O depoimento do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias na CPI do MST nesta terça-feira (1º) começou com bate-boca entre parlamentares da Câmara dos Deputados. As reações efusivas e discussões entre os políticos se iniciaram logo após a primeira pergunta feita pelo relator e ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (PL-SP), que perguntou se Gonçalves Dias concordava ou não com as ações do Exército Militar no Golpe de 1964. O questionamento foi feito pelo menos três vezes — com duas respostas do ex-ministro do GSI e incontáveis interrupções e questões de ordem.
“O episódio de 1964 foi algo positivo ou negativo para a história do país?”, perguntou. “Eu não parei para raciocinar em cima disso. O que me impulsionou a seguir no Exército foi minha vocação para ser soldado e uma necessidade financeira da minha família. Entrar no Exército nessa situação [golpe de 1964], se foi bom ou não... Eu não gostaria de entrar nessa seara”, disparou o ex-ministro Gonçalves Dias. Logo em seguida, o general reiterou que não gostaria de se posicionar e usou o direito ao silêncio garantido por habeas corpus.
Ricardo Salles bateu-boca com deputados que seguiam a sessão e o criticaram depois que ele valorizou o golpe militar de 1964. A principal acusação dos deputados contra o relator dizia respeito ao fato de que a pergunta feita não está no escopo da CPI que investiga as invasões promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) nos três primeiros meses do governo Lula (PT).
A confusão não acabou após as perguntas repetidas do relator Ricardo Salles. Logo em seguida, o parlamentar eleito pelo PL de São Paulo declarou que o ex-ministro ‘colou’ na prova final da academia militar. Neste instante, o advogado de Gonçalves Dias interrompeu a audiência e afirmou que o general se reservaria ao direito de permanecer em silêncio.
Após o bate-boca, o autor do relatório declarou que as perguntas eram feitas com o intuito de “situar a opinião político-ideológica” de Gonçalves Dias e chegou a dizer que o general constrangia os colegas militares ao evitar responder sobre o golpe de 1964.
CPI do MST aprova convocação de ministro de Lula
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) desde o início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aprovou por 14 votos a 10 a convocação do ministro Rui Costa (PT) da Casa Civil. A aprovação é fruto de uma ofensiva da oposição contra o governo Lula e parlamentares da situação na Câmara dos Deputados. O pedido para obrigar o ministro a ir à CPI do MST é de autoria do relator da comissão, o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL-SP).
Vice-líder da maioria na Casa, a deputada Gleisi Hoffmann (PT-SP) classificou a comissão como “CPI do Fim do Mundo”, criticou a convocação de Rui Costa e declarou não haver justificativa legal para obrigá-lo a comparecer à Câmara. “Não tem lógica que o ministro venha a uma CPI sem objeto. Virou a CPI do Fim do Mundo. É uma tragédia. Queremos que tenha minimamente legalidade nos atos dessa CPI, que nasceu para criminalizar um movimento social”, disse.
À contramão, Ricardo Salles indicou que obrigar o ministro Rui Costa a vir à CPI responder às perguntas dos parlamentares é explicável pelo fato da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) estar sob o guarda-chuva da Casa Civil e deveria ter evitado as invasões ocorridas em abril passado. “Convocamos Gonçalves Dias, ministro do GSI [Gabinete de Segurança Institucional], que cuidava da Abin entre janeiro e março. Agora, devemos convocar o ministro responsável desde abril. Portanto, é a mesma lógica: se convocamos o então chefe do GSI para explicar o que foi feito para evitar invasões, devemos convocar quem assumiu a Abin desde abril”, detalhou.