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Lula critica EUA e diz que Brics tem ‘legitimidade’ para refundar o multilateralismo

Presidente condenou decisão do líder americano Donald Trump de enviar navios de guerra à costa da Venezuela

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma defesa enfática do multilateralismo durante reunião virtual com líderes do Brics nesta segunda-feira (8). O encontro, convocado a pedido do petista, foi uma tentativa de articular uma resposta conjunta do grupo às tarifas impostas pelos Estados Unidos a vários países.

Em seu discurso, Lula afirmou que as medidas decretadas pelo governo de Donald Trump ameaçam a soberania dos países e disse que os princípios que regem a governança internacional após a Segunda Guerra Mundial estão sendo “solapados de forma acelerada e irresponsável”.

“A chantagem tarifária está sendo normalizada como instrumento para conquista de mercados e para interferir em questões domésticas. A imposição de medidas extraterritoriais ameaça nossas instituições. Sanções secundárias restringem nossa liberdade de fortalecer o comércio com países amigos. Dividir para conquistar é a estratégia do unilateralismo”, declarou o presidente brasileiro.

Neste cenário, segundo o petista, os Brics têm a “legitimidade necessária” liderar a refundação do multilateralismo.

Ucrânia

Com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, presente na reunião, Lula voltou a defender o fim da guerra na Ucrânia, mas com uma “solução realista que respeite as legítimas preocupações de segurança de todas as partes”.

Ele afirmou ainda que a reunião entre Putin e Trump no Alaska, em 15 de agosto, são “passos na direção correta” e ressaltou que outros países, como o Brasil e a China, estão dispostos a ajudar numa resolução para o conflito.

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Venezuela X EUA

Lula mencionou também criticou a decisão de Trump de enviar navios de guerra americanos à costa venezuelana sob a justificativa de combater o crime internacional. Ele ressaltou que assim como o terrorismo não está associado a nenhuma religião ou nacionalidade, “não pode ser confundido” com os problemas de segurança pública enfrentado por vários países.

“São fenômenos distintos e que não devem servir de desculpa para intervenções à margem do direito internacional. A América Latina e o Caribe fizeram a opção, desde 1968, por se tornar livres de armas nucleares. Há quase 40 anos somos uma Zona de Paz e Cooperação. A presença de forças armadas da maior potência do mundo no Mar do Caribe é fator de tensão incompatível com a vocação pacífica da região”, pontuou.

Governança global

Lula defendeu ainda que seja pensada uma estrutura internacional que regule o ambiente digital para evitar a dominação de países sobre os outros.

“Sem uma governança democrática, projetos de dominação centrado em poucas empresas de alguns países vão se perpetuar. Sem soberania digital, seremos vulneráveis à manipulação estrangeira. Isso não significa fomentar um ambiente de isolacionismo tecnológico, mas fomentar a cooperação a partir de ecossistemas de base nacional, independentes e regulados”, argumentou.

Por fim, o presidente brasileiro pediu apoio dos Brics na criação de um Conselho de Mudança do Clima da ONU (Organização das Nações Unidas) e para o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que será lançado durante a COP 30, em Belém.

Repórter de política em Brasília. Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), chegou na capital federal em 2021. Antes, foi editor-assistente no Poder360 e jornalista freelancer com passagem pela Agência Pública, portal UOL e o site Congresso em Foco.