A operação da Polícia Federal (PF) contra o vereador Carlos Bolsonaro nesta segunda-feira (29) ocorre no âmbito da investigação sobre a Abin paralela. O inquérito instalado pela corporação analisa o uso de um programa espião da Agência Brasileira de Investigação (Abin) para espionar ilegalmente autoridades, jornalistas e adversários políticos de Jair Bolsonaro (PL), à época presidente da República. Segundo relatórios preliminares da Polícia Federal, servidores da agência monitoraram milhares de pessoas durante a gestão de Alexandre Ramagem — hoje deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro — na direção da Abin.
O uso da máquina pública para atender interesses pessoais através da Abin paralela teria ocorrido em conluio com o vereador e filho de Jair Bolsonaro, Carlos Bolsonaro. Ele é apontado como parte do núcleo político da Abin paralela. Outro alvo recente da PF no âmbito dessa investigação foi Alexandre Ramagem, que sofreu busca e apreensão na quinta-feira passada (25). Na data, surgiram outros detalhes sobre a atuação dessa agência paralela: segundo relatório da PF, a Abin teria sido usada para municiar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o caçula do ex-presidente, Jair Renan Bolsonaro, com informações para tirá-los da mira de investigações.
Programa espião. O software israelense FirstMile adquirido pelo Governo Federal e usado por servidores da Abin para, segundo a PF, monitorar adversários políticos de Jair Bolsonaro pode indicar a localização aproximada dos alvos por meio de celulares e outros dispositivos móveis. O programa pode rastrear a localização de até 10 mil celulares a cada 12 meses.
A operação acontecia sem a permissão judicial necessária para monitorar os celulares das vítimas. Há indícios de que entre os espionados estão Rodrigo Maia, então presidente da Câmara dos Deputados, Joice Hasselmann, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e o então governador do Ceará Camilo Santana — hoje ministro da Educação.
Bebianno. Ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, afirmou em entrevista ao programa Roda Viva, em março de 2020, que Carlos Bolsonaro estava interessado em arquitetar uma Abin paralela — foi, aliás, a primeira vez que o termo apareceu. “Um belo dia, o Carlos me aparece com o nome de um delegado federal e de três agentes que seriam uma Abin paralela, porque ele não confiava na Abin. O general Heleno [ministro do Gabinete de Segurança Institucional, GSI, de Jair Bolsonaro] foi chamado, ficou preocupado com aquilo. Mas, o general Heleno não é de confronto. A conversa acabou comigo e com o Santos Cruz [à época ministro da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro]. Aconselhamos ao presidente que não fizesse aquilo. Aquilo também seria motivo para impeachment. Depois eu saí. Não sei se foi instalado ou não”, disse Bebianno.
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