Hoje é lembrado o Dia Mundial do Diabetes. A data serve para alertar à população sobre a gravidade da doença e a importância das ações de prevenção.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional do Vozes do Advocacy em Diabetes e Obesidade, a principal barreira para o acompanhamento de diabetes no Brasil é o tempo de espera tanto para agendar quanto para conseguir consultas médicas.
Em 13% dos casos, o médico não sugeriu periodicidade de acompanhamento. No total, 10% não costumam passar por consultas e 6% o fazem com frequência menor do que deveriam. De acordo com o estudo, aproximadamente dois milhões de pessoas têm acompanhamento inadequado da doença, o que reflete no descontrole da glicemia.
Outro dado alarmante da pesquisa que contribui para o descontrole do diabetes é que 58% dos participantes da pesquisa fazem acompanhamento com médicos de família, ao invés do endocrinologista, que tem especialização sobre a condição. Segundo Mônica Gabbay, pós- doutora em endocrinologia e coordenadora do ambulatório do Centro de Diabetes da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), esse dado é preocupante.
“As pessoas com diabetes no Brasil são acompanhadas na sua maioria por médicos da família ou clínicos, que nem sempre apresentam treinamento adequado para essa patologia, especialmente se considerarmos aqueles que apresentam diabetes tipo 1. Além disso, existe um fila de espera para agendamento de consulta, mesmo quando efetivada, nem sempre é seguida por orientação para acompanhamento. Considerando que mais de dois terços destes pacientes dependem do SUS e aqueles mais vulneráveis são os mais afetados na dificuldade de agendamento de consultas, exames e obtenção de medicação, é possível entender este cenário inadequado de controle glicêmico no Brasil, que resulta em complicação microvascular com comprometimento dos olhos, rins e nervos e as complicações macrovasculares, como alteração de colesterol e pressão. Isso revela a complexidade dos desafios enfrentados pelas pessoas com diabetes e sublinha a importância de um tratamento mais acessível e eficaz para todos”, destaca.
De acordo com a coordenadora do Vozes do Advocacy, Vanessa Pirolo, os dados da pesquisa mostram como o diabetes precisa ser tratado com urgência na saúde pública. “Problemas graves são apontados, principalmente pela população mais pobre, como barreiras que dificultam o acesso ao tratamento da doença no Brasil. Precisamos de mais investimentos, profissionais qualificados e atenção do poder público nessas questões”, ressalta.
Leia também
O que é o diabetes?
A endocrinologista Mônica Gabbay explica que o diabetes é uma doença causada pelo excesso de açúcar no sangue. Classicamente, é dividido em quatro tipos:
1 - Diabetes Gestacional: como o próprio nome diz, ocorre na gestação.
2 - Diabetes tipo 2: associado ao ganho de peso e ao sedentarismo, onde a pessoa tem a insulina no início desse diagnóstico presente e existe até uma resistência à insulina. Isso significa que a pessoa acaba produzindo até mais insulina pela carga alimentar intensa que ingere e, com o tempo, o pâncreas vai falhar em produzir insulina. O Diabetes tipo 2, ao longo da vida, vai precisar utilizar insulina, apesar de hoje terem várias medicações que seriam a mudança de estilo de vida, controle de peso, exercício e medicações orais.
3 - Diabetes tipo 1: é uma doença autoimune, em que o próprio organismo passa a reconhecer proteínas dentro do pâncreas como sendo agentes agressores, produzindo anticorpos para destruir essas células e, com isso, acaba ocasionando a destruição das células produtoras de insulina. Desde o momento do diagnóstico, essas pessoas necessitarão repor a insulina da maneira mais fisiológica possível, imitando uma pessoa que não tem diabetes. Então, diabetes tipo 1 é uma doença para o resto da vida, de caráter autoimune.
4 – Outros tipos: O diabetes que a gente chama de “outros tipos” são associados a mutações genéticas ou problemas específicos do pâncreas.
Complicações
De acordo com Mônica Gabbay, pós- doutora em endocrinologia, o problema do diabetes é a hiperglicemia crônica, ou seja, o excesso de açúcar no sangue cronicamente. “O Diabetes é uma doença vascular. Então, esse açúcar pode lesar e machucar vasos sanguíneos no corpo inteiro, como nos olhos, causando a “retinopatia”, nos vasos existentes dentro do rim, levando a “nefropatia”, nos nervos, a “neuropatia”. O diabetes pode levar a tanto doença dos vasos finos, chamadas de complicação microvascular, quando atinge rim, olhos e nervos ou complicação macrovascular, porque também atinge os vasos grandes do coração e da cabeça. As doenças cardiovasculares são a causa mais frequente de óbito nas pessoas com diabetes, seja tipo 1 ou tipo 2”, detalha.
Tratamento
A médica explica que o tratamento indicado para o diabetes é a reposição de insulina de maneira fisiológica, como um indivíduo que não tem diabetes. “É preciso repor a insulina chamada basal, que age o dia inteiro, independente da alimentação, numa dose menor e a insulina rápida nas refeições, esta é aplicada de acordo com os alimentos que o indivíduo vai comer e de acordo com a necessidade, tanto da glicemia quanto da monitorização de glicose. É necessário também monitorar a glicose e isso pode ser feito com a glicemia capilar várias vezes ao dia, idealmente de 6 a 8 vezes ao dia, antes e 2 horas após as refeições. Além disso, a glicose precisa ser mantida entre 70 e 180, mais de 70% do dia. Isso significa dizer que se em 24 horas o indivíduo consegue ficar 17 horas com a sua glicose entre 70 e 180, é o objetivo para que não tenha complicação”, explica.
Prevenção
“O diabetes tipo 1 ainda não tem prevenção, mas é possível fazer o diagnóstico, às vezes, sem ainda o quadro clínico bem estabelecido. No caso do diabetes tipo 2 é possível ter prevenção, que é feita principalmente cuidando da obesidade. A redução da obesidade tem um impacto importantíssimo em vários cenários, especialmente para diabetes. Além disso, temos a atividade física que melhora a sensibilidade à insulina e o cuidado também com a hipertensão. Então, para diabetes tipo 2, campanhas de prevenção têm um significado muito importante”, conclui Mônica Gabbay, pós- doutora em endocrinologia e coordenadora do ambulatório do Centro de Diabetes da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).