Os atos antidemocráticos de
O dia de votação foi marcado por operações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) por supostas irregularidades em transporte público de eleitores. Tal situação levou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a determinar que o então diretor da corporação,
Em seguida, inconformados com o resultado da disputa, caminhoneiros e outros apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) bloquearam estradas em diferentes regiões do país — movimento que persistiu por alguns dias. Em paralelo a isso, diversos grupos acamparam em frente a quartéis do Exército na tentativa de comover os militares em favor de suas demandas.
Em 12 de dezembro houve a diplomação de Lula como novo presidente da República. Enquanto a cerimônia acontecia no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), bolsonaristas protestavam na região central de Brasília, já com cenas de depredações — inclusive, do prédio da Polícia Federal.
Já na véspera do Natal, houve uma tentativa de explosão de um caminhão-tanque nos arredores do Aeroporto de Brasília — os três envolvidos no caso já foram condenados pela Justiça do Distrito Federal.
A Itatiaia lembra, abaixo, os cinco episódios que esquentaram as turbinas dos atos antidemocráticos:
Operações da PRF. Durante o dia de votação do segundo turno, a Polícia Rodoviária Federal realizou uma série de operações para supostamente coibir transporte clandestino de eleitores. Dessa forma, a PRF interrompeu o acesso de vários ônibus, por exemplo, aos locais de votação. Foram mais de 500 ações que se concentraram, principalmente, na região Nordeste, onde o então candidato Lula tinha ampla frente de vantagem.
Essa movimentação fez com que o ministro Alexandre de Moraes determinasse que o então diretor da corporação, Silvinei Vasques, interrompesse “imediatamente” as operações. O presidente do TSE estabeleceu que, em caso de descumprimento, Silvinei poderia ser multado em R$ 100 mil, afastado das funções e até preso por desobediência e crime eleitoral.
Em agosto de 2023, ele foi preso pela Polícia Federal (PF) pelas ordens da operação. Até o momento, ele segue preso.
Bloqueios de estradas. Após o anúncio da vitória de Lula, uma série de bloqueios aconteceu entre 30 de outubro e 4 de novembro de 2022. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), foram ao menos 975 pontos de interdição em todo o país.
O caso precisou, inclusive, da intervenção do Supremo Tribunal Federal (STF). A pedido da Confederação Nacional do Transporte (CNT), o ministro Alexandre de Moraes determinou que a PRF e as Polícias Militares estaduais atuassem, dentro de suas atribuições, para desobstruir imediatamente as rodovias.
O ministro determinou a aplicação de multas de R$ 100 mil aos donos dos caminhões usados nos bloqueios. Em paralelo a isso, a PRF aplicou 6.200 multas comuns do Código de Trânsito.
O ex-presidente Bolsonaro se manifestou três dias após o início dos bloqueios. “Brasileiros que estão protestando em todo Brasil, sei que estão chateados, estão tristes. Eu também esperava outra coisa e eu também estou tão chateado e tão triste quanto vocês. Mas, precisamos colocar a cabeça no lugar. Os protestos, as manifestações são muito bem-vindas e fazem parte do jogo democrático. E ao longo dos anos muito disso foi feito pelo Brasil, pela Esplanada, pela Paulista, Copacabana, mas tem algo que não é legal. O fechamento de rodovias pelo Brasil prejudica o direito de ir e vir das pessoas”, afirmou.
Como resultado, 49 pessoas foram presas pelos bloqueios.
Quartéis. Em paralelo aos bloqueios das estradas, grupos bolsonaristas também se mobilizaram em acampamentos em frente a quartéis do Exército em todo o país. Em Brasília, eles se concentraram em frente ao Quartel-General por quase três meses.
Por lá, os pedidos de intervenção das Forças Armadas para anular a eleição e impedir a posse de Lula eram a rotina. A concentração, mesmo com pedidos inconstitucionais, não foi impedida até 9 de janeiro, quando foi desmobilizada após os atos do ano anterior.
De acordo com as autoridades policiais, o “QG” tem ligação direta aos dois atos violentos pré-8 de janeiro: a noite de vandalismos em 12 de dezembro e a tentativa de explosão de um caminhão próximo ao Aeroporto de Brasília.
Manifestação teve registro de ônibus incendiado
12 de dezembro. O clima antidemocrático esquentou no dia da diplomação de Lula como vencedor da eleição. O primeiro grande ato de vandalismo fez Brasília parar. Oito veículos foram depredados e incendiados. A sede da Polícia Federal quase foi invadida. Uma delegacia de polícia foi atacada. Apesar disso, ninguém foi preso.
O vandalismo começou em frente à Polícia Federal por volta das 19h30. O movimento começou após José Acácio Tserere Xavante, apoiador de Bolsonaro, ser preso por determinação do STF atendendo a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). O indígena era investigado por participação em outros atos antidemocráticos.
Depois da PF, os manifestantes seguiram pela Asa Norte de Brasília. Um ônibus foi incendiado e botijões de gás espalhados por algumas ruas da região.
Parte do grupo seguiu pela Asa Norte, onde realizou novos atos de vandalismo. Pelo menos um ônibus foi incendiado; botijões de gás foram espalhados em ruas da cidade. A PM foi acionada. Os militares usaram bombas de gás e balas de borracha em confronto com os manifestantes. Naquele dia, Lula estava hospedado em um hotel próximo.
Explosivo foi removido e detonado em um local seguro
Explosivo. A manhã da véspera do Natal de 2022 foi marcada pela tentativa de explosão de um caminhão próximo ao Aeroporto de Brasília. A PM foi acionada pelo motorista do veículo que percebeu um artefato estranho instalado no veículo. O esquadrão de bombas do Batalhão de Operações Especiais (Bope) identificou que o artefato se tratava de um explosivo, que foi removido e detonado em um local seguro.
Durante a noite, o empresário George Washington de Oliveira Sousa foi preso pela montagem do explosivo. Frequentador do acampamento bolsonarista em frente ao QG do Exército, ele foi indiciado por terrorismo. A explosão seria um caminho para iniciar o “caos”, conforme depoimento dele. O objetivo seria a decretação de um estado de sítio no país.
Além de George, outros dois homens foram presos e condenados pela tentativa de atentado: Wellington Macedo de Souza e Alan Diego dos Santos Rodrigues. O trio está preso na Penitenciária da Papuda, em Brasília.
Em maio de 2023, George foi condenado a nove anos e quatro meses de prisão e Alan a cinco anos e quatro meses. Em agosto, Wellington Macedo de Souza foi condenado a seis anos de prisão em regime fechado. Em novembro, a Advocacia-Geral da União (AGU) cobrou R$ 15 milhões dos acusados por risco à vida e ao patrimônio de terceiros, além da tentativa de causar comoção social para justificar a decretação da intervenção militar.