Viana sobre os 3 meses de CPMI: ‘Infelizmente não vamos conseguir recuperar metade do dinheiro’

Senador fala de obstáculos da Justiça, prisões de operadores e necessidade de auditoria nos consignados

Senador e presidente da CPMI do INSS Carlos Viana

O senador Carlos Viana, presidente da CPMI do INSS, fez um balanço detalhado dos três meses de trabalhos da comissão, abordando fraudes em benefícios previdenciários, obstáculos enfrentados durante as investigações e casos envolvendo o sindicato do irmão do presidente Lula.

Segundo Viana, a CPMI conquistou vitórias históricas ao conseguir a prisão de servidores públicos, operadores e laranjas que integravam o núcleo central do esquema de fraudes, algo inédito em comissões parlamentares no Brasil. “Todos os que nós demos voz de prisão estão presos, exceto um que está foragido. Isso é um prenúncio do que vai acontecer com os demais envolvidos”, destacou.

Apesar das vitórias, a comissão enfrenta dificuldades devido a habeas corpus concedidos pelo Supremo Tribunal Federal, que permitem que depoentes importantes compareçam em silêncio ou não compareçam. Para contornar esses obstáculos, foram criados núcleos independentes da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União dentro do STF, com atuação direta na investigação sem interferência de superiores.

Viana destacou que, apesar da complexidade, a comissão conseguiu identificar quem são os principais responsáveis, como os “laranjas” usados para lavar dinheiro e os operadores que movimentaram bilhões de reais. Segundo ele, aproximadamente R$ 400 a 500 milhões foram apreendidos, mas parte dos recursos desviados já se encontra no exterior ou foi utilizada de maneira ilícita, tornando a recuperação parcial inevitável.

O senador também detalhou suspeitas envolvendo o sindicato Sindinap, do qual o irmão do presidente Lula é vice-presidente. Segundo Viana, o sindicato teria sacado quase R$ 7 milhões “na boca do caixa” e recebido R$ 21 milhões em comissionamentos de empréstimos consignados, com parentes dos diretores como prestadores de serviço, sem documentação clara. A comissão ainda não obteve depoimentos do vice-presidente ou de outros diretores, amparados por habeas corpus, mas Viana afirma que a população tem direito de saber o destino do dinheiro desviado.

Além disso, o senador criticou a atuação de advogados que abandonaram a defesa de alguns envolvidos, como o chamado “Careca do INSS”, considerado o centro do escândalo. Segundo ele, a desistência foi motivada pela percepção da gravidade do caso e pelo volume de recursos desviados de aposentados e pessoas vulneráveis.

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Outro ponto destacado pelo presidente da CPMI é o impacto de empréstimos consignados irregulares. Viana alertou que muitos aposentados e beneficiários do BPC estão endividados devido a contratos com juros abusivos, muitas vezes promovidos por representantes de bancos em sindicatos e associações. Para proteger os beneficiários, ele propôs suspensão temporária dos pagamentos até que INSS e Banco Central realizem auditorias detalhadas.

Quanto aos próximos passos, a CPMI encerrará em dezembro a primeira fase de depoimentos, com foco nos operadores envolvidos nos desvios. A segunda fase, prevista para fevereiro de 2026, será dedicada à investigação de bancos e instituições financeiras que operaram com empréstimos consignados, assim como à análise das denúncias registradas pelos Procons. O objetivo é identificar todos os responsáveis e recuperar, na medida do possível, os recursos desviados.

Aline Pessanha é jornalista, com Pós-graduação em Marketing e Comunicação Integrada pela FACHA - RJ. Possui passagem pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, como repórter de TV e de rádio, além de ter sido repórter na Inter TV, afiliada da Rede Globo.

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