Sem Tarcísio de Freitas na disputa pela Presidência da República, a direita fica fragmentada entre outros governadores com menor expressão nacional e maior distanciamento com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União) e Ratinho Jr. (PSD), e em busca de um novo protagonista. O governador de São Paulo reafirmou, nessa segunda-feira (30), após reunião com Bolsonaro em sua casa, em Brasília, que vai concorrer à reeleição, e não disputar a cadeira no Alvorada.
Tido como preferido pelo campo conservador, Tarcísio deixa um rombo na direita – que pode ser ocupado pelos demais representantes da ala ideológica na disputa pela Presidência. Nas pesquisas de opinião, o governador de São Paulo era o mais viável contra uma eventual candidatura à reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as intenções de voto. A paridade entre o petista e demais governadores da direita não é a mesma, e há um risco de o campo ficar isolado na disputa contra Lula.
Em Minas, Zema, que ainda amarga índices de intenção de voto abaixo dos dois dígitos, tenta se viabilizar como representante da direita e anunciou sua pré-candidatura, em São Paulo, no último 16 de agosto. Desde então, o chefe do Palácio Tiradentes vem tentando nacionalizar sua figura, com esforço, principalmente, nas redes sociais e na inserção em debates que vão além das divisas do estado, como a PEC da Blindagem e a anistia aos presos de 8 de Janeiro.
O cientista político Adriano Cerqueira avalia que o governador de Minas Gerais é o nome mais viável em um cenário sem Tarcísio de Freitas, devido, principalmente, ao fato de governar o segundo maior estado no país. Contudo, ele defende ser prematuro confirmar que o governador de São Paulo não vai concorrer. “Por mais que ele fale que vai tentar a reeleição, Tarcísio está em uma situação que permite que ele postergue sua candidatura o máximo possível. É, hoje, o candidato natural (da direita), preferido de Bolsonaro”, afirma.
Sem Tarcísio, contudo, haveria um cenário de dificuldade para a unificação da direita em torno de um nome em específico, segundo o especialista, que acredita na fragmentação do campo político nesta hipótese. “Caiado, Ratinho Jr. e Zema vão tentar ficar mais próximos a Bolsonaro, e não podemos descartar ainda nomes ligados diretamente ao ex-presidente, como Michelle, que pode ser uma surpresa. Vão todos disputar esse eleitorado ligado a Bolsonaro, e para quem ele sinalizar, há maior chance de se chegar ao segundo turno”, destaca.
A fragmentação da direita seria o principal efeito de uma desistência de Tarcísio de Freitas, que acontece também a reboque de um esfacelamento do bolsonarismo frente às pautas nacionais como o tarifaço de Donald Trump, e a condenação de Jair pela trama golpista. Zema, por sua vez, seria uma carta fora do baralho por não ter elementos em sua biografia que instiguem o eleitorado a se identificar com ele. A análise é do cientista político Camilo Aggio, que reforça ainda ser cedo para desenhar um cenário firme para 2026.
“Os candidatos que mais sofrem, os com pior desempenho com disputa com o Lula, são aqueles que levam o nome de Bolsonaro. Parece ter uma vinculação de Bolsonaro e esses eventos negativos. Tarcísio se dá melhor, mas amarga uma queda. Mas tem outro elemento da organização política da extrema-direita. É muito imprevisível a postura de Jair Bolsonaro diante da disputa em 2026. Ele vai se colocar como candidato, não vai abrir mão. Não se sabe que tipo de decisão ele vai tomar. O que sobraria dessa história, seria o Tarcísio. Não se sabe se ele vai voltar atrás ou não, não sabemos que tipo de evento vai nos visitar na política. Eu apostaria em uma fragmentação na direita, e talvez talvez Jair Bolsonaro jogue parado em campo”, pontua o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Sobre Zema, Aggio pontua que ele “não tem uma história política” nem “marcas de gestão” para ser um candidato viável à Presidência do Brasil. “Não sei o quanto o Zema representa posições e ideias do brasileiro e nem sua imagem pública não representaria a nação. O Zema é uma peculiaridade mineira muito forte, um cara que ascende junto com o bolsonarismo, mas só acende porque temos um cenário de decadência ou extinção efetiva das duas grandes forças políticas regionais. O PT sofre com a avaliação catastrófica do Pimentel e o PSDB não existe mais. O Zema não tem capital eleitoral. Não tem elementos que o brasileiro possa reconhecer nele”, completa.