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Fux vota para absolver todos os réus do núcleo 4 da trama golpista

Ministro do STF afirmou que não há provas contra os réus e diz que o tribunal cometeu injustiças em julgamentos anteriores sobre a tentativa de golpe

Ministro Luiz Fux no julgamento da Ação Penal 2694 -Núcleo 4

O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou nesta terça-feira (21) para absolver todos os sete réus que compõem o núcleo 4 da denúncia sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Agora, o placar está em 2 a 1 para a condenação dos integrantes do grupo. Restam os votos de Cármen Lúcia e Flávio Dino.

Em um voto, Fux afirmou que não há provas suficientes para condenar os acusados por tentativa de golpe ou pelos demais crimes imputados a eles.

“Certamente, o risco de sanção criminal pela mera discussão privada sobre o processo eleitoral ou mesmo por pesquisas particulares de cunho técnico afastará muitos cidadãos da sadia participação na arena democrática”, afirmou o ministro.

Fux também reiterou o entendimento de que o STF não teria competência para julgar o caso, que, segundo ele, deveria tramitar na primeira instância. Por isso, defendeu que todo o processo fosse anulado.

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Em relação aos atos de 8 de janeiro de 2023, Fux afirmou que não há nenhuma prova que relacione os réus do núcleo 4 às invasões e depredações nas sedes dos Três Poderes, em Brasília.

Mudança de postura

Logo no início de seu voto, o ministro reconheceu que o Supremo pode ter cometido erros em condenações anteriores relacionadas aos atos golpistas de 8 de janeiro.

Embora tenha votado anteriormente pela condenação de diversos envolvidos, Fux mudou de posição e decidiu votar pela absolvição do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros quatro réus do chamado núcleo 1.

“Meu entendimento anterior, embora amparado pela lógica da urgência, incorreu em injustiças que o tempo e a consciência já não me permitiam sustentar. O meu realinhamento não representa fragilidade de propósito, mas firmeza na defesa do Estado de Direito”, disse o ministro.

Ainda em seu voto, Fux disse que o tempo lhe trouxe “senso de humanidade” e a coragem de reexaminar vereditos passados.

“O passar do tempo amadurece em nós o senso de humanidade e a coragem de reexaminar nossos próprios vereditos. Devemos revisitar os fatos com serenidade e reavaliar conclusões à luz das garantias constitucionais”, afirmou.

Núcleo 4

De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), o grupo teria usado a estrutura do Estado, incluindo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), para disseminar desinformação sobre as urnas eletrônicas, atacar autoridades públicas e desacreditar o processo eleitoral.

Os réus do núcleo 4 são:

  • Ailton Gonçalves Moraes Barros, major da reserva;
  • Ângelo Martins Denicoli, major da reserva;
  • Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, engenheiro e presidente do Instituto Voto Legal;
  • Giancarlo Gomes Rodrigues, subtenente do Exército;
  • Guilherme Marques de Almeida, tenente-coronel do Exército;
  • Marcelo Araújo Bormevet, agente da PF e ex-integrante da Abin;
  • Reginaldo Vieira de Abreu, coronel do Exército.

O julgamento está em 2 votos a 1 para condenar os réus. O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, votou pela condenação dos réus e foi acompanhando integralmente por Cristiano Zanin.

Moraes e Zanin votaram para condenar seis réus por cinco crimes:

  • Organização criminosa armada;
  • Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  • Tentativa de golpe de Estado;
  • Dano qualificado;
  • Deterioração de patrimônio tombado.

No entanto, em relação ao réu Carlos Cesar Rocha, o ministro decidiu condenar ele somente aos crimes de organização criminosa armada e tentativa de golpe. Os outros crimes, Moraes e Zanin decidiram absolver o réu por falta de provas.

Repórter de política em Brasília, com foco na cobertura dos Três Poderes. É formado em Jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB) e atuou por três anos na CNN Brasil, onde integrou a equipe de cobertura política na capital federal. Foi finalista do Prêmio de Jornalismo da Confederação Nacional do Transporte (CNT) em 2023.