O relator da CPI do MST e deputado Ricardo Salles (PL-SP) acusou o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, de mentir ou ser incompetente em relação às invasões às terras públicas e privadas nos primeiros meses do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O militar depôs à comissão na Câmara dos Deputados nesta terça-feira (1º) em sessão que se estendeu por mais de cinco horas e negou ter recebido relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sobre ameaças do MST. À época, a gestão do órgão pertencia ao GSI; desde março, a Abin cabe à Casa Civil.
“O ministério do senhor não era um ministério de pintura de porcelana ou um ministério de andar de bicicleta. Seu ministério [Gabinete de Segurança Institucional] não saber sobre o risco de invasões… Ou o senhor está mentindo, ou o senhor é absolutamente incompetente”, acusou Salles. Em contrapartida, o general Gonçalves Dias insistiu que não recebeu nenhum relatório da Abin sobre as atividades do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Eu realmente não recebi nenhuma documentação ou relatório da Inteligência [Abin] relativo à invasão de terras”, disse. “Também não tratei nada disso com o presidente Lula porque não tinha conhecimento. Se eu tivesse conhecimento, levaria ao presidente Lula, claro. É uma resposta lógica”, acrescentou.
O depoimento do ex-ministro Gonçalves Dias não rendeu conclusões para além — aliás, o general repetiu um sem-número de vezes não ter tido acesso a relatórios da Abin sobre invasões do MST. Entretanto, a sessão se estendeu em decorrência dos bate-bocas entre parlamentares de oposição e situação. Logo no início, o
A polêmica se estendeu após pedidos de questões de ordem dos deputados da situação. “Essa pergunta é fora do objeto da CPI”, disparou a deputada Gleisi Hoffmann (PT-SP). Salles insistiu na questão, o que gerou gritaria na sessão. Depois, o relator assumiu mais uma confusão para si ao alegar que o ex-ministro teria colado nas provas finais da academia militar entre as décadas de 1960 e 1970.
Ministro de Lula é convocado pela CPI do MST
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Vice-líder da maioria na Casa, a deputada Gleisi Hoffmann (PT-SP) classificou a comissão como “CPI do Fim do Mundo”, criticou a convocação de Rui Costa e declarou não haver justificativa legal para obrigá-lo a comparecer à Câmara. “Não tem lógica que o ministro venha a uma CPI sem objeto. Virou a CPI do Fim do Mundo. É uma tragédia. Queremos que tenha minimamente legalidade nos atos dessa CPI, que nasceu para criminalizar um movimento social”, disse.
À contramão, Ricardo Salles indicou que obrigar o ministro Rui Costa a vir à CPI responder às perguntas dos parlamentares é explicável pelo fato da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) estar sob o guarda-chuva da Casa Civil e deveria ter evitado as invasões ocorridas em abril passado. “Convocamos Gonçalves Dias, ministro do GSI [Gabinete de Segurança Institucional], que cuidava da Abin entre janeiro e março. Agora, devemos convocar o ministro responsável desde abril. Portanto, é a mesma lógica: se convocamos o então chefe do GSI para explicar o que foi feito para evitar invasões, devemos convocar quem assumiu a Abin desde abril”, detalhou.
Deputados comeram melancia durante CPI do MST
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Imagens da TV Câmara registraram quando os deputados comiam os pedaços de melancia. Vice-líder da maioria na CPI do MST, Gleisi Hoffmann (PT-SP) criticou os colegas parlamentares e indicou que a prática era um ataque direto ao general. “Os dois mostrando melancia para desrespeitar o general”, disparou a deputada ao solicitar uma questão de ordem. A petista chegou a dizer que o ex-ministro do GSI era alvo de assédio da oposição durante o depoimento.
Por que Gonçalves Dias foi ouvido na CPI do MST?
Ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias foi ouvido nesta terça-feira (1º) sobre as invasões registradas durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos três primeiros meses deste ano. À época, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) estava sob o guarda-chuva do GSI para monitorar riscos de invasões em áreas públicas; desde abril, entretanto, a agência integra a Casa Civil do Palácio do Planalto.