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Relatório que opina pelo fim do referendo popular para privatizar a Copasa é aprovado na ALMG

Dezoito deputados estaduais de oposição se revezaram nas falas durante a sessão para tentar adiar a votação do relatório de Gustavo Valadares (PSD)

Comissão Especial da PEC do Referendo aprovou relatório pela derrubada da consulta popular

Após mais de 4h30 de obstrução da oposição e apresentação de quase 300 emendas, o relatório do deputado estadual Gustavo Valadares (PSD), da base do governo Zema, foi aprovado, nesta quarta-feira (8), na Comissão Especial da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que retira o referendo popular para privatização da Copasa. O texto opina pela derrubada da consulta popular para a desestatização da companhia.

Dezoito deputados estaduais de oposição se revezaram nas falas durante a sessão para tentar adiar a votação do relatório de Valadares, mas a base de Zema acabou vencendo a discussão, e a sessão foi concluída com a aprovação do documento.

Como determina o regimento para a tramitação de PECs, foi formada uma comissão especial para avaliar o texto antes da proposta ser avaliada em plenário. O grupo foi formado por maioria de deputados governistas, sendo o presidente, Cássio Soares (PSD), líder do maior bloco da base de Zema na Casa; e o relator, Gustavo Valadares, ex-secretário de Estado de Governo na atual gestão.

A retirada do referendo é um passo crucial para a venda da Companhia de Saneamento e está incluída nas discussões do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag).

A PEC 24/2023 precisa ser aprovada em dois turnos no plenário para passar a valer. Não é necessária a sanção do governador e a alteração na Constituição mineira exige o aval da maioria qualificada de 3/5 da Casa, ou seja, 48 deputados.

A lei mineira determina a exigência do referendo desde o início do século, quando o então governador Itamar Franco aprovou uma PEC por unanimidade para estabelecer a consulta popular. A medida foi feita em represália à venda de ações da Cemig na gestão anterior, comandado por Eduardo Azeredo (PSDB).

A PEC 24/2023 previa a inelegibilidade do referendo também para a Cemig. A companhia energética foi retirada do texto durante a tramitação da proposta em articulação capitaneada pelo presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB).

A deputada Bella Gonçalves (PSOL), única de oposição na Comissão Especial, afirma que o discurso do governo Zema é “mentiroso” e que não há necessidade de acabar com o referendo para vender as estatais. “O prazo foi prorrogado pelo governo e qualquer violação da voz e do poder de decisão direto do povo vai ser levado por nós à justiça, caso seja aprovado aqui na Assembleia Legislativa. A gente sabe que esse projeto é um projeto absolutamente antipopular”, pontuou.

Venda da Copasa e o Propag

A retirada do referendo já era uma pauta em discussão no governo estadual desde 2023 e integrava os esforços pela privatização da Cemig e da Copasa. Com uma maioria contrária à proposta na Assembleia, o projeto não chegou a avançar em sua tramitação.

Com a criação do Propag, regulamentado em abril deste ano, as discussões sobre privatizações ganharam novo fôlego. A iniciativa, apresentada pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e construída em parceria com deputados mineiros como alternativa ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), propõe o parcelamento da dívida de Minas com a União em até 30 anos e a redução dos juros, atualmente calculados pelo IPCA mais 4% ao ano.

Um dos dispositivos do Propag prevê o abatimento de dois pontos percentuais nos juros mediante o pagamento antecipado de 20% do montante total da dívida, estimada em R$ 170 bilhões. Para quitar essa parcela, o governo mineiro planeja a federalização ou venda de empresas estatais, entre elas a Copasa.

Com o fim da exigência do referendo, o governo poderá dar prosseguimento ao Projeto de Lei (PL) 4380/2025, que trata especificamente da autorização para a privatização da Copasa.

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Jornalista pela UFMG, Lucas Negrisoli é editor de política. Tem experiência em coberturas de política, economia, tecnologia e trends. Tem passagens como repórter pelo jornal O Tempo e como editor pelo portal BHAZ. Foi agraciado com o prêmio CDL/BH em 2024.
Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.