Servidores da ANM suspendem greve, mas não descartam novas paralisações

Funcionários da Agência Nacional de Mineração dizem fazer ‘gesto de boa vontade’ para aguardar proposta do governo Lula

Greve de servidores da ANM durou mais de 50 dias

Após mais de 50 dias, servidores da Agência Nacional de Mineração (ANM) suspendem greve da categoria à espera de nova proposta do governo Lula para resolver o cenário de “sucateamento” da entidade - responsável por fiscalizar mais de 900 barragens em todo o país. Segundo os servidores, a Agência está com o menor número de funcionários dos últimos 50 anos.

Na prática, se todos os servidores estiverem trabalhando normalmente, a ANM estaria funcionando com apenas 30% da capacidade total. Atualmente, a Agência conta com 664 servidores - destes, apenas 180 são fiscais. O órgão tem 70% de cargos vagos, o que corresponde a 1.457 postos de trabalho.

Por isso, além de exigir uma reestruturação da Agência, os servidores cobram do Ministério de Minas e Energia, responsável pela pasta, a realização de concurso público para preencher as vagas existentes.

O Diretor de Relações Institucionais da Associação de Servidores da ANM, Ricardo Peçanha, afirmou que a paralisação foi encerrada para aguardar uma nova proposta do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI).

“A greve encerrou-se como um gesto de boa vontade dos servidores em negociar com o MGI. A gente poderia negociar em novas bases, sem pressões, mas queremos que venha uma proposta que seja condizente com a situação. Vamos ver como se dará essa negociação”, afirma.

De acordo com Peçanha, apesar da suspensão da greve, os servidores aprovaram “estado de greve”.

“Isso quer dizer o seguinte: que a qualquer momento a gente pode retomar a greve. Então, estamos esperando e dando um crédito para a gente fazer uma boa negociação”, completa.

Além dos servidores, a pressão também é grande por parte de prefeitos de cidades mineradoras para que a Agência seja reestruturada. Isso porque, entre as atribuições da ANM, está fiscalização dos valores declarados da CFEM, nome dado a contrapartida financeira paga pelas empresas mineradoras à união, aos estados, e municípios pela utilização econômica dos recursos minerais nos respectivos territórios.

Atribuindo o problema principalmente à greve que ocorreu na ANM, municípios mineradores estão com duas parcelas atrasadas da CFEM.

Se a situação não for regularizada até o fim deste mês, a dívida do Governo Lula com as cidades irá atingir quase 1,5 bilhão de reais.

Os servidores da ANM querem ter salários, a mesma estrutura e os mesmos benefícios de servidores de agências como ANP, Agência Nacional do Petróleo, e ANTT, Agência Nacional de Transportes Terrestres. Os profissionais se sentem desprestigiados em relação aos colegas de outras agências.

Em entrevista à Itatiaia, o diretor geral da ANM, Mauro Henrique Moreira Souza, reconheceu os problemas e destacou a diferença de orçamento para as outras agências.

“A nossa agência é a segunda em arrecadação, só perde para a ANP [Agência Nacional do Petróleo], mas o orçamento da ANTT, a Agência Nacional de Transportes Terrestres somente para a área de Tecnologia da Informação [TI] tem orçamento de R$ 90 milhões, mas a ANM só tem R$ 12 milhões”, compara.

A ANM é subordinada ao Ministério de Minas e Energia, comandado pelo ministro Alexandre Silveira (PSD). Silveira prometeu investir na ANM e colocá-la em pé de igualdade com outras agências reguladoras, destinando um maior orçamento para área, realizando concurso público e criando cargos comissionados para resolver os atuais problemas enfrentados pela agência.

A Itatiaia apurou com fontes na Associação dos Municípios Mineradores (AMIG) e no próprio ministério que ao menos uma das parcelas atrasadas da CFEM deve ser paga até o fim desta semana. Há possibilidade que a parcela de julho, correspondente a quase R$ 500 milhões, seja paga até esta quarta-feira (4).

O Ministério de Minas e Energia (MME) disse estar trabalhando para pagar as parcelas atrasadas até o fim do mês. Se os repasses não forem regularizados, a dívida com os municípios irá a R$ 1,5 bilhão.

Correspondente da Rádio Itatiaia em São Paulo. Ingressou na emissora em 2023. Começou no rádio comunitário aos 14 anos. Graduou-se em jornalismo pela PUC Minas. No rádio, teve passagens pela Alvorada FM, BandNews FM e CBN, no Grupo Globo. Na Band, ocupou vários cargos até chegar às funções de âncora e coordenador de redação na Band News FM BH. Na televisão, participava diariamente da TV Band Minas e do Band News TV. Em 2023, foi reconhecido como um dos 30 jornalistas mais premiados do Brasil.

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