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PBH irá mapear deslocamentos de usuários do transporte público noturno em agosto

A prefeitura está coletando dados de empregadores e funcionários que dependem, de alguma forma, dos ônibus após às 21h na capital mineira

A falta de ônibus durante a noite foi tema de audiência pública nesta quinta-feira (24) na CMBH.

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) irá começar, em agosto, a mapear os resultados preliminares da pesquisa que identifica padrões de deslocamento entre usuários do transporte noturno na capital mineira — após as 21h. A informação foi confirmada pelo subsecretário de Planejamento de Mobilidade, Lucas Colen, durante audiência na Câmara Municipal nesta quinta-feira (24).

Segundo Colen, a pesquisa abriu os questionários para usuários do transporte público em junho. Embora a PBH deva começar a analisar os dados em agosto, os formulários — que são anônimos — continuarão disponíveis para preenchimento.

Na audiência, que teve como objetivo discutir a falta de ônibus em horário noturno para atender turistas e trabalhadores, representantes do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SETRA-BH) apresentaram os seguintes dados:

  • Em março de 2020, antes da pandemia, o número de passageiros em horário noturno, em dia útil, era de 3.858, distribuídos em 434 viagens.
  • Em junho de 2025, após a pandemia, esse número passou a 2.260 passageiros e 516 viagens.
  • Aos sábados, antes da pandemia, eram realizadas 558 viagens no horário noturno, atendendo 5.448 passageiros.
  • Após a pandemia, em 2025, esse número caiu para 3.356 passageiros em 553 viagens.

As informações, no entanto, foram questionadas pelos parlamentares. A vereadora Marcela Trópia (Novo) afirmou que os dados de viagens informados pelo sindicato não condizem com a realidade e cobrou maior transparência. “Não adianta eles fazerem somente as viagens que já faziam, porque estamos em um dilema. A pessoa precisa do ônibus e ele não passa. Como ela sabe que não passa, ela deixa de precisar, deixa de ir para o ponto, porque ninguém vai ficar plantado sabendo que o transporte não irá passar”, explicou à Itatiaia.

‘Capital dos botecos que age como cidade do interior’

O problema da falta de ônibus durante a madrugada afeta não só entusiastas da vida noturna em BH e funcionários, mas também empresários do setor cultural e gastronômico.

Thiago Alves, empresário e dono do boteco Nada Contra, no bairro Funcionários, participou da audiência e explicou que não consegue funcionar depois das 23h devido à falta de transporte para a equipe. “Existe uma dificuldade grande de contratar, porque acaba que não tem ônibus para as pessoas voltarem para casa mais tarde. BH diz que é a capital da gastronomia e do entretenimento, mas, infelizmente, o que a gente percebe é que, principalmente no pós-pandemia, mas também antes, já havia certa dificuldade na mobilidade urbana”, disse à reportagem.

O empresário também citou a falta de integração tarifária e de horários entre os ônibus municipais e os metropolitanos.

Ele relatou que muitos dos funcionários são de cidades da Grande BH, como Sabará e Ribeirão das Neves, o que dificulta ainda mais o horário de funcionamento dos estabelecimentos."Meu bar fecha às 23h, muito em função desse problema de mobilidade. A gente queria abrir todos os dias, durante a semana até meia-noite e, aos fins de semana, até 1h, mas isso é impossível. Existe muita dificuldade para os trabalhadores se deslocarem. Alguns preferem usar transporte por aplicativo, mas é muito inseguro”, relatou.

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Encaminhamentos

A Comissão de Mobilidade Urbana, Indústria, Comércio e Serviços da CMBH irá cobrar da prefeitura a apresentação pública dos resultados da pesquisa.

Segundo a vereadora Luiza Dulci (PT), autora do requerimento da audiência, o encontro desta quinta-feira faz parte de um conjunto de atividades articuladas pela Câmara sobre a pauta da mobilidade, com o objetivo de apresentar ao Executivo soluções — e não apenas os problemas. “Tem uma comissão de estudo que está ativa, realizando reuniões, em contato inclusive com as empresas de ônibus. Em 2028, o contrato será revisto, e a Câmara tem se preparado para tentar identificar o que precisa ser melhorado. Um dos pontos é a tarifa, outro é o quadro de férias, e outro é o horário noturno”, afirmou à Itatiaia.

O vice-líder do governo, vereador Helton Júnior (PSD), afirmou que irá repassar as demandas levantadas na audiência ao prefeito Álvaro Damião (União Brasil).

Queremos que BH seja a cidade do ‘sim’ para eventos culturais e de lazer, e, para isso, é muito importante pensar no transporte. É um direito importante, porque dá acesso a outros direitos. Se eu tenho direito ao lazer, como é que faço esse direito ser efetivado se não tenho uma linha de ônibus que contemple quem está ali? Que quer ir para casa ou chegar a determinado lugar? Então há, sim, um desejo muito grande do Executivo de sanar esse problema.”
— declarou.

Jornalista pela UFMG com passagem pela Rádio UFMG Educativa. Na Itatiaia desde 2022, atuou na produção de programas, na reportagem na Central de Trânsito e, atualmente, faz parte da editoria de Política.