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Faixas em bairros de BH alegam ‘traição’ de vereadores que votaram contra a tarifa zero

Protestos foram instalados nos redutos eleitorais de signatários do texto que votaram contra o projeto; vereadores questionam autoria das faixas

Faixas foram instaladas nos redutos eleitorais de vereadores que votaram contra o PL da tarifa zero

Uma semana após a derrota da proposta que pretendia a instaurar a tarifa zero nos ônibus de Belo Horizonte, a discussão sobre o assunto segue viva na capital mineira. Faixas distribuídas em bairros da cidades cobram vereadores que assinaram o Projeto de Lei (PL) 60/2025 e depois votaram contra o texto no plenário.

Imagens enviadas à Itatiaia nesta sexta-feira (10) mostram faixas instaladas nas bases eleitorais dos vereadores que mudaram de ideia sobre o projeto. Todas elas citam nominalmente o parlamentar e depois trazem o mesmo texto.

As imagens obtidas pela reportagem são de protestos contra Cleiton Xavier (MDB); Irlan Melo (Republicanos); Neném da Farmácia (Mobiliza); Rudson Paixão (Solidariedade); Tileléo (PP) e Wanderley Porto (PRD).

Além dos nomes citados, outros seis signatários do projeto que decidiram votar contra o texto e o derrubaram em primeiro turno. São eles: Arruda (Republicanos); Diego Sanches (Solidariedade); Michelly Siqueira (PRD); ; Janaína Cardoso (União Brasil); Leonardo Ângelo (Cidadania); e Osvaldo Lopes (Republicanos).

As faixas não são assinadas e nenhum movimento assumiu a autoria dos protestos. Os vereadores citados, contudo, questionam que elas tenham sido confeccionadas por moradores dos bairros que eles representam.

O projeto da tarifa zero começou a tramitar na Câmara Municipal de Belo Horizonte em fevereiro, primeiro mês desta legislatura, e avançou na Casa sob questionamentos nas comissões e críticas da prefeitura.

O texto chegou ao plenário na última sexta-feira (30) com a assinatura de 22 vereadores. Na votação final, ele foi derrotado por 30 a 10. Os parlamentares que mudaram de ideia citaram ter percebido, ao longo da tramitação, que a proposta não era economicamente viável.

O PL 60/2025 determinava a criação de um Fundo Municipal de Melhoria da Qualidade e Subsídio ao Transporte Coletivo (FSTC) e da taxa do Transporte Público (TTP) como forma de financiá-lo.

Na prática, a lei substituiria o pagamento de vale-transporte por empresas sediadas na cidade para estabelecer o pagamento de um valor fixo de R$ 168,82 mensais para cada funcionário de organizações com mais de nove pessoas em seu quadro de trabalhadores.

O montante acumulado com essas medidas, somado aos subsídios do poder público, permitiriam a gratuidade nas passagens, segundo os cálculos apresentados na proposta. O projeto foi inicialmente apresentado na Casa pela vereadora Iza Lourença (PSOL) com apoio técnico do movimento Tarifa Zero.

O que dizem os vereadores citados nas faixas

A Itatiaia procurou todos os seis vereadores citados nos protestos. As respostas dos parlamentares manifestam em uníssono a percepção de que os textos não representam a voz das comunidades onde foram instalados.

O vereador Wanderley Porto atribuiu os protestos a movimentos de esquerda e disse que já identificou os responsáveis pelas faixas. O parlamentar foi alvo de protestos nos bairros Pilar e Jatobá, ambos na Regional Barreiro.

“Esses movimentos de esquerda favoráveis a Tarifa Zero têm promovido ações que não são apenas contra os vereadores, mas contra a própria cidade de Belo Horizonte. Primeiro, ao defenderem um projeto inviável, que afastaria empresas da cidade ao criar uma nova taxa para quem gera empregos, o que inevitavelmente aumentaria o desemprego. Segundo, porque os recursos para bancar o projeto precisariam sair de algum lugar: seria da saúde? Da educação? Agora, com a colocação de faixas espalhadas pela cidade, cometem outro absurdo. Sujam o espaço público, desrespeitam as leis vigentes e ainda tentam impor uma narrativa mentirosa para enganar a população. Já foram identificados um motoqueiro responsável por afixar as faixas e a empresa que as confeccionou”, disse à Itatiaia.

Irlan Melo corroborou o colega da Câmara ao dizer que as faixas não foram instaladas por moradores da região onde foram instaladas. O parlamentar foi alvo de protestos na Região Oeste da capital.

“Eu não sei quais moradores eu traí. até porque quem colocou essa faixa não mora no Betânia e não conhece a realidade do Betânia. Outra coisa é a discussão de mérito em relação a o projeto, que não para em pé, não tem fonte de custeio e infelizmente não conseguiu demonstrar que é viável. Querer fazer graça com chapéu dos outros é muito fácil. Não entendo porque não colocar faixas nas bases eleitorais de quem votou a favor parabenizando os vereadores. Isso na verdade é tudo um plano de querer difamar pessoas com fins eleitorais, mas a gente tá acostumado com isso”, disse o parlamentar.

Corroborando os colegas, Cleiton Xavier defendeu seu voto contrário ao projeto e classificou a tarifa zero como uma medida eleitoreira para favorecer vereadores que pretendem se candidatar nas eleições gerais de 2026.

“Esse é um golpe baixo. Infelizmente, a esquerda trabalha de forma contrária ao Estado Democrático de Direito porque não respeita o voto e a opinião que são prerrogativas do parlamentar. Infelizmente foi um projeto populista eleitoreiro para criar palanque para 2026. Diante da irresponsabilidade com orçamento da cidade é que eu votei contra. O eleitor de Belo Horizonte consciente não cai em narrativas da esquerda”, afirmou.

Rudson Paixão classificou o protesto como um ‘boicote covarde e desleal’. Ele ainda criticou o caráter anônimo da manifestação e disse que os votos contrários ao PL da tarifa zero foi uma manifestação de responsabilidade com o orçamento da cidade.

"É lamentável ver pessoas disseminando desinformação sem sequer ter a hombridade de se identificar, ferindo inclusive o Código de Posturas do nosso município e desrespeitando a lei. Trata-se de uma ação anônima e irresponsável, que busca manchar a imagem de vereadores que agiram com responsabilidade e compromisso ao avaliar, com atenção e seriedade, o Projeto Tarifa Zero. Se o mesmo empenho utilizado para espalhar mentiras fosse direcionado para fazer o bem, nossa cidade certamente estaria muito melhor”, declarou o vereador.

A Itatiaia entrou em contato com Neném da Farmácia e Tileléo e mantém o espaço aberto para manifestações dos parlamentares citados nos protestos.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.