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Fuad ‘privou de parte da saúde pela eleição’, diz médico responsável por tratamento

Dr. Enaldo Melo de Lima revela que prefeito perdeu a lucidez nas últimas semanas; Fuad morreu nesta quarta-feira (26) no Hospital Mater Dei

Fuad Noman, prefeito de BH

O médico responsável pelo tratamento de Fuad Noman, Dr. Enaldo Melo de Lima, da Rede Mater Dei, afirmou que o prefeito de Belo Horizonte, que morreu nesta quarta-feira (26), ‘abriu mão de parte da saúde pela eleição’. Em coletiva, o médico disse que Fuad era um homem realizado, mesmo durante o tratamento do Linfoma não-Hodgkin descoberto durante a campanha.

“Ele buscou a legitimidade como prefeito eleito e conseguiu. No dia do segundo turno, quando venceu a eleição, eu vi sua realização pessoal. Ele se dedicou nos últimos tempos que tinha de vida para concretizar esse objetivo. Não tenho dúvidas de que abriu mão de parte da sua saúde pela campanha e pela eleição, mas era um homem realizado”, disse, citando também a complexidade do tratamento.

“É uma doença extremamente complexa desde o primeiro dia do tratamento. Ele teve o diagnóstico clínico no dia 20 de junho, uma quinta-feira, e imediatamente já foram tomadas as decisões. Ele foi informado de todas as questões que estavam envolvidas no tratamento e nunca deixou de lutar pela saúde, mas sempre em dedicação pela cidade que ele amava, que era Belo Horizonte”, afirmou o médico, revelando que a doença teve origem testicular.

O diagnóstico demorou um pouco porque os sintomas podiam ser confundidos com outros problemas de saúde que Fuad já tinha. Depois que a doença foi descoberta, Fuad fez uma cirurgia para retirar o tumor no dia 22 de junho. No dia seguinte, já estava em casa e, pouco depois, no dia 28 de junho, começou a quimioterapia.

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“Ele nunca deixou de exercer seu mandato de forma digna. Venceu uma campanha extremamente dura com uma galhardia impressionante. Desde o primeiro dia em que recebeu o diagnóstico, conciliou o tratamento com suas funções como prefeito. Saía das sessões semanais de tratamento e seguia para compromissos da campanha ou da gestão municipal. Ele dizia que iria ‘prefeitar’ e cumpriu essa promessa”, ressaltou o médico

Complicações no tratamento

Por causa do tratamento e da própria doença, Fuad Noman começou a ter problemas nos nervos, que afetaram sua movimentação. A partir de dezembro, o prefeito passou a ter dificuldades de locomoção. Fuad também já tinha problemas no coração, que pioraram com o tratamento, chegando a ter arritmias.

“Ele teve que ter assistência respiratória através de traqueostomia, ventilação mecânica, então vai paralisando toda a musculatura. Isso foi gradativo, de novembro em diante. Os piores eventos foram agora no final de fevereiro, agora até agora em meados de março”, disse o Dr. Enaldo, que também citou que o prefeito teve comprometimentos neurológicos.

“A lucidez foi também nesse período final, assim, até final de janeiro, início de fevereiro ele tinha total, assim, consciência, tinha lucidez, e nos últimos exames ele fazia, ele fez vários PETs, que é o exame de avaliação, sempre tinha as informações, que o exame estava ok, estava normal, e ele vibrava muito. No final ele até paralisou, inclusive, ele tinha paralisia facial, tinha ocular e não conseguia nem abrir mais o olho no final, mas isso foi nas últimas semanas”.

Parada cardíaca súbita

Nessa terça-feira (25), Fuad teve uma parada cardíaca e entrou em um quadro chamado choque cardiogênico, onde o coração não conseguia bombear sangue suficiente para o corpo. Além disso, os rins também começaram a não funcionar direito. Dr. Enaldo citou que o agravamento não era esperado pela equipe médica em razão da progressão do quadro de saúde do prefeito.

“Ele teve uma parada cardíaca relativamente súbita, a gente não esperava essa parada cardíaca naquele momento, visto que ele estava com boa oxigenação, as pressões estavam mantidas. E teve uma parada cardíaca, tinha problemas cardíacos. Aliás, ele tinha hemorragia cardíaca”, disse, antes de citar os protocolos de ressuscitação que foram aplicados no prefeito.

“Durante 11 minutos, ele foi submetido a panoramas de ressuscitação, de reanimação. E, depois disso, pelo enfraquecimento do coração e tudo, entrou no que a gente chama de choque cardiogênico, em que o coração não consegue força suficiente para suprir as necessidades do organismo como um todo. Rapidamente, ele precisou de medicamentos, mas com uma resposta muito precária e, progressivamente, pior”.

Prefeito estava esperançoso

Apesar das dificuldades, os médicos relataram que Fuad nunca perdeu a esperança de melhorar. O prefeito chegou a apresentar remissão completa do linfoma, o que foi confirmado por exames como PET-CT. No entanto, a progressão das sequelas neurológicas e cardíacas, secundárias ao tratamento e à própria doença, culminou na morte.

“Ele nunca perdeu a esperança, nunca. Tinha a expectativa que fosse melhorar e que sairia com o resultado, pelo menos, que ele tivesse condições de ter uma condição de vida boa, pelo menos razoável, mesmo quando ele parou de andar, que já foi também mais recentemente. Ele sempre foi animado, nunca desistiu, nem ele nem dona Monica. Fuad foi muito forte, resiliente, muito obstinado pela busca da cura e da melhora das sequelas que o acometeram”

Os médicos esclareceram que, apesar do esforço da campanha, as sequelas que levaram à morte foram principalmente resultado do tratamento agressivo e da natureza da doença, que comprometeu significativamente seu sistema imunológico.

O velório de Fuad Noman será realizado nesta quinta-feira (27), das 13h às 16h, no saguão da Prefeitura de Belo Horizonte. A cerimônia será aberta ao público.

Graduado em jornalismo e pós graduado em Ciência Política. Foi produtor e chefe de redação na Alvorada FM, além de repórter, âncora e apresentador na Bandnews FM. Finalista dos prêmios de jornalismo CDL e Sebrae.
Mineiro de Urucânia, na Zona da Mata. Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Ouro Preto (2024), mesma instituição onde diplomou-se jornalista (2013). Na Itatiaia desde 2016, faz reportagens diversas, com destaque para Política e Cidades. Comanda o PodTudo, programa de debate aos domingos à noite na Itatiaia.