A Receita Federal apresentou nesta quinta-feira (31), em Brasília, os resultados da
Ao todo, foram 60 municípios e 20 estados com alvos de busca e apreensão, 27 prisões em flagrante, 3,5 toneladas de drogas apreendidas, mais de 220 veículos e uma aeronave interceptados, além de 160 milhões de reais em mercadorias irregulares, valor atualizado durante a coletiva pelo secretário especial da Receita Federal, Robinson Sakiyama Barreirinhas.
“Os números são estarrecedores, mas mais importante do que a quantidade de drogas e mercadorias apreendidas é identificar quem está por trás disso, quem financia, quem lucra e quem lava o dinheiro dessas atividades ilícitas”, afirmou Barreirinhas.
Ação em Belo Horizonte revelou estrutura milionária de contrabando
O destaque da operação foi a interdição de um prédio de 20 andares em Belo Horizonte, onde funcionava uma complexa rede de importação e distribuição de produtos descaminhados, mercadorias trazidas ilegalmente do exterior sem o devido pagamento de impostos.
De acordo com a superintendente-adjunta da 6ª Região Fiscal (que abrange Minas Gerais), Viviane Lopes Franciscani, o edifício servia como centro logístico de uma organização criminosa que operava “desde a importação até a venda final dos produtos”, com movimentações mensais estimadas em R$ 50 milhões.
“Em todos os andares havia mercadorias importadas irregularmente. O sucesso da operação se deve à integração entre os órgãos parceiros, Receita, Polícia Federal, Exército, Polícia Militar e Secretaria da Fazenda”, explicou Viviane Lopes. A auditoria no local ainda está em andamento, e a Receita Federal estima que o valor total das apreensões em Belo Horizonte pode ultrapassar significativamente os R$ 50 milhões iniciais. Com base na documentação apreendida, deverão ser lançados novos autos de infração e cobranças de tributos sonegados.
Fronteiras e inteligência integrada
Segundo o coordenador-geral de Repressão, Raphael Eugênio de Souza, a operação foi planejada desde maio com foco em rotas de entrada de drogas e contrabando nas fronteiras com dez países sul-americanos. Foram utilizados drones, imagens de satélite e helicópteros da Receita Federal para mapear as rotas e definir os alvos.
Durante as duas semanas de ação, equipes interceptaram comboios vindos do Paraguai com mais de duas toneladas de maconha, além de frustrar o roubo de mil pistolas que seriam destinadas a facções criminosas.
“Nosso trabalho é cortar o fluxo financeiro e logístico das organizações criminosas. A repressão não se faz apenas com armas, mas com inteligência e integração”, disse Raphael.
Expansão e modernização do combate ao crime
Durante a coletiva, Barreirinhas anunciou que a Receita Federal está em processo de reestruturação interna, com a criação de dez novas Delegacias de Repressão e uma Delegacia de Combate a Organizações Criminosas.
Essas unidades especializadas devem ser implementadas ainda em 2025, com o objetivo de fortalecer a investigação de fraudes estruturadas, lavagem de dinheiro e crimes transnacionais.
“Estamos sufocando o pilar financeiro das organizações criminosas”, ressaltou o secretário. “Além da ação repressiva, estamos modernizando as normas de identificação de beneficiários finais, regulamentando o uso de criptoativos e fechando brechas usadas por fintechs e fundos de investimento para ocultação de recursos.” A nova instrução normativa sobre beneficiários finais, publicada no Diário Oficial da União nesta quinta-feira, determina que fundos de investimento identifiquem seus cotistas reais, o que deve dificultar a lavagem de dinheiro via estruturas empresariais complexas.
Cooperação internacional e legado social
A operação também reforçou a cooperação internacional da Receita Federal, que mantém adidos em países como Argentina, Paraguai, Uruguai e, em breve, China. O órgão participa ainda do Crypto Asset Reporting Framework (CARF), sistema global de troca de informações sobre criptoativos, previsto para começar em 2026.
Parte das mercadorias apreendidas será destinada a projetos sociais e órgãos públicos por meio do programa Receita Cidadã, que reaproveita produtos do crime para apoiar áreas como educação, saúde e segurança. Segundo Barreirinhas, “mais de R$ 1 bilhão por ano” é redistribuído dessa forma.
“O crime organizado afeta primeiro o cidadão comum, o comerciante que paga imposto em dia e vê o mercado ser invadido por produtos ilegais. Nosso trabalho é proteger essa economia e devolver à sociedade o que foi retirado dela”, concluiu o secretário.
Durante a coletiva, o secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, mencionou que parte da reestruturação planejada pelo órgão foi impactada pela não apreciação da Medida Provisória 1.303/2024 pelo Congresso Nacional.
O texto, que previa ajustes administrativos e a criação formal de novas delegacias especializadas de repressão e combate a organizações criminosas, acabou travado na pauta legislativa, o que, segundo ele, atrasou a consolidação da estrutura necessária para ampliar o alcance das operações. Apesar do impasse, Barreirinhas afirmou que a Receita continuará avançando com o trabalho de forma integrada e pretende retomar o conteúdo da MP em outro projeto de lei ainda neste ano, garantindo a continuidade das ações de modernização e fortalecimento da fiscalização.