de audiência pública”.


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Jornalista pela UFMG com passagem pela Rádio UFMG Educativa. Na Itatiaia desde 2022, atuou na produção de programas, na reportagem na Central de Trânsito e, atualmente, faz parte da editoria de Política.