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Oposição força a barra por anistia e avisa que texto restrito não tem vez

Sem urgência imediata, articulação prevê reuniões com partidos de centro e disputa sobre a elegibilidade de Bolsonaro

Oposição diz não a anistia ‘light’ e busca reforços para votar a pauta

A tramitação da pauta da anistia no Congresso caminha em ritmo de articulações internas, sem definição de datas para votação, mas com uma estratégia clara: concentrar negociações na escolha do relator e mapear votos suficientes para garantir aprovação no plenário.

Durante reunião entre o líder do PL na Câmara Sóstenes Cavalcante e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, que aconteceu nesta quinta-feira (4), na Residência Oficial da Casa Legislativa, foram discutidos:

  • Calendário e ritmo da tramitação: não haverá votação nem regime de urgência na próxima semana. As sessões serão remotas, e uma nova rodada de conversas está marcada para segunda-feira com líderes de partidos de centro, como União Brasil, PSD e Republicanos.
  • Definição do relator: o nome deve ser anunciado até o fim da próxima semana. A preferência é por um parlamentar de centro, evitando o PL. Partidos como União Brasil, PP e Republicanos estão entre os cogitados.
  • Texto em debate: existem três versões circulando. Uma delas, defendida pelo grupo de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, inclui a reversão da sua inelegibilidade. A decisão final caberá ao relator escolhido.
  • Mapa de votos: articuladores refizeram os cálculos e acreditam que a proposta pode alcançar mais de 300 votos favoráveis na Câmara.

A reunião também tratou das pressões externas. Sóstenes criticou a postura do Supremo Tribunal Federal, que, segundo eles, busca dificultar a tramitação da anistia. Para ele, essa atuação tem como objetivo “ manter Bolsonaro como preso político”.

No Senado, o cenário é mais complexo. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre, e o presidente da CCJ, Otto Alencar, defendem uma versão reduzida da anistia, que apenas diminua penas. O grupo favorável à anistia ampla, entretanto, insiste que não aceitará “atalhos” que esvaziem o conteúdo original. Há ainda a possibilidade de o tema ser levado direto ao plenário por meio de urgência, sem análise pela CCJ.

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Outro ponto sensível é a questão da elegibilidade de Bolsonaro. Mesmo reconhecendo que pode ser um ponto de negociação futura, os aliados afirmam que lutarão para mantê-la no texto atual. Há quem avalie que o tema poderá ser resolvido apenas em 2026, quando o ministro Cássio Nunes assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Enquanto isso, articulações políticas seguem em paralelo a gestos de caráter pessoal. Parte da base tenta autorização para visitar Bolsonaro, alegando que as visitas têm como objetivo expressar solidariedade e não discutir estratégias imediatas.

Os próximos passos, portanto, giram em torno de três frentes principais:

  1. Escolha do relator até o fim da próxima semana.
  2. Reunião com líderes de centro na segunda-feira.
  3. Definição do texto final da anistia, com a elegibilidade de Bolsonaro como ponto central da disputa.

Com isso, ainda sem pressa oficial, a pauta da anistia permanece no radar político, cercada por negociações de bastidores e expectativas de que, quando for votada, receba apoio majoritário no plenário.

Aline Pessanha é jornalista, com Pós-graduação em Marketing e Comunicação Integrada pela FACHA - RJ. Possui passagem pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, como repórter de TV e de rádio, além de ter sido repórter na Inter TV, afiliada da Rede Globo.