Flavio e Eduardo Bolsonaro defendem que não há crime em plano golpista contra Lula

Filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) minimizaram as prisões de militares suspeitos de planejarem um golpe de Estado no fim de 2022.

O senador Flávio Bolsonaro (esq.) e o deputado Eduardo Bolsonaro (dir.)

Filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Flávio (PL-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) minimizaram as prisões de militares suspeitos de planejarem um golpe de Estado no fim de 2022.

Na manhã desta terça-feira (19), quatro militares do Exército e um agente da Polícia Federal foram presos por terem tramado as mortes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Os filhos “01” e “03” do ex-presidente defenderam a ideia de que não há crime consumado no suposto plano.

“Parece muito mais a criação de uma narrativa para tentar dizer que existe um risco real à democracia quando a gente está vendo que não existe. (…) Parece que é uma demonstração para tentar vender para os líderes que estão aqui no G20 de que o Brasil tem realmente um risco à democracia. Não tem”, disse Eduardo Bolsonaro a jornalistas na Câmara dos Deputados.

“Se eu falar o seguinte: eu vou ali, vou acabar com o fulaninho de tal. Isso é crime? O crime, só existe a tentativa de um crime, quando se inicia a execução. (…) Se ele tivesse começado a atirar, e esfaquear, a explodir alguém, e por circunstâncias alheias à vontade dele, e esse crime tivesse se consumado, a gente teria a tentativa de homicídio”, emendou Eduardo.

O senador Flávio Bolsonaro comentou em uma rede social que, apesar de repugnante, o plano não constitui, de fato, um crime.

Os militares presos nesta terça-feira (19) se reuniram na casa do general Braga Netto para discutir como poderiam matar Lula, Alckmin e Moraes.

Braga Netto foi candidato a vice na chapa do ex-presidente Jair Bolsonaro, que concorreu à reeleição para a Presidência da República. Os dois saíram derrotados da disputa.

O encontro teria acontecido no dia 12 de novembro daquele ano. Em 15 de dezembro, o grupo chegou a se reunir para tentar tirar do papel o plano contra Alexandre de Moraes.

De acordo com a Polícia Federal, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, confirmou a reunião na casa de Braga Netto. O militar tem colaborado em depoimentos nas investigações sobre a suposta trama golpista.

Entre as alternativas para a execução de Moraes, estavam o uso de bomba e possível envenenamento do ministro em público.

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“Há uma citação aos riscos da ação, dizendo que os danos colaterais seriam muito altos, que a chance de “captura” seria alta e que a chance de baixa (termo relacionado a morte no contexto militar) seria alto”, diz relatório da PF.

O documento evidencia que as ações de reconhecimento da rotina de Moraes já estavam em curso. Contudo, elas apresentaram algumas dificuldades em relação ao comboio e aos protocolos de segurança do ministro.

“O contexto de emprego de armamentos extremamente letais, bem como de uso de artefato explosivo ou envenenamento revelam que o grupo investigado trabalhava com a possibilidade de assassinato do ministro Alexandre de Moraes. Tal fato é reforçado pelo tópico denominado ‘Danos colaterais passiveis e aceitáveis’, em que o documento descreve como passível ‘100%’ e aceitável também o percentual de ‘100%’. Ou seja, claramente para os investigados a morte não só do ministro, mas também de toda a equipe de segurança e até mesmo dos militares envolvidos na ação era admissível para cumprimento da missão de ‘neutralizar’ o denominado ‘centro de gravidade’, que seria um fator de obstáculo à consumação do golpe de Estado.”

O documento ainda revela o grau de violência das ações planejadas, que poderiam ocorrer em dezembro de 2022.

O grupo também queria matar o então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o vice, Geraldo Alckmin (PSB).

“Para execução do presidente Lula, o documento descreve, considerando sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais, a possibilidade de utilização de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico”, diz o documento.

Conhecidos como “kids pretos”, os militares integravam as Forças Especiais do Exército. Eles foram presos na operação ‘Contragolpe’, realizada nesta terça-feira (19) pela Polícia Federal. Um agente da própria corporação também foi alvo dos mandados de prisão cumpridos durante a ação.

As prisões ocorreram nas cidades do Rio de Janeiro, Goiás, Amazonas e Distrito Federal. Além disso, também são cumpridos três mandados de busca e apreensão e 15 medidas cautelares diversas da prisão, que incluem a proibição de manter contato com os demais investigados, a proibição de se ausentar do país, com entrega de passaportes no prazo de 24 horas, e a suspensão do exercício de funções públicas.

Os presos são:

  • Tenente-coronel Hélio Ferreira Lima (ex-comandante da 3ª Companhia de Forças Especiais em Manaus);
  • General Mario Fernandes (ex-comandante de Operações Especiais do Exército - ‘kids pretos’. Também foi assessor da presidência durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro);
  • Tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira (integrante das Forças Especiais - ‘kids pretos’);
  • Tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo (integrante das Forças Especiais - ‘kids pretos’);
  • Wladimir Matos Soares (policial federal lotado na Superintendência Regional do Distrito Federal).

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É jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Cearense criado na capital federal, tem passagens pelo Poder360, Metrópoles e O Globo. Em São Paulo, foi trainee de O Estado de S. Paulo, produtor do Jornal da Record, da TV Record, e repórter da Consultor Jurídico. Está na Itatiaia desde novembro de 2023.

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