Uma das herdeiras da fazenda em Lagoa Santa, na região metropolitana de Belo Horizonte, invadida por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), afirma que sua família não é latifundiária e lamenta ter tido seu terreno ocupado pelo movimento. A fala emocionada foi dita nesta segunda-feira (11), durante uma visita técnica feita pelo juiz Luiz Felipe Sampaio Aranha, da Vara Agrária de Minas Gerais e de Acidente do Trabalho de Belo Horizonte.
A visita foi acompanhada por advogados do MST e dos herdeiros da Fazenda Aroeiras, além de um parlamentar de Lagoa Santa. Em entrevista à Itatiaia, uma das donas do terreno, Patrícia Bartolomeu,
‘Me emociono por ver as pessoas lá, ocupando um espaço e falando coisas que não são verdade. A gente tá na fazenda toda hora e ver ela ocupada daquela maneira é muito difícil. Meu pai ficou lá até o dia em que ele morreu. As pessoas estão lá desvalorizando as poucas coisas que a gente pode manter. Não somos latifundiários. A gente consegue manter a fazenda do jeito que dá. Não significa que ela está abandonada ou que não temos a posse dela’.
Letícia Santos, advogada que representa o MST, afirma que a fazenda é improdutiva e alega que os proprietários não comprovaram, até o momento, que possuem a posse do terreno, que, para ela, está abandonado. Ao ser questionada se os invasores são de Lagoa Santa ou de outros estados, ela afirmou que não verificou de onde eles vieram, mas que eles são ‘da Grande BH como um todo’.
Incra tem interesse na fazenda
Neila Maria Batista, superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Minas Gerais, afirma que o órgão está buscando informações sobre o terreno e diz que o Incra tem interesse em adquirir o terreno.
‘Interessa ao Incra de Minas ampliar as áreas de reforma agrária. Se tivermos condições de vistoriar, ele pode nos interessar para o processo de assentamento das famílias. Um assentamento diferenciado que, por estar perto da área urbana, será focado em hortifrutigranjeiro. Vamos buscar o diálogo com a família para ver o interesse na aquisição do imóvel’.
A Justiça marcou para a manhã de quarta-feira (13) a
Ocupação em fazenda na Grande BH
Na madrugada de sexta-feira (8),
O governador Romeu Zema citou as dificuldades enfrentadas pelos produtores rurais e afirmou, de forma irônica, que os produtores terão que filmar suas atividades a partir de agora para comprovar suas atividades.
“Ser produtor rural no Brasil não é fácil. Eu queria citar o caso do produtor de leite, cujo valor tem caído nos últimos meses de maneira constante e estamos assistindo uma importação crescente. Além dessa dificuldade, que praticamente inviabiliza o seu negócio, agora estamos tendo uma preocupação extra: invasão de propriedade privada produtiva aqui em Minas. O produtor de leite, além de todo esse problema do preço, agora precisa provar e filmar que ele está produzindo. Caso contrário, a Justiça leva mais em consideração a opinião dos invasores. Realmente não está fácil. Então, quero pedir a todo produtor rural que filme o que você faz, você arando a terra, você tirando o leite na sua propriedade”, afirmou Zema.
“Nós estamos com o menor índice de desemprego aqui em Minas Gerais dos últimos 10 ou 15 anos, ou seja, quem quer trabalhar tem lugar para trabalhar. Agora, quem gosta de invadir terra, a história é outra, para ele não tem trabalho bom, a não ser estar onde já tem alguma outra pessoa trabalhando, perturbando quem alimenta o mundo e quem faz um belo trabalho”, disse o governador.
Resposta do MST
Em nota divulgada na noite deste domingo (10), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST/MG) acusou Zema de ‘atacar as famílias sem terra e mentir para a população’. O movimento lembra que o judiciário indeferiu a reintegração de posse da fazenda, ‘que está abandonada há quase uma década. O MST afirma que não ocupa terras produtivas’.
O movimento critica a fala do governador. “O governador ignora que não é necessário registro de vídeo e foto quando existem instrumentos para comprovar a produtividade de um terreno, o que não é o caso. Nenhum desses instrumentos foi juntado pelos autores do pedido de reintegração, pois não existem. A decisão do judiciário afirma que os supostos herdeiros não conseguiram comprovar a produtividade da fazenda”, aponta o MST.
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