Otoni de Paula defende distanciamento do bolsonarismo e teme risco eleitoral da direita

Conflito da família Bolsonaro piora situação da direita, afirma deputado

Deputado federal Otoni de Paula

O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) fez nesta quarta-feira (3), um alerta sobre a necessidade da direita brasileira se distanciar do extremismo bolsonarista e reorganizar seu campo político. Para ele, é fundamental diferenciar o que é a direita e o que representa o bolsonarismo, que ele considera uma parcela minoritária e radical do eleitorado.

“Eu acho que está na hora da gente separar o que é direito e o que é bolsonarismo. Na verdade, o bolsonarismo encampa parte da direita, mas é uma parte minoritária. Pesquisas recentes mostram que essa parte representa de 10% a 12% do eleitorado brasileiro, no máximo 15%. E dentro desse número, ainda existem aqueles que vivem numa bolha, acreditando que Bolsonaro não erra e absorvendo qualquer informação que surge dentro dessa bolha como verdade”, afirmou Otoni.

O deputado ressaltou que essa confusão entre direita e bolsonarismo pode prejudicar toda a estratégia eleitoral do campo conservador. “Eu sei disso porque eu vim de lá e sei o quanto o bolsonarismo, se você não tomar cuidado, vai fazer mal à direita brasileira. O primeiro ponto é separar o que é direita e o que é bolsonarismo”, disse.

Otoni também criticou a atual disputa dentro da família Bolsonaro, que, na avaliação dele, tem contribuído para enfraquecer a direita. Segundo o deputado, a briga entre Michele Bolsonaro e os filhos do ex-presidente, Carlos, Eduardo e Flávio, representa um cabo de guerra político que afeta o campo conservador.

“Temos a família dividida: de um lado os filhos, capitaneando um pragmatismo político; do outro, Michele Bolsonaro, defendendo a velha utopia bolsonarista de que só ela é ‘limpinha’ e não pode se colar com quem é ‘sujinho’. A ex-primeira-dama leva vantagem, porque representa a honra do esposo preso e a opinião pública enxerga a responsabilidade dos filhos pelo que aconteceu. Esse conflito tem se ramificado e pode fortalecer a eleição da esquerda em diversos estados”, disse Otoni.

O deputado explicou que a vitória de candidatos da esquerda em eleições regionais pode ser um reflexo direto do extremismo e da divisão do bolsonarismo: “A postura de Michele Bolsonaro vai se proliferando em outras camadas e estados. O problema é que a direita precisava ter coragem de criar pernas próprias, mas falta essa coragem.”

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Para Otoni, a saída do bolsonarismo radical é necessária, mas não significa renegar o legado do ex-presidente. Ele destacou que é possível respeitar a trajetória de Bolsonaro sem ficar refém de sua família ou do grupo que hoje comanda politicamente:

“Antes de ser bolsonarista, eu era de direita. Eu sempre fui de direita. Não estou vendendo meus valores, não estou renegando o passado de Bolsonaro nem a gratidão pelo que ele fez, colocando muito claro quem é quem no tabuleiro. Mas precisamos nos reorganizar como campo ideológico, porque agora não temos mais a voz dele, ele está preso. Se a direita não se posicionar, vamos entregar o país novamente ao PT, simples assim. Isso exige coragem”, afirmou.

Otoni de Paula reforçou que o bolsonarismo radicalizado, se mantido, prejudica o fortalecimento da direita e abre espaço para a ascensão da esquerda nas próximas eleições. Para ele, a solução passa pelo distanciamento do extremismo e pela reconstrução de uma identidade clara para o campo conservador brasileiro.

Aline Pessanha é jornalista, com Pós-graduação em Marketing e Comunicação Integrada pela FACHA - RJ. Possui passagem pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, como repórter de TV e de rádio, além de ter sido repórter na Inter TV, afiliada da Rede Globo.

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