Ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior disse em depoimento que o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha, colocou suas tropas à disposição Jair Bolsonaro (PL) no planejamento de golpe de Estado em 2022 para manter o ex-presidente no poder.
Tal posicionamento da Marinha, segundo Baptista Junior, foi dissonante das demais forças. De acordo com o tenente-brigadeiro, tanto ele quanto o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, tentavam convencer Bolsonaro a não usar os institutos (GLO, Estado de Defesa ou Estado de Sítio). Em uma das ocasiões, segundo Baptista Junior, Freire Gomes teria ameaçado Bolsonaro de prisão.
Questionado, o ex-comandante da FAB declarou ainda que nas reuniões Bolsonaro apresentava a hipótese de utilização da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e outros possíveis institutos jurídicos, como a decretação do Estado de Defesa para solucionar o que o ex-presidente apontava como uma “crise institucional”.
Após o segundo turno da eleição presidencial de 2022, Bolsonaro convocou os comandantes das Forças Armadas para algumas reuniões. Em uma delas, em 14 de novembro de 2022, o ex-presidente apresentou um estudo sobre votos do Instituto Voto Legal (IVL) – que havia sido contratado pelo Partido Liberal (PL). Segundo Baptista Junior, a pesquisa não tinha embasamento técnico. “O texto era basicamente um sofisma”, disse o militar.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou, nesta sexta-feira (15), o sigilo dos depoimentos de envolvidos no inquérito que apura a suposta tentativa de golpe de Estado para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder. São 27 oitivas, incluindo militares e civis.
- Carlos de Almeida Baptista Junior, tenente-brigadeiro do Ar e comandante da Força Aérea Brasileira (FAB) no Governo Bolsonaro;
- Marco Antonio Freire Gomes, general e comandante do Exército Brasileiro entre março e dezembro de 2022;
- Ailton Gonçalves Moraes Barros, capitão reformado do Exército;
- Almir Garnier Santos, almirante e comandante da Marinha brasileira entre 2021 e 2022;
- Amauri Feres Saad, advogado apontado como autor da minuta do golpe entregue a Jair Bolsonaro;
- Anderson Gustavo Torres, ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, delegado da Polícia Federal e ex-secretário de Segurança Pública do DF;
- Angelo Martins Denicoli, major da reserva do Exército alvo de operação da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe; demitido da Prodesp, em São Paulo, após vazamento do escândalo;
- Augusto Heleno Ribeiro Pereira, general da reserva do Exército Brasileiro e ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Bolsonaro;
- Bernardo Romão Correa Netto, coronel dos Kids Pretos do Exército, também preso na operação sobre a tentativa de golpe de Estado;
- Walter Souza Braga Netto, tenente-brigadeiro do ar, comandou a Força Aérea Brasileira, filiado ao Partido Liberal, foi ministro-chefe da Casa Civil e ministro da Defesa durante o Governo Bolsonaro; concorreu à vice-presidência na chapa de Bolsonaro derrotada em 2022;
- Cleverson Ney Magalhães, comandante e oficial do Comando de Operações Terrestres dante o Governo Bolsonaro; investigado por participação na trama do golpe de Estado;
- Eder Lindsay Magalhães Balbino, dono de empresa de tecnologia da informação sediada em Uberlândia que teria apoiado o PL na elaboração de um estudo que contestava a segurança das urnas após o segundo turno; apelidado de ‘gênio de Uberlândia';
- Estevam Cals Teophilo Gaspar de Oliveira, general e chefe do Comando de Operações Terrestres durante o governo Jair Bolsonaro; teria preparado plano para cumprir ordens após decreto golpista com intervenção no TSE e prisão de ministros;
- Filipe Garcia Martins Pereira, assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República no Governo Bolsonaro;
- Guilherme Marques de Almeida, tenente-coronel do Exército e líder do Batalhão de Operações Psicológicas do Exército, em Goiânia;
- Helio Ferreira Lima, tenente-coronel e comandante da 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus, exonerado após operação da Polícia Federal | Companhia é considerada a unidade de elite do Exército Brasileiro na Amazônia;
- Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente da República;
- José Eduardo de Oliveira e Silva, pároco que teria participado de reunião para tratar de plano golpista, segundo a Polícia Federal;
- Laércio Vergílio: coronel reformado do Exército Brasileiro, também alvo da operação da Polícia Federal;
- Marcelo Costa Câmara, coronel da reserva do Exército e assessor especial de Jair Bolsonaro durante a presidência; está preso preventivamente desde a operação da Polícia Federal;
- Mario Fernandes, ex-ministro substituto da Secretaria-Geral da Presidência;
- Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ministro da Defesa de Jair Bolsonaro;
- Rafael Martins de Oliveira, tenente-coronel do Exército e integrante das Forças Especiais, grupo de elite do Exército no Brasil; também alvo da operação da Polícia Federal;
- Ronald Ferreira de Araújo Júnior, tenente-coronel do Exército suspeito de atuar na elaboração da minuta do golpe;
- Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros, tenente-coronel do Exército; também alvo da operação da Polícia Federal por disseminação de informações falsas e ataques ao sistema eleitoral; segundo a PF, integrava o ‘Núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral’ do grupo golpista;
- Tércio Arnaud Tomaz, assessor especial de Jair Bolsonaro, administrou as redes do político durante a eleição de 2018 e atuou no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro, no Rio de Janeiro;
- Waldemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL);