O acordo de repactuação de Mariana, cidade atingida pelo rompimento da barragem de Fundão em novembro de 2015,
Esta é a versão contada por Mônica dos Santos, que faz parte da Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão, moradora de Bento Rodrigues, em contato com a reportagem da Itatiaia.
“É muito difícil falar de um acordo onde a gente não participou, onde não teve a nossa participação. Então, o que a gente vem ouvindo até hoje é tudo que saiu na mídia. O texto do acordo, por exemplo, a gente ainda não teve acesso. Ele foi assinado hoje, o texto já está até liberado, mas a gente ainda não teve tempo para ler e para analisar e para tirar as nossas conclusões”, contou.
Mônica ainda diz que o acordo, nos termos em que foi fechado, beneficia as mineradoras. “Esse acordo, ele não é para os atingidos. Ele simplesmente beneficia as mineradoras assassinas, os estados, a União e os municípios. Mas, diretamente para o atingido, eu não vejo nenhum benefício”, explica, dizendo que os rejeitos que deverão ser retirados do acordo, por exemplo, beneficiam apenas novas práticas de mineração na região.
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“O rejeito que está depositado nas nossas terras, completando agora nove anos, a sujeira continua lá. A gente não recebe por esse depósito, é um depósito que foi imposto nas nossas terras e que nos impede de usar a terra da forma como a gente usava”.
Parte dos valores irá para a
“A gente precisa da estrada para ir para BH? Precisamos, mas é muito mínimo o nosso uso em relação ao uso das empresas. Então, assim, eu não vejo esse acordo como um benefício e como uma utilidade de reparação para todos os atingidos”.
‘Não fomos ouvidos’
Mônica ainda diz que apenas as empresas foram ouvidas no processo que terminou a repactuação. Para ela, a ausência dos atingidos da mesa de debates cria uma tendência de falha no acordo.
“O que deu errado foi o governo, a União, os Estados se proporem a fazer um novo acordo sem nenhum atingido estar sentado à mesa. Você ouvir quem matou, ouvir quem cometeu o crime? São inversões de papéis que tendem a esse acordo não dar certo. Porque nós não fomos ouvidos. E ouvir a encenação, o circo que foi essa assinatura do acordo, e ouvir as falas tratando como acidente, tratando como fatalidade, não foi. Não foi fatalidade, foi um crime”.
A representante dos atingidos também diz não acreditar na prometida recuperação do Rio Doce. “Falar que o Rio Doce vai ser recuperado e vai ficar melhor do que antes do rompimento? Poupe-me. É achar a gente com cara de idiota e com cara de palhaço”.
Duplicação pode trazer benefícios
A duplicação da BR-356 pode ser benéfica, no entanto, para quem passa pela região com frequência. É o caso do Fernando de Castro, motorista e mecânico de elevador, que usa a via com frequência para realizar serviços na cidade. Ele acredita que a estrada pode ser melhorada, desde que as promessas sejam cumpridas.
“A gente não sabe o que pode acontecer amanhã, mas tudo que vem é alguma benfeitoria para o nosso acesso. Então, se vier, que seja bem-vindo esse dinheiro que vai proporcionar para a gente aqui no trecho. A gente direto vê acidentes, colisões de veículos aqui na estrada, veículos parados, não tem acostamento nem nada, então esse dinheiro vindo vai ser uma benfeitoria, caso venha mesmo a acontecer”.