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Receita apresenta resultados da Operação Fronteira: prédio de 20 andares é interditado em BH

Operação terminou com 27 prisões, apreensão de 3,5 toneladas de drogas e R$ 160 milhões em mercadorias irregulares; em Minas Gerais, esquema movimentava R$ 50 milhões por mês

Coletiva - Encerramento da Operação Fronteira RFB – Receita Federal

A Receita Federal apresentou nesta quinta-feira (31), em Brasília, os resultados da Operação Fronteira, de uma das maiores operações conjuntas já realizadas contra o crime organizado e o contrabando no país. A ação, que contou com a participação de mais de 1.500 agentes públicos, envolveu a Polícia Federal, as Forças Armadas, as polícias estaduais, a Polícia Rodoviária Federal, secretarias estaduais da Fazenda e o Ministério da Agricultura, entre outros órgãos.

Ao todo, foram 60 municípios e 20 estados com alvos de busca e apreensão, 27 prisões em flagrante, 3,5 toneladas de drogas apreendidas, mais de 220 veículos e uma aeronave interceptados, além de 160 milhões de reais em mercadorias irregulares, valor atualizado durante a coletiva pelo secretário especial da Receita Federal, Robinson Sakiyama Barreirinhas.

“Os números são estarrecedores, mas mais importante do que a quantidade de drogas e mercadorias apreendidas é identificar quem está por trás disso, quem financia, quem lucra e quem lava o dinheiro dessas atividades ilícitas”, afirmou Barreirinhas.

Ação em Belo Horizonte revelou estrutura milionária de contrabando

O destaque da operação foi a interdição de um prédio de 20 andares em Belo Horizonte, onde funcionava uma complexa rede de importação e distribuição de produtos descaminhados, mercadorias trazidas ilegalmente do exterior sem o devido pagamento de impostos.

De acordo com a superintendente-adjunta da 6ª Região Fiscal (que abrange Minas Gerais), Viviane Lopes Franciscani, o edifício servia como centro logístico de uma organização criminosa que operava “desde a importação até a venda final dos produtos”, com movimentações mensais estimadas em R$ 50 milhões.

“Em todos os andares havia mercadorias importadas irregularmente. O sucesso da operação se deve à integração entre os órgãos parceiros, Receita, Polícia Federal, Exército, Polícia Militar e Secretaria da Fazenda”, explicou Viviane Lopes. A auditoria no local ainda está em andamento, e a Receita Federal estima que o valor total das apreensões em Belo Horizonte pode ultrapassar significativamente os R$ 50 milhões iniciais. Com base na documentação apreendida, deverão ser lançados novos autos de infração e cobranças de tributos sonegados.

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Fronteiras e inteligência integrada

Segundo o coordenador-geral de Repressão, Raphael Eugênio de Souza, a operação foi planejada desde maio com foco em rotas de entrada de drogas e contrabando nas fronteiras com dez países sul-americanos. Foram utilizados drones, imagens de satélite e helicópteros da Receita Federal para mapear as rotas e definir os alvos.

Durante as duas semanas de ação, equipes interceptaram comboios vindos do Paraguai com mais de duas toneladas de maconha, além de frustrar o roubo de mil pistolas que seriam destinadas a facções criminosas.

“Nosso trabalho é cortar o fluxo financeiro e logístico das organizações criminosas. A repressão não se faz apenas com armas, mas com inteligência e integração”, disse Raphael.

Expansão e modernização do combate ao crime

Durante a coletiva, Barreirinhas anunciou que a Receita Federal está em processo de reestruturação interna, com a criação de dez novas Delegacias de Repressão e uma Delegacia de Combate a Organizações Criminosas.

Essas unidades especializadas devem ser implementadas ainda em 2025, com o objetivo de fortalecer a investigação de fraudes estruturadas, lavagem de dinheiro e crimes transnacionais.

Estamos sufocando o pilar financeiro das organizações criminosas”, ressaltou o secretário. “Além da ação repressiva, estamos modernizando as normas de identificação de beneficiários finais, regulamentando o uso de criptoativos e fechando brechas usadas por fintechs e fundos de investimento para ocultação de recursos.” A nova instrução normativa sobre beneficiários finais, publicada no Diário Oficial da União nesta quinta-feira, determina que fundos de investimento identifiquem seus cotistas reais, o que deve dificultar a lavagem de dinheiro via estruturas empresariais complexas.

Cooperação internacional e legado social

A operação também reforçou a cooperação internacional da Receita Federal, que mantém adidos em países como Argentina, Paraguai, Uruguai e, em breve, China. O órgão participa ainda do Crypto Asset Reporting Framework (CARF), sistema global de troca de informações sobre criptoativos, previsto para começar em 2026.

Parte das mercadorias apreendidas será destinada a projetos sociais e órgãos públicos por meio do programa Receita Cidadã, que reaproveita produtos do crime para apoiar áreas como educação, saúde e segurança. Segundo Barreirinhas, “mais de R$ 1 bilhão por ano” é redistribuído dessa forma.

“O crime organizado afeta primeiro o cidadão comum, o comerciante que paga imposto em dia e vê o mercado ser invadido por produtos ilegais. Nosso trabalho é proteger essa economia e devolver à sociedade o que foi retirado dela”, concluiu o secretário.

Durante a coletiva, o secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, mencionou que parte da reestruturação planejada pelo órgão foi impactada pela não apreciação da Medida Provisória 1.303/2024 pelo Congresso Nacional.

O texto, que previa ajustes administrativos e a criação formal de novas delegacias especializadas de repressão e combate a organizações criminosas, acabou travado na pauta legislativa, o que, segundo ele, atrasou a consolidação da estrutura necessária para ampliar o alcance das operações. Apesar do impasse, Barreirinhas afirmou que a Receita continuará avançando com o trabalho de forma integrada e pretende retomar o conteúdo da MP em outro projeto de lei ainda neste ano, garantindo a continuidade das ações de modernização e fortalecimento da fiscalização.

Aline Pessanha é jornalista, com Pós-graduação em Marketing e Comunicação Integrada pela FACHA - RJ. Possui passagem pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, como repórter de TV e de rádio, além de ter sido repórter na Inter TV, afiliada da Rede Globo.